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Valério pagou deputados do PT, PP e PL
MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A análise preliminar dos dados
bancários das empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza
revelou ontem na CPI dos Correios pagamentos em dinheiro
entre os anos 2003 e 2004 que beneficiaram direta ou indiretamente, segundo os parlamentares
da comissão, pelo menos três deputados federais do PT, um do PP
e um do PL, dos quais dois são líderes partidários na Câmara.
Os registros do Banco Rural indicam que o publicitário autorizava saques das contas da SMPB
Comunicação nas agências do
Banco Rural de Brasília e de Belo
Horizonte (MG) para pessoas ligadas aos deputados João Paulo
Cunha (PT-SP), ex-presidente da
Câmara dos Deputados, Josias
Gomes (PT-BA), Paulo Rocha
(PT-PA), líder do PT na Câmara,
José Janene (PP-PR), líder do partido na Casa, e Bispo Rodrigues
(PL-RJ), vice-líder da sigla.
O único parlamentar que pessoalmente sacou o dinheiro foi Josias. Num espaço de sete dias, entre agosto e setembro de 2003, o
deputado compareceu à agência
do Rural no Shopping Brasília e
fez duas retiradas de R$ 50 mil. Ele
deixou na agência, como identificação, cópia da própria carteira
de parlamentar.
De acordo com os integrantes
da CPI, a mulher de João Paulo
Cunha, Márcia Milanésio Cunha,
recebeu R$ 50 mil da empresa.
Em sua gestão na Câmara, João
Paulo contratou em dezembro de
2003 a mesma SMPB para os serviços de propaganda da Casa.
A assessora do líder do PT na
Câmara, Anita Leocádia Pereira
Costa, fez saques no valor total de
R$ 320 mil.
O chefe-de-gabinete do deputado Janene, João Cláudio de Carvalho Genu, sacou das contas da
empresa pelo menos R$ 1,1 milhão. Há três saques, no valor total
de R$ 300 mil, que teriam beneficiado o deputado Bispo Rodrigues (em um deles, o nome do deputado está riscado, segundo os
parlamentares que tiveram acesso
à documentação).
Também o ex-tesoureiro nacional do PL, Jacinto Lamas, aparece
sacando R$ 200 mil.
Uma lista com 38 sacadores, divulgada por parlamentares ontem à noite, ainda é parcial. Até as
22h30, cerca de 80% do material
havia sido analisado pela equipe
técnica da comissão. O total de saques passava de R$ 25 milhões, a
maioria da empresa SMPB.
Além de pessoas ligadas a parlamentares, a análise indicou um
grande sacador ainda desconhecido da CPI, David Rodrigues Alves, que retirou das contas da
SMP&B perto de R$ 5 milhões.
Segundo os primeiros levantamentos da CPI, Alves é policial civil de Belo Horizonte (MG), tem
seis armas registradas em seu nome, com salário pago pela Secretaria de Estado de Planejamento e
Gestão de Minas Gerais.
A pessoa responsável pelo
maior volume de saques é a funcionária de Marcos Valério da
área financeira Simone Vasconcelos. Ela aparece como responsável
pelo saque de mais de R$ 6 milhões.
A CPI e a Polícia Federal ainda
não sabem o destino real do dinheiro retirado por David e Simone, cerca de R$ 11 milhões - ambos eram considerados, até ontem, meros canais de passagem
para outros beneficiários ainda
não identificados.
O esquema de repasse de dinheiro funcionava da seguinte
forma: a SMPB emitia o cheque
em Belo Horizonte e, por fax, autorizava o gerente da agência em
Brasília a fazer o pagamento para
determinadas pessoas que compareciam ao caixa do banco. Para
comprovar sua identidade, o beneficiário deixava no banco cópias de documentos pessoais. Todo esse material, até então arquivado no banco, chegou no início
da tarde de ontem à CPI em cinco
caixas.
A reação dos parlamentares às
primeiras revelações do sigilo
bancário das contas empresariais
de Valério oscilou entre a perplexidade e o silêncio. "Hoje estou como aquele macaquinho", disse o
relator da CPI, Osmar Serraglio
(PMDB-PR), fazendo sinal de que
não ouve, não fala nem vê.
"Os documentos confirmam integralmente as denúncias do deputado Roberto Jefferson [PTB-RJ]", disse o deputado Ônix Lorenzoni (PFL-RS). "Vamos ouvir
uma a uma essas pessoas. O Delúbio vai ter de dizer para onde ia o
dinheiro", afirmou o senador César Borges (PFL-BA).
Houve deputados mais empolgados. "Está comprovado o mensalão", disse Pompeo de Mattos
(PDT-RS).
Seguido por repórteres nos corredores, o deputado José Eduardo
Cardozo (PT-SP), não conseguia
explicações, só balançava a cabeça
e dizia que deveria "aguardar as
respostas" dos colegas de bancada. "Os dados são impressionantes", chegou a admitir. Mais tarde,
Cardozo reconheceu: "Há indícios
muito fortes de que possa ter existido o mensalão ou contribuições
de campanha que ocorreram de
forma estranha".
Subrelator das movimentações
financeiras, o deputado Gustavo
Fruet (PSDB-PR), no entra-e-sai
da sala que guarda os documentos sigilosos, resumiu: "Não tem
volta. Está ficando de um tamanho que não dá mais para abafar".
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