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São Paulo, domingo, 20 de julho de 2003

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O REI DO NINHO

Requisitado, ex-presidente orienta aliados e faz previsões sobre 2004

FHC articula frente anti-PT e já ocupa o centro da oposição

JULIA DUAILIBI
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois do "recesso" de pouco mais de três meses, Fernando Henrique Cardoso começa a trocar a roupa de ex-presidente pela de líder da oposição ao governo petista. A volta de FHC à cena política se dá em duas frentes.
Uma visível, movida por entrevistas e balanços irônicos e incisivos dos seis meses da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Outra, ainda desconhecida, por meio de uma cada vez mais intensa articulação de bastidores, cujo ponto de fuga é a eleição municipal de 2004.
Almoços com parlamentares, conversas com líderes da oposição e telefonemas em que convida antigos aliados para ingressarem no PSDB ocupam mais o dia-a-dia de FHC do que o trabalho no instituto que leva seu nome e ao qual prometeu se dedicar após deixar o Planalto.
Há quinze dias, por exemplo, o ex-presidente recebeu em seu apartamento, em São Paulo, líderes do PFL e do PP. Traçou com os parlamentares estratégias de oposição ao governo no Congresso, inclusive a formação de uma liderança da oposição. Fez um balanço do governo Lula e discutiu o papel do PT e do PSDB nas eleições municipais de 2004.
O pleito do ano que vem é um assunto que tem estado constantemente na pauta do ex-presidente. Há duas semanas, encontrou-se com o sindicalista Paulo Pereira da Silva (PDT), o Paulinho, que pretende disputar a sucessão da Prefeitura de São Paulo. O objetivo é isolar a candidatura da prefeita Marta Suplicy (PT).
Além dos contatos com parlamentares, FHC saiu a campo para tratar de assuntos partidários. Para evitar o emagrecimento do PSDB, em razão da investida do governo federal nos deputados do partido, convidou pessoalmente antigos aliados. Entre eles, o ex-ministro da Agricultura, Francisco Turra, do PP.
Aos poucos, a agenda de FHC começa a dar lugar para atividades partidárias oficiais. No final de agosto, a primeira delas: um encontro com prefeitos do PSDB que visa fortalecer a estrutura partidária e uniformizar o discurso de oposição ao governo federal.

Tropa de choque
Quando o assunto é a volta de FHC para a política, os tucanos tergiversam. "É importante que haja uma referência para o partido neste momento, que é o Fernando Henrique. Mas ela ainda não se materializa nas articulações políticas", afirmou o deputado Alberto Goldman (SP).
Na mesma linha está Arnaldo Madeira, ex-líder do governo FHC na Câmara, que almoçou na sexta com o tucano. "Fernando Henrique não quer entrar na política operacional, na militância do partido. Ele cumpriu o seu papel. Agora tem uma liderança natural por ser um ex-presidente."
"É mais uma figura tutelar do que um agente político. É o homem do conselho, da orientação", completa o deputado Aloyzio Nunes Ferreira (SP).
Além desses deputados, FHC mantém contato constante com outros nomes que fizeram parte de sua tropa de choque no Congresso, como Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), com quem esteve há duas semanas em São Paulo.
Na semana passada, o PSDB divulgou uma dura avaliação do governo petista, na qual chamou o governo Lula de "confuso" e "incompetente". As mesmas críticas levantadas por FHC no encontro com os parlamentares, há quinze dias, constam do documento. Preocupações como o papel das agências reguladoras e a condução da reforma agrária pelo governo petista, por exemplo.

Terceiro turno
No encontro com os políticos, avaliou que será mais fácil vencer nas capitais, onde há sempre um desgaste maior do governo. Além da sucessão paulistana, pediu atenção dos aliados para Porto Alegre, Salvador e Rio de Janeiro.
Disse que PSDB, PFL e os dissidentes do PP e do PMDB precisam votar juntos nas reformas e manter em sintonia um discurso de oposição ao governo petista.
"Nosso plano é preparar os instrumentos para a batalha que virá. E o ex-presidente, que é uma grande liderança, tem auxiliado os partidos da oposição. Estamos escolhendo o tom da oposição e queremos criar fatos políticos para serem usados na mídia contra o PT", disse o deputado Ricardo Barros (PP-PB). Como "fato político", afirmou que pretendem dar destaque ao que chamou de as contradições do governo petista.
"O nosso posicionamento agora é muito importante. Nem tem como o ex-presidente não ser uma liderança", disse o deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ).
Para FHC, a Prefeitura de São Paulo será o terceiro turno da eleição presidencial e colocará em xeque uma eventual volta do partido ao poder. Disse a interlocutores que o nome ideal seria o do ex-ministro José Serra, que descarta a disputa. "Espero que ele me ouça", comentou com os aliados.
FHC tem entrado no tema sucessão até para apagar eventuais conflitos internos. Conversou com os aspirantes tucanos à disputa: os deputados Walter Feldman e Zulaiê Cobra e o presidente do PSDB, José Aníbal. Fez a política da boa vizinhança e disse que a decisão final será do governador Geraldo Alckmin.


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