São Paulo, terça-feira, 20 de agosto de 2002

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TRANSIÇÃO

Candidato se compromete com o principal do acordo com FMI, mas diz que só dá sua "posição definitiva" após ler íntegra

Ciro culpa o governo e o mercado pela crise

DA ENVIADA A BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, se comprometeu ontem, após reunião com o presidente Fernando Henrique Cardoso, com os pontos básicos do acordo firmado com o FMI -superávit de 3,75%, estabilidade da moeda e cumprimento dos contratos-, mas culpou o governo federal e o mercado pela crise financeira que atinge o país.
A exemplo do que vem fazendo nos últimos dias, Ciro afirmou que só se manifestará formalmente a respeito dos demais termos do acordo depois de conhecer a íntegra do documento. Prometeu uma nota pública com sua posição assim que tiver acesso às cópias dos papéis oficiais.
"Compreendo que a crise é grave, e a situação do país, delicada. Na minha compreensão, parte dessa crise é responsabilidade de um modelo econômico contra o qual me bato há sete anos. Parte é resultado de incompreensões de setores do mercado internacional sobre as especificidades e potencialidades da economia brasileira", declarou o presidenciável, em pronunciamento de cerca de três minutos, realizado em um salão do Palácio do Planalto.
A manifestação favorável de Ciro aos principais itens do acordo acontece um dia depois de ele ter declarado que o Brasil "está sendo posto de joelhos diante da agiotagem internacional".
O candidato, que ontem falou à imprensa na presença dos assessores que o acompanharam durante a reunião -o filósofo Roberto Mangabeira Unger e o economista Mauro Benevides Filho-, não respondeu a perguntas dos jornalistas, conforme havia antecipado sua assessoria.
Segundo Ciro, a seu pedido, o ministro Pedro Malan (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, receberam de FHC a incumbência de repassar a íntegra do acordo. "Eu me comprometi a estudá-los com urgência e em detalhes para então expedir uma nota por escrito sobre a minha posição definitiva."
Ciro declarou ainda que o presidente fez a ele um relato sobre "a natureza e a extensão da crise financeira" pela qual passa o país. De Malan e Armínio, disse ter ouvido detalhes sobre os principais pontos do acordo com o FMI.
"Nestas circunstâncias compreendo como inevitável a evolução desses entendimentos [com o Fundo], não sem lamentar. Afirmei ao presidente aquilo que já tem sido minha prática de vida de ex-ministro, ex-governador, ex-prefeito de uma capital, compromisso que o possível governo meu praticará de austeridade fiscal, no limite que a Lei de Diretrizes Orçamentárias já determinou para o ano que vem, de 3,75% do PIB, estrito cumprimento e respeito aos contratos e compromisso definitivo com a estabilidade."

Cumprimentos
A conversa entre Ciro e FHC foi iniciada às 12h e teve duração de uma hora e cinco minutos. O ministro Pedro Parente (Casa Civil), o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Amaury Bier, e o líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP), recepcionaram Ciro na ante-sala do gabinete da Presidência.
FHC recebeu o candidato com um aperto de mãos, descrito como "cordial, mas protocolar" por assessores de Ciro. Minutos depois, os fotógrafos pediram, sem sucesso, que o gesto fosse repetido. A negativa ocorreu, segundo a assessoria do pepessista, porque imagens do cumprimento entre os dois não estavam previstas.
O candidato e seus assessores não levaram anotações ou documentos para a conversa.
Após a reunião, Ciro conversou com seus colaboradores da área econômica para discutir o teor de seu pronunciamento à imprensa. Um rascunho já havia sido preparado por ele na noite anterior durante encontro com Mangabeira e com Benevides Filho.
Segundo a Folha apurou, o presidenciável pretendia, com o relato aos jornalistas, uma manifestação "curta e objetiva", que evitasse distorções de conteúdo. Uma reunião de avaliação do encontro estava prevista para ontem à noite, no Rio de Janeiro.
De acordo com a assessoria do presidenciável, Ciro considerou o encontro com o presidente "perfeito" e de clima "bom". Avaliou que conseguiu apagar a idéia de que seria o candidato do confronto, como tentaram impor seus adversários. Ao embarcar no jatinho que o levou ao Rio, comentou com assessores: "Ganhei o dia".

OAB e STF
Depois da reunião no Planalto, em almoço com o vice-ministro da Fazenda da Alemanha, Caio Koch Weser, Ciro elogiou FHC pela abertura de diálogo com os candidatos. Em seguida, foi recebido pelo presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Rubens Approbato Machado, e, mais tarde, pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Marco Aurélio de Mello.
Ao presidente do STF, disse que sua recente declaração para que o mercado "se lixasse" foi retirada de contexto e que, como administrador, jamais deu demonstrações de atropelo das instituições.
(LUCIO VAZ, PATRICIA ZORZAN, FERNANDA NARDELLI e SILVANA DE FREITAS)


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