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Doleiros tinham
até "câmara de
compensação"
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
As investigações da força-tarefa
CC5 do Banestado revelam a existência de uma forte organização
financeira paralela no Brasil operada por doleiros. A organização
chega à sofisticação de manter
uma espécie de "câmara de compensação" para o dinheiro ilícito,
nos moldes das relações interbancárias coordenadas pelo Banco do
Brasil para compensar cheques.
Quando as investigações sobre
as remessas CC5 (de não residentes) foi iniciada em 1999, acreditava-se que os doleiros brasileiros
atuavam só para remeter dinheiro
sujo para o exterior por meio de
laranjas, mantendo contas e "offshores" no exterior. Hoje já existem provas, segundo a força-tarefa, de que essa "câmara de compensação" funciona também no
mercado interno, em operações
de limpeza de dinheiro obtido por
meio de fraudes na administração
pública, de sobras de campanha e
de valores oriundos do contrabando e do tráfico de drogas.
Para as remessas para o exterior, os doleiros aproveitaram
brechas criadas pelo próprio Banco Central. Em maio de 1996, o BC
permitiu que cinco agências bancárias de Foz do Iguaçu (PR) operassem em um esquema especial
com as contas CC5. Essa permissão burlava a exigência legal de
comunicação ao BC de movimentações acima de R$ 10 mil.
O resultado: quando se abriu as
contas do Banestado em Nova
York, em 2002, mais de R$ 30 bilhões haviam sido movimentados
em 137 contas de brasileiros nos
EUA. Os remetentes: laranjas de
doleiros e casas de câmbios paraguaias. Fechada a torneira livre
das contas CC5, os doleiros passaram a atuar no sistema dólar-cabo, com transações baseadas na
confiança recíproca entre eles, nas
quais o dinheiro não sai do país.
Depoimentos do doleiro Alberto Youssef à força-tarefa e à Justiça Federal em Curitiba mostram
que os doleiros apostam na ineficácia da fiscalização brasileira para limpar o dinheiro ilícito. Ao depor sobre operações fraudulentas
na Copel, que resultaram em perdas de R$ 56, 4 milhões à empresa
paranaense em 2002, Youssef explicou como funciona o sistema
de "compensação paralela".
Segundo Youssef, ele indicou
contas laranjas mantidas por doleiros em bancos do Rio e São
Paulo para que os responsáveis
pelas fraudes fizessem depósitos.
Depois foi até São Paulo e Rio e
sacou os valores (já descontadas
as comissões dos doleiros) com
seus sócios na operação. Ao retornar a Curitiba para distribuir o dinheiro aos fraudadores, eles estavam livres de qualquer suspeita,
pois recebiam dinheiro vivo, sem
documentos (cheques ou depósitos) que pudessem incriminá-los.
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