São Paulo, quarta-feira, 20 de julho de 2005

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Valério pagou deputados do PT, PP e PL

MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A análise preliminar dos dados bancários das empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza revelou ontem na CPI dos Correios pagamentos em dinheiro entre os anos 2003 e 2004 que beneficiaram direta ou indiretamente, segundo os parlamentares da comissão, pelo menos três deputados federais do PT, um do PP e um do PL, dos quais dois são líderes partidários na Câmara.
Os registros do Banco Rural indicam que o publicitário autorizava saques das contas da SMPB Comunicação nas agências do Banco Rural de Brasília e de Belo Horizonte (MG) para pessoas ligadas aos deputados João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara dos Deputados, Josias Gomes (PT-BA), Paulo Rocha (PT-PA), líder do PT na Câmara, José Janene (PP-PR), líder do partido na Casa, e Bispo Rodrigues (PL-RJ), vice-líder da sigla.
O único parlamentar que pessoalmente sacou o dinheiro foi Josias. Num espaço de sete dias, entre agosto e setembro de 2003, o deputado compareceu à agência do Rural no Shopping Brasília e fez duas retiradas de R$ 50 mil. Ele deixou na agência, como identificação, cópia da própria carteira de parlamentar.
De acordo com os integrantes da CPI, a mulher de João Paulo Cunha, Márcia Milanésio Cunha, recebeu R$ 50 mil da empresa. Em sua gestão na Câmara, João Paulo contratou em dezembro de 2003 a mesma SMPB para os serviços de propaganda da Casa.
A assessora do líder do PT na Câmara, Anita Leocádia Pereira Costa, fez saques no valor total de R$ 320 mil.
O chefe-de-gabinete do deputado Janene, João Cláudio de Carvalho Genu, sacou das contas da empresa pelo menos R$ 1,1 milhão. Há três saques, no valor total de R$ 300 mil, que teriam beneficiado o deputado Bispo Rodrigues (em um deles, o nome do deputado está riscado, segundo os parlamentares que tiveram acesso à documentação).
Também o ex-tesoureiro nacional do PL, Jacinto Lamas, aparece sacando R$ 200 mil.
Uma lista com 38 sacadores, divulgada por parlamentares ontem à noite, ainda é parcial. Até as 22h30, cerca de 80% do material havia sido analisado pela equipe técnica da comissão. O total de saques passava de R$ 25 milhões, a maioria da empresa SMPB.
Além de pessoas ligadas a parlamentares, a análise indicou um grande sacador ainda desconhecido da CPI, David Rodrigues Alves, que retirou das contas da SMP&B perto de R$ 5 milhões. Segundo os primeiros levantamentos da CPI, Alves é policial civil de Belo Horizonte (MG), tem seis armas registradas em seu nome, com salário pago pela Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais.
A pessoa responsável pelo maior volume de saques é a funcionária de Marcos Valério da área financeira Simone Vasconcelos. Ela aparece como responsável pelo saque de mais de R$ 6 milhões.
A CPI e a Polícia Federal ainda não sabem o destino real do dinheiro retirado por David e Simone, cerca de R$ 11 milhões - ambos eram considerados, até ontem, meros canais de passagem para outros beneficiários ainda não identificados.
O esquema de repasse de dinheiro funcionava da seguinte forma: a SMPB emitia o cheque em Belo Horizonte e, por fax, autorizava o gerente da agência em Brasília a fazer o pagamento para determinadas pessoas que compareciam ao caixa do banco. Para comprovar sua identidade, o beneficiário deixava no banco cópias de documentos pessoais. Todo esse material, até então arquivado no banco, chegou no início da tarde de ontem à CPI em cinco caixas.
A reação dos parlamentares às primeiras revelações do sigilo bancário das contas empresariais de Valério oscilou entre a perplexidade e o silêncio. "Hoje estou como aquele macaquinho", disse o relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), fazendo sinal de que não ouve, não fala nem vê.
"Os documentos confirmam integralmente as denúncias do deputado Roberto Jefferson [PTB-RJ]", disse o deputado Ônix Lorenzoni (PFL-RS). "Vamos ouvir uma a uma essas pessoas. O Delúbio vai ter de dizer para onde ia o dinheiro", afirmou o senador César Borges (PFL-BA).
Houve deputados mais empolgados. "Está comprovado o mensalão", disse Pompeo de Mattos (PDT-RS).
Seguido por repórteres nos corredores, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), não conseguia explicações, só balançava a cabeça e dizia que deveria "aguardar as respostas" dos colegas de bancada. "Os dados são impressionantes", chegou a admitir. Mais tarde, Cardozo reconheceu: "Há indícios muito fortes de que possa ter existido o mensalão ou contribuições de campanha que ocorreram de forma estranha".
Subrelator das movimentações financeiras, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), no entra-e-sai da sala que guarda os documentos sigilosos, resumiu: "Não tem volta. Está ficando de um tamanho que não dá mais para abafar".


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