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Lula já perdeu quase meio ano, afirma Kenneth Maxwell
Referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro, autor de "A Devassa da Devassa" passa a escrever na página A2
Historiador britânico dirige hoje o Programa de Estudos Brasileiros na Universidade Harvard e já lecionou em Yale, Princeton e Columbia
DA REPORTAGEM LOCAL
O historiador britânico Kenneth Maxwell, 66, diretor do
Programa de Estudos Brasileiros na Universidade Harvard,
nos Estados Unidos, afirma que
o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva "está demorando muito tempo para montar o governo" de seu segundo mandato, a
ponto de não ser possível ainda
"saber o que querem fazer nos
próximos três anos e meio".
"Perdeu-se quase meio ano,
já estamos em maio. Há falta de
ação em vários níveis e assuntos importantes para o Brasil.
Todas essas coisas estão demorando muito", diz, apontando
como consenso entre especialistas a necessidade de uma reforma tributária e de ações na
área de segurança pública. Para
Maxwell, é de toda forma um
traço distintivo da política brasileira certa morosidade no arranjo de coalizões e na proposta de programas e leis que afetem o dia-a-dia dos cidadãos.
O historiador passa a escrever semanalmente, a partir da
próxima quinta-feira, sobre esse e outros assuntos na página
A2 da Folha.
Com graduação pela Universidade de Cambridge, no Reino
Unido, e doutorado em Princeton, nos EUA, Maxwell é uma
referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro. Ele também tem estudos
sobre Portugal, desde o império ultramarino até a redemocratização pós-Salazar.
No livro "A Devassa da Devassa" (Paz e Terra, 1977), fez
um dos primeiros estudos
apoiado em ampla documentação em fontes primárias sobre
a elite econômica de Minas no
século 18 e suas relações e conflitos com a metrópole portuguesa. Sua obra mais recente
lançada no Brasil, "O Império
Derrotado" (Companhia das
Letras, 2006), trata da Revolução dos Cravos, em Portugal.
O historiador foi diretor do
Programa de América Latina
do Council on Foreign Relations, um dos mais importantes centros independentes de
estudo norte-americanos, entre 1989 e 2004. Ele também
deu aulas nas universidades
Yale, Princeton e Columbia.
Em maio de 2004, renunciou
ao seu cargo no Council em
protesto a uma interferência
do ex-secretário de Estado
americano Henry Kissinger,
que teria impedido a publicação de uma carta sua na revista
"Foreign Affairs", ligada ao
CFR. A "Foreign Affairs" havia
publicado uma resenha de
Maxwell em novembro de
2003 sobre o livro "O Arquivo
Pinochet", de Peter Kornbluh,
que trata do golpe que derrubou o presidente chileno Salvador Allende, em 1973, e da participação americana no episódio -à época, Kissinger era o
secretário de Estado.
Na edição seguinte, a revista
publicou uma carta de William
Rogers, que trabalhou sob o comando de Kissinger como secretário assistente para a América Latina no período do golpe
e que então era vice-presidente
de sua empresa de consultoria
-a Kissinger Associates-, em
que afirmava não haver provas
concretas da participação americana no episódio.
Seguiu-se uma réplica de
Maxwell, uma tréplica de Rogers, e o brasilianista, por decisão do editor da revista, não
pôde publicar um texto final de
resposta. "Isso tem a ver com a
atmosfera em geral dos EUA,
que passou a ser um lugar bem
menos aberto para o debate
público", disse ele à época,
acrescentando ter sido cuidadoso em sua resenha. "O que
está provado é que os EUA tiveram participação nas condições que levaram ao golpe. Fui
bastante cauteloso. Essa é a
ironia. O golpe foi feito por chilenos, e disse isso bem claramente no artigo", disse então.
Sobre a política brasileira recente, Maxwell vê como conquistas do primeiro mandato
de Lula a diminuição da vulnerabilidade da economia do país
e da desigualdade sócio-econômica, ainda que, no segundo
caso, em pequena escala.
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