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TRANSIÇÃO
Candidato se compromete com o principal do acordo com FMI, mas diz que só dá sua "posição definitiva" após ler íntegra
Ciro culpa o governo e o mercado pela crise
DA ENVIADA A BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, se comprometeu
ontem, após reunião com o presidente Fernando Henrique Cardoso, com os pontos básicos do
acordo firmado com o FMI -superávit de 3,75%, estabilidade da
moeda e cumprimento dos contratos-, mas culpou o governo
federal e o mercado pela crise financeira que atinge o país.
A exemplo do que vem fazendo
nos últimos dias, Ciro afirmou
que só se manifestará formalmente a respeito dos demais termos
do acordo depois de conhecer a
íntegra do documento. Prometeu
uma nota pública com sua posição assim que tiver acesso às cópias dos papéis oficiais.
"Compreendo que a crise é grave, e a situação do país, delicada.
Na minha compreensão, parte
dessa crise é responsabilidade de
um modelo econômico contra o
qual me bato há sete anos. Parte é
resultado de incompreensões de
setores do mercado internacional
sobre as especificidades e potencialidades da economia brasileira", declarou o presidenciável, em
pronunciamento de cerca de três
minutos, realizado em um salão
do Palácio do Planalto.
A manifestação favorável de Ciro aos principais itens do acordo
acontece um dia depois de ele ter
declarado que o Brasil "está sendo
posto de joelhos diante da agiotagem internacional".
O candidato, que ontem falou à
imprensa na presença dos assessores que o acompanharam durante a reunião -o filósofo Roberto Mangabeira Unger e o economista Mauro Benevides Filho-, não respondeu a perguntas dos jornalistas, conforme havia antecipado sua assessoria.
Segundo Ciro, a seu pedido, o
ministro Pedro Malan (Fazenda)
e o presidente do Banco Central,
Armínio Fraga, receberam de
FHC a incumbência de repassar a
íntegra do acordo. "Eu me comprometi a estudá-los com urgência e em detalhes para então expedir uma nota por escrito sobre a
minha posição definitiva."
Ciro declarou ainda que o presidente fez a ele um relato sobre "a
natureza e a extensão da crise financeira" pela qual passa o país.
De Malan e Armínio, disse ter ouvido detalhes sobre os principais
pontos do acordo com o FMI.
"Nestas circunstâncias compreendo como inevitável a evolução desses entendimentos [com o
Fundo], não sem lamentar. Afirmei ao presidente aquilo que já
tem sido minha prática de vida de
ex-ministro, ex-governador, ex-prefeito de uma capital, compromisso que o possível governo
meu praticará de austeridade fiscal, no limite que a Lei de Diretrizes Orçamentárias já determinou
para o ano que vem, de 3,75% do
PIB, estrito cumprimento e respeito aos contratos e compromisso definitivo com a estabilidade."
Cumprimentos
A conversa entre Ciro e FHC foi
iniciada às 12h e teve duração de
uma hora e cinco minutos. O ministro Pedro Parente (Casa Civil),
o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Amaury Bier, e
o líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP), recepcionaram Ciro na ante-sala do gabinete da Presidência.
FHC recebeu o candidato com
um aperto de mãos, descrito como "cordial, mas protocolar" por
assessores de Ciro. Minutos depois, os fotógrafos pediram, sem
sucesso, que o gesto fosse repetido. A negativa ocorreu, segundo a
assessoria do pepessista, porque
imagens do cumprimento entre
os dois não estavam previstas.
O candidato e seus assessores
não levaram anotações ou documentos para a conversa.
Após a reunião, Ciro conversou
com seus colaboradores da área
econômica para discutir o teor de
seu pronunciamento à imprensa.
Um rascunho já havia sido preparado por ele na noite anterior durante encontro com Mangabeira e
com Benevides Filho.
Segundo a Folha apurou, o presidenciável pretendia, com o relato aos jornalistas, uma manifestação "curta e objetiva", que evitasse distorções de conteúdo. Uma
reunião de avaliação do encontro
estava prevista para ontem à noite, no Rio de Janeiro.
De acordo com a assessoria do
presidenciável, Ciro considerou o
encontro com o presidente "perfeito" e de clima "bom". Avaliou
que conseguiu apagar a idéia de
que seria o candidato do confronto, como tentaram impor seus adversários. Ao embarcar no jatinho
que o levou ao Rio, comentou
com assessores: "Ganhei o dia".
OAB e STF
Depois da reunião no Planalto,
em almoço com o vice-ministro
da Fazenda da Alemanha, Caio
Koch Weser, Ciro elogiou FHC
pela abertura de diálogo com os
candidatos. Em seguida, foi recebido pelo presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil),
Rubens Approbato Machado, e,
mais tarde, pelo presidente do
STF (Supremo Tribunal Federal),
Marco Aurélio de Mello.
Ao presidente do STF, disse que
sua recente declaração para que o
mercado "se lixasse" foi retirada
de contexto e que, como administrador, jamais deu demonstrações de atropelo das instituições.
(LUCIO VAZ, PATRICIA ZORZAN, FERNANDA NARDELLI e SILVANA DE FREITAS)
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