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Prelado teve
carreira típica
da Redação
A trajetória de d. Hélder
Câmara é comum aos prelados de sua geração: começou sua carreira como um
conservador que desenvolvia intensa atividade junto
aos leigos e que, pouco a
pouco, aproximou-se cada
vez mais da esquerda.
Essa evolução da igreja
começa em Pernambuco,
em 1916, quando d. Sebastião Leme assume o arcebispado de Olinda (PE). D. Sebastião defendia uma participação mais ativa dos leigos na igreja -tendência
que se fortalecia no exterior
com a Ação Católica.
Essa atividade teve, no
início, uma orientação essencialmente conservadora: tanto os intelectuais católicos como os bispos
atuavam com o objetivo de
impedir a expansão do comunismo. Daí a aproximação frequente com os movimentos de extrema direita.
D. Hélder é um exemplo
típico. Ordenado padre em
1931, nesse mesmo ano organiza a Juventude Operária Cristã, ligada à LCT (Legião Cearense do Trabalho), organização inspirada
no salazarismo. Em 1932,
torna-se dirigente da LCT,
que passa a fazer parte da
Ação Integralista Brasileira,
organização fascista de Plínio Salgado. Em 1937, chega
a ser indicado para o Conselho Supremo da AIB, mas
logo deixa a organização.
Paradoxalmente, essa
orientação conservadora
acabou levando a igreja a
adotar teses da esquerda.
Um caso típico é a Cruzada
de São Sebastião, organização criada em 1955 por d.
Hélder para urbanizar e humanizar as favelas do Rio de
Janeiro. Com o auxílio de
doações, d. Hélder construiu os primeiros conjuntos habitacionais da cidade.
Em função disso, recebeu
muitas críticas de setores
conservadores, porque os
conjuntos se localizavam
em áreas de alto valor imobiliário (como o Leblon).
Uma evolução semelhante ocorreu na questão agrária. Preocupados com o
avanço das Ligas Camponesas e dos sindicatos rurais,
os bispos concluíram que a
transformação do trabalhador rural num pequeno
proprietário constituía uma
barreira eficaz para evitar a
difusão do comunismo.
Como dizia d. Hélder,
"só a ação social da igreja
poderá fracassar a revolução violenta no Nordeste".
Em função disso, a Igreja
Católica passou a defender
a reforma agrária, distinguindo "terra de produção" e "terra de especulação", e condenando os latifúndios improdutivos.
Essa "esquerdização" da
igreja se agravou no regime
militar. A maioria dos bispos era favorável ao movimento militar de 1964, mas
mudou de posição a partir
do momento em que militares começaram a torturar
e matar religiosos de esquerda. Um dos assessores
do próprio d. Hélder foi assassinado em maio de 1969,
na mesma época em que o
governo militar estimulava
uma forte campanha na imprensa para estigmatizar os
prelados progressistas.
A repressão política acabou "politizando" a CNBB
e outras organizações da sociedade civil -como a ABI,
OAB, SBPC. Todas passaram a exercer o papel dos
partidos políticos, numa
época em que os partidos
(MDB, Arena) não podiam
atuar. Com a redemocratização, essas organizações
deixaram de desempenhar
funções partidárias.
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