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Alca é prejudicial, diz economista
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O economista Paulo Nogueira
Batista Jr., professor da FGV-SP,
avalia que a Alca (Área de Livre
Comércio das Américas) "esvazia" a política econômica nacional, inviabilizando ações governamentais desenvolvimentistas.
"Com a Alca a tendência da economia brasileira é regredir em
termos de diversificação de sua
estrutura econômica", disse ele,
ao citar setores da indústria que
poderiam quebrar com a adesão
do país à área de livre comércio.
Folha - Por que o sr. avalia que a
negociação para implementação
da Alca é "altamente problemática" para o Brasil?
Paulo Nogueira Batista Jr - Não
interessa ao Brasil participar de
áreas de livre comércio com economias muito mais desenvolvidas e poderosas como a dos Estados Unidos ou a da União Européia. Há diferenças enormes no
grau de desenvolvimento entre
essas economias e a brasileira que
tornam inconveniente uma abertura total ou muito ampla do mercado que implicaria a Alca.
Folha - O que aconteceria se o
Brasil aceitasse a atual proposta?
Nogueira Batista -Do jeito que
ela vem se configurando, vai haver um profundo esvaziamento
da política econômica nacional. A
ambição norte-americana é tanta,
em tantos temas, que o Brasil perderia todo um conjunto de instrumentos em políticas públicas.
Não é exagero dizer que o país ficaria sem condições de ter um
projeto de desenvolvimento nacional. Por exemplo, não seria
mais possível favorecer os fornecedores nacionais em compras
públicas, instrumento que pode
ser utilizado para fomentar o desenvolvimento regional.
Folha - A Alca traria vantagens
como mais acesso ao mercado norte-americano para a indústria brasileira e o setor de serviços?
Nogueira Batista - O Congresso
norte-americano e o Executivo
estão indicando claramente que
não pretendem fazer concessões
expressivas nas áreas de interesse
do Brasil. Eles querem retirar da
Alca certas questões que são fundamentais para o Brasil e, por outro lado, incluir temas problemáticos para o Brasil. [Além disso],
mesmo que a Alca não saia, o Brasil pode ampliar e diversificar
suas relações comerciais. A prioridade é a consolidação do Mercosul e sua ampliação. O Brasil está intensificando relações com
outros países, como África do Sul,
China e Índia. Nada impede que
nossas relações com eles cresçam
mesmo sem a Alca. Não existe
área de livre comércio entre EUA
e União Européia, nem intenção
de negociá-la, e o comércio entre
eles tem aumentado.
Folha - Como o sr. avalia a forma
como o governo trata o tema?
Nogueira Batista - Acho que a
política externa brasileira no campo comercial é um aspecto positivo do governo Lula. Há uma expressiva diferença para melhor
em comparação com o governo
FHC. O Brasil indicou que não está satisfeito com o formato da negociação e indicou que, se temas
importantes como antidumping e
agricultura serão tratados na
OMC, então temas com os quais o
Brasil tem dificuldade também terão de ser tratados nesse âmbito.
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