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INVESTIGAÇÃO
Roberto Haddad, do TRF-SP, e sua mulher são acusados de acréscimo patrimonial de R$ 1,3 milhão com renda não-declarada
Receita desmonta sistema de fraude de IR
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A Receita Federal desmontou,
em São Paulo, um esquema de falsificação de registros de entrega
de declarações do Imposto de
Renda que permitia alterar datas
para impedir a comprovação de
casos suspeitos de sonegação.
A fraude foi identificada na investigação sobre os rendimentos
do desembargador Roberto Haddad, presidente da 1ª Turma do
TRF-SP (Tribunal Regional Federal). Haddad foi denunciado no
ano passado por falsificação de
documentos da Receita Federal e
está sendo investigado no STJ
(Superior Tribunal de Justiça) por
suspeita de enriquecimento ilícito
(a denúncia ainda não foi apreciada pela Corte Especial do STJ).
A confirmação do sistema fraudulento resultou no oferecimento
pelo Ministério Público Federal
de denúncia contra a mulher de
Haddad, a advogada Maria Cristina Aparecida de Souza Figueiredo
Haddad, e contra Cláudio Maldonado Machado, funcionário da
Receita Federal em São Paulo.
Eles são acusados da prática de
crime continuado de omissão de
informações em documentos públicos para induzir em erro a Receita Federal e o Poder Judiciário.
A Folha apurou que, por meio
de declarações retificadoras apresentadas à Receita com datas incorretas, os Haddad e sua mulher
pretendiam ocultar um acréscimo patrimonial a descoberto
(bens adquiridos sem comprovação de renda) que supera R$ 1,3
milhão. O processo tramita sob sigilo no STJ. No último dia 14, o
"Diário da Justiça" publicou despacho do ministro Fernando
Gonçalves, do STJ, determinando
a notificação de Maria Cristina
Haddad e de Cláudio Machado
para oferecimento de defesa.
Em dezembro do ano passado,
o MPF já havia oferecido denúncia contra Haddad, tendo requerido também o afastamento do desembargador do TRF.
Em maio de 2001, o MPF havia
pedido ao presidente do TRF-SP,
Márcio de Moraes, a instauração
de procedimento administrativo
para apurar improbidade de Haddad. A então corregedora do TRF,
Annamaria Pimentel, entendeu
que o tribunal deveria aguardar a
investigação do STJ, para o qual
enviou a representação do MPF.
Perícia confirmou que Haddad
apresentou declaração retificadora falsa e usou carimbo não-autêntico da Receita no protocolo de
entrega do documento, para ocultar enriquecimento incompatível
com a renda de juiz.
No último dia 15 de abril, o MPF
pediu aditamento à denúncia de
Haddad para incluir Maria Cristina, acusada de falsificar duas declarações retificadoras com o objetivo de elevar os rendimentos
anteriormente declarados, a fim
de descaracterizar um enriquecimento desproporcional à sua
renda e à de seu marido.
O servidor público Cláudio
Maldonado foi acusado de alterar as datas do recebimento de
declarações. No caso dos Haddad, o objetivo era que as declarações retificadoras constassem
como se tivessem sido entregues
à Receita Federal antes da reportagem da Folha, de julho de 1999,
revelando que Haddad e o desembargador Paulo Theotonio
Costa, afastado do TRF, ostentam riqueza que contrasta com o
padrão comum dos juízes.
Theotonio Costa e Haddad
moveram ação de indenização
contra a Folha. Haddad, representado pelo advogado Manuel
Alceu Affonso Ferreira, obteve
decisão favorável em primeira
instância. O jornal, defendido pela advogada Taís Borja Gasparian, recorreu ao TJ-SP.
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