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Denúncia faz Sarney mandar investigar Agaciel e Zoghbi
Presidente do Senado determina sindicância sobre ex-diretores e atos secretos
Decisão foi tomada após servidor falar que os dois pediam a ele para "guardar" atos com criação de cargos
e nomeação de parentes
ADRIANO CEOLIN
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), determinou ontem a instalação de uma
investigação contra o ex-diretor-geral Agaciel da Silva Maia
e o ex-diretor de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi.
A Folha publicou ontem entrevista do servidor Franklin
Albuquerque Paes Landim,
chefe do serviço de publicação
do boletim de pessoal do Senado, que afirmou que Agaciel e
Zoghbi pediam para "guardar"
atos administrativos com nomeações de parentes e decisões
como criação de cargos e concessão de benefícios.
Ele contou que guardava os
atos secretos numa pasta e só
os publicava quando recebia
nova orientação dos diretores.
"Ele [Agaciel] mandava guardar. Dizia: "Esse você não vai
[publicar]. Você aguarda". Com
esse aguarda, às vezes mandava
publicar, às vezes não. Podia
ser amanhã, podia ser depois."
Sarney deu prazo de sete dias
para a conclusão dos trabalhos
da comissão de sindicância e
pediu o acompanhamento de
um representante do Tribunal
de Contas da União e da Procuradoria Geral da República.
O presidente do Senado também determinou a criação de
um portal da transparência para divulgar "tudo o que acontecer na Casa" e uma auditoria
externa na folha de pagamento
do Senado.
Enquanto Agaciel fazia os
pedidos por telefone, Zoghbi
fazia isso pessoalmente, revelou Landim. Zoghbi já foi alvo
de duas comissões de sindicância e será investigado em mais
essa. Ambas resultaram em
processos administrativos.
Agaciel enfrentará sua primeira sindicância apesar de
seu nome ter sido envolvido
em parte dos escândalos que
levaram o Senado a enfrentar
mais uma crise. Em março deste ano, ele deixou a Diretoria
Geral depois que a Folha revelou que ele escondeu da Justiça
uma mansão em Brasília avaliada em R$ 5 milhões.
Agaciel chegou ao posto mais
alto do Senado por indicação
de Sarney, em 1995. Quando
ele deixou o cargo neste ano, o
presidente da Casa chegou a
elogiá-lo. Na semana passada,
em plena crise, Sarney foi padrinho de casamento da filha
de Agaciel. Ontem, o senador
indicou que o ex-diretor poderá ser punido.
"A responsabilidade é de todos que tiverem participação
nisso. Não pode ter ato secreto.
Se há um ato, há efeito. Se é
uma nomeação, produz efeito.
O ato não pode ser secreto. A
publicação é uma formalidade
essencial", disse.
Sarney exaltou a atitude de
Landim: "Não vamos perseguir
ninguém por ter feito qualquer
denúncia. Nós asseguramos a
todos que tiverem colaborado
no inquérito absoluta liberdade de o fazer, sem nenhuma represália. Quem fizer assim, estará prestando um serviço ao
país e ao Senado".
Supremo
A comissão de sindicância será formada por três servidores
da Casa. Alberto Moreira de
Vasconcelos Filho será o presidente. Os outros são: Gilberto
Guerzoni Filho e Maria Amália
Figueiredo da Luz. Sarney escolheu servidores que entraram no Senado antes de Agaciel
se tornar diretor-geral.
A comissão tem poderes para
ouvir testemunhas e fazer diligências. Seu relatório final pode resultar em abertura de processo administrativo cujas punições previstas são advertência, suspensão ou demissão.
Desde a semana passada, o
presidente do Senado tem enfrentado constrangimentos ao
ter de explicar nomeações e
exonerações de parentes feitas
por meio de atos secretos. Até a
publicação da entrevista de
Landim, Sarney dizia não acreditar na existência da prática.
O presidente afirmou ontem
que se a investigação atingir senadores o caso terá de ser remetido ao STF (Supremo Tribunal Federal). De acordo com
a Constituição, congressistas
têm direito a foro privilegiado
quando são acusados de algum
crime.
O líder do PSDB no Senado,
Arthur Virgílio (AM), comparou a entrevista de Landim à do
motorista que revelou corrupção no governo Collor e que resultou no impeachment. "Apareceu o motorista. O Sarney
tem que parar de ficar se explicando todo dia senão ele vai diminuir, daqui a pouco está mínimo. Tem que se desvincular
desse grupo do Agaciel."
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