São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOCORRO A BANCOS

Inquérito da PF apontaria vazamento de informações do BC

Procuradoria vai ampliar denúncias no caso Marka

DA SUCURSAL DO RIO

O Ministério Público Federal prepara novas denúncias contra outros supostos beneficiados por um esquema de venda de informação privilegiada que o economista Francisco Lopes teria montado quando estava à frente do Banco Central, durante a desvalorização do real em janeiro de 1999.
"Esperamos a conclusão de inquérito sigiloso da Polícia Federal, em andamento, para entrar com novas denúncias", afirmou o procurador da República Artur Gueiros, um dos responsáveis pela denúncia, em junho passado, contra 13 acusados de envolvimento na operação de ajuda do BC aos bancos Marka e FonteCindam.
Gueiros disse que não ficou surpreso com a reportagem publicada pela revista "Veja", segundo a qual o banqueiro Salvatore Cacciola, ex-dono do Marka, chantageou Lopes com gravações telefônicas que provariam que o ex-presidente do BC passava informações privilegiadas, que eram vendidas no mercado pelo economista Rubem de Freitas Novaes.
"Tínhamos todas essas suspeitas que, por falta de provas, não entraram na denúncia", explicou Gueiros. Os procuradores desconfiavam do suposto esquema de chantagem encabeçado por Cacciola, mas ainda não sabem do paradeiro das fitas.
"Espero que o Cacciola as traga para o Brasil. É mais um motivo para o governo se empenhar em sua extradição", disse Gueiros. "Achamos que o Cacciola foi fazendo o grampo para garantir que não seria traído." O banqueiro, que chegou a ser preso em junho passado, está foragido na Itália.
De acordo com "Veja", Cacciola ameaçou revelar o esquema caso não fosse ajudado pelo Banco Central durante a desvalorização do real. O BC acabou vendendo dólares ao Marka e ao banco FonteCindam por valor abaixo da cotação do mercado e teve um prejuízo calculado em R$ 1,6 bilhão.
O banqueiro guardaria, num cofre no Brasil e num banco no exterior, cópias da gravação.
Segundo "Veja", Lopes passava informações sobre juros e câmbio para seu compadre, Luiz Augusto Bragança, irmão de Sérgio Bragança, sócio do ex-presidente do BC na empresa de consultoria Macrométrica. Bragança as repassava a Rubem Novaes, que faria contato com os clientes do vazamento, entre eles o próprio Cacciola e o banqueiro André Esteves, do banco Pontual, do Rio.
Lopes, Cacciola e Bragança estão sendo julgados pela Justiça Federal no Rio pela operação de ajuda aos bancos. Lopes responde às acusações de prevaricação, peculato e corrupção passiva.
Entre os réus do caso está também a atual diretora de Fiscalização do Banco Central Tereza Cristina Grossi Togni. Todos afirmam que a ajuda ao Marka e ao FonteCindam foi dada para evitar a liquidação dos bancos e uma "crise sistêmica" que abalaria todo o sistema financeiro.
Em outro processo, relativo a um bilhete encontrado em sua casa, que mencionava conta no exterior de US$ 1,675 milhão, Lopes está sendo julgado sob a acusação de evasão de divisas.
A Folha tentou ouvir ontem Sérgio Bragança, Luiz Augusto Bragança e Rubem Novaes, mas não obteve sucesso. O advogado José Carlos Fragoso (de Salvatore Cacciola) também não respondeu os recados deixados pela Folha.
Carlos Kenisgberg, advogado de Temílson de Resende, o Telmo, citado por "Veja" como o responsável pelo grampo que resultou nas fitas em poder de Cacciola, negou que ele tenha realizado a operação.
Telmo, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência, órgão de governo federal), está sendo julgado no Rio sob a acusação de envolvimento no grampo do BNDES, durante a privatização da Telebrás, em 1998.
"Qualquer notícia que surja hoje, a culpa é do Telmo. Ele é responsável também pelos apagões. Só posso levar isso na mais perfeita gozação", disse o advogado.


Texto Anterior: Não-chamados podem fazer nova inscrição
Próximo Texto: Lopes nega o suposto esquema
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.