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São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2003

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Alca é prejudicial, diz economista

JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O economista Paulo Nogueira Batista Jr., professor da FGV-SP, avalia que a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) "esvazia" a política econômica nacional, inviabilizando ações governamentais desenvolvimentistas.
"Com a Alca a tendência da economia brasileira é regredir em termos de diversificação de sua estrutura econômica", disse ele, ao citar setores da indústria que poderiam quebrar com a adesão do país à área de livre comércio.
 

Folha - Por que o sr. avalia que a negociação para implementação da Alca é "altamente problemática" para o Brasil?
Paulo Nogueira Batista Jr -
Não interessa ao Brasil participar de áreas de livre comércio com economias muito mais desenvolvidas e poderosas como a dos Estados Unidos ou a da União Européia. Há diferenças enormes no grau de desenvolvimento entre essas economias e a brasileira que tornam inconveniente uma abertura total ou muito ampla do mercado que implicaria a Alca.

Folha - O que aconteceria se o Brasil aceitasse a atual proposta?
Nogueira Batista -
Do jeito que ela vem se configurando, vai haver um profundo esvaziamento da política econômica nacional. A ambição norte-americana é tanta, em tantos temas, que o Brasil perderia todo um conjunto de instrumentos em políticas públicas. Não é exagero dizer que o país ficaria sem condições de ter um projeto de desenvolvimento nacional. Por exemplo, não seria mais possível favorecer os fornecedores nacionais em compras públicas, instrumento que pode ser utilizado para fomentar o desenvolvimento regional.

Folha - A Alca traria vantagens como mais acesso ao mercado norte-americano para a indústria brasileira e o setor de serviços?
Nogueira Batista -
O Congresso norte-americano e o Executivo estão indicando claramente que não pretendem fazer concessões expressivas nas áreas de interesse do Brasil. Eles querem retirar da Alca certas questões que são fundamentais para o Brasil e, por outro lado, incluir temas problemáticos para o Brasil. [Além disso], mesmo que a Alca não saia, o Brasil pode ampliar e diversificar suas relações comerciais. A prioridade é a consolidação do Mercosul e sua ampliação. O Brasil está intensificando relações com outros países, como África do Sul, China e Índia. Nada impede que nossas relações com eles cresçam mesmo sem a Alca. Não existe área de livre comércio entre EUA e União Européia, nem intenção de negociá-la, e o comércio entre eles tem aumentado.

Folha - Como o sr. avalia a forma como o governo trata o tema?
Nogueira Batista -
Acho que a política externa brasileira no campo comercial é um aspecto positivo do governo Lula. Há uma expressiva diferença para melhor em comparação com o governo FHC. O Brasil indicou que não está satisfeito com o formato da negociação e indicou que, se temas importantes como antidumping e agricultura serão tratados na OMC, então temas com os quais o Brasil tem dificuldade também terão de ser tratados nesse âmbito.



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