São Paulo, terça-feira, 20 de julho de 2004

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TODA MÍDIA

Sem saída

NELSON DE SÁ

Não faltavam boas notícias, ontem. Nas manchetes do Jornal Nacional e do Jornal da Record, dizia-se que o pedido de falências havia "despencado". O dólar fechou abaixo de R$ 3. A inflação seguiu caindo.
Mas a tensão maior, inclusive na Globo, estava uma vez mais no aumento da contribuição previdenciária:
- A compensação anunciada não acalmou os empresários.
Os empresários e a cobertura. Boris Casoy, no final da semana, já havia qualificado o aumento de "insanidade" e voltou à carga na Record, ontem. Uniram-se a ele o deputado Delfim Netto, a comentarista Míriam Leitão e muitos mais.
Sobretudo, surgiu a cena dos produtos e respectivos impostos -encenada pela Associação Comercial de SP e destacada, entre outros, no JN.
O ministro Antonio Palocci fez o que sempre se faz. Correu para uma longa entrevista ao Bom Dia Brasil, que ecoou por toda parte, dos sites às outras emissoras e ao JN.
Mas nem ele conseguiu conter a "onda de críticas", no dizer da Globo. Até porque ele não tinha mais o que oferecer. Desenhou um quadro no qual não existe outra saída:
- Não há outras opções. Você poderia aumentar outro tipo de imposto e não mudaria muito as coisas.
Defendeu-se, o que é um fato raro no discurso do ministro, apontando para trás:
- Se você olhar os últimos seis pacotes na economia, nos últimos 15 anos, todos traziam aumento na carga tributária. No nosso governo, o grande ajuste feito no ano passado veio com corte de R$ 14 bilhões. Cortamos para dentro.
Agora, não mais -até porque a outra grita, inclusive da Globo, ontem mesmo, é que o governo tem que investir mais. Então, os cortes acabaram.
O melhor que Palocci pôde oferecer, para conter a revolta, foi "tomar medidas para levar a carga aos patamares em que ela estava anteriormente".
Para ir além disso, só com "uma definição do presidente da República".

FAMÍLIA, FAMÍLIA, FAMÍLIA

Começou com George W. Bush e John Kerry, os dois em campanha para presidente, que saíram na semana passada -ao mesmo tempo- em defesa dos "valores" ameaçados da "família" americana.
Ontem foi a vez do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, em jornais como o "Guardian", também em defesa do que chamou de "valores da família". Ele jogou a culpa pela violência urbana e pelos crimes que assolam o país nos liberalizantes anos 60.
E acabou em Lula, ontem. Ao lançar nova campanha publicitária de incentivo à "auto-estima" dos brasileiros, no dizer do Jornal da Band, saiu a defender os valores da "família". Declarou que nem tudo se resume ao Estado ou à economia, na solução dos problemas do país. Que muitos jovens criminosos saem do "seio da família", da "família desestruturada".
Enfim, não são responsabilidade dele.

Dois times
Franklin Martins, em análise na CBN, acha que a tal Câmara de Desenvolvimento "pode ser uma boa idéia", desde que "José Dirceu e Palocci joguem para o mesmo lado".

Um monte
Já um colunista do "Valor", Cláudio Couto, disseca a idéia, diz o que poderia dar certo ou não, mas é cruel:
- Tudo isso faria sentido, não fosse essa Câmara muito similar a um monte de outras já criadas, todas presididas pelo chefe da Casa Civil: a Câmara de Política Cultural, a Câmara de Política Social, a Câmara de Integração Nacional, a Câmara de Recursos Naturais...
São todas de 2003, mas pouco se ouve delas.

Danos
Do JN, sobre a ação contra Waldomiro Diniz:
- Waldomiro é acusado de causar graves danos à imagem e à moralidade do governo.

FMI e os gastos
A Globo pedia ontem menos gastos do governo (em lugar dos impostos) e ao mesmo tempo mais gastos (investimentos em infra-estrutura etc).
A decisão está em outra parte, de todo modo. A CBN deu que hoje começam "as discussões dos gastos com infra-estrutura". Com o FMI.
A idéia não é elevar os gastos. É só "melhorar".

Outro BNDES
Tem país que já não agüenta aguardar governo, FMI, PPP. Segundo o "Valor", na primeira página, "o "BNDES" da China mostrou intenção de financiar projetos por aqui".

Samurais
Também o Japão, segundo a "Época". A revista anunciou "a volta dos samurais" ao Brasil. O país teria sido escolhido como "prioridade de investimento" no exterior. Entre outras áreas, energia e transporte receberiam US$ 2 bilhões.

DIFERENÇAS

diariohoy.com/Reprodução
Charge com Lula e Kirchner na "balança comercial"


O jogo continua, no conflito comercial entre Brasil e Argentina. Mas enquanto o assunto vai dando lugar a outros por aqui, o debate prossegue e até mesmo se amplia nos jornais argentinos.
No "Clarín", por exemplo, um artigo falava ontem que "o conflito vai muito além" das geladeiras. Outro dizia que são feitos "acordos passageiros" para "diferenças permanentes". Outro, no "Diario Hoy", acompanhado de charge (veja acima), defendia a "institucionalização de políticas macroeconômicas comuns" como a única saída para a integração no Mercosul.
Por fim, já entrando por outro assunto, distante da economia mas não menos controverso, o embaixador da Argentina na ONU escrevia ontem no "La Nación" que "não respalda país nenhum", entre os que querem vaga no Conselho de Segurança -caso do Brasil.


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