São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / FINANCIAMENTO

Setor não-financeiro supera bancos e lucra 162% sob gestão Lula

Cenário externo favorável e dólar baixo impulsionam ganhos de siderúrgicas, mineradoras e empresas de papel e celulose

Estudo feito a pedido da Folha compara lucros de 193 empresas abertas no 2º mandato de FHC com seus ganhos no governo do PT


CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O lucro líquido das grandes empresas com ações em Bolsa quase triplicou nos três anos e meio de governo de Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao período da segunda gestão de Fernando Henrique Cardoso, de 1999 a 2002. Sob influência de um cenário externo favorável, a composição dos resultados também sofreu uma transformação radical: diminuiu a fatia dos bancos e da Petrobras e aumentou a participação de empresas não-financeiras, como siderúrgicas, mineradoras e de papel e celulose, que viram a demanda por seus produtos crescer no mercado internacional a partir de 2003.
As conclusões estão em levantamento realizado pela consultoria Economática a pedido da Folha, com base nos balanços de 193 empresas abertas. Fernando Exel, presidente da Economática, afirma que o universo analisado representa cerca de 80% dos lucros das companhias cotadas em Bolsa. Estão fora do estudo dois setores importantes, o agronegócio e a indústria automobilística, que estão virtualmente fora do mercado de ações. Os valores anuais foram atualizados pela inflação até 30 de junho deste ano, o que permite sua comparação.
A soma do lucro líquido das 193 empresas analisadas deu um salto de R$ 103,5 bilhões para R$ 271,6 bilhões entre o último mandato de FHC e a administração Lula. A diferença, de R$ 168,1 bilhões, representa aumento de 162,4%. "Pouco disso é resultado de medidas do governo. Muito vem do cenário internacional extremamente favorável", afirma Exel.
A grande novidade dos últimos três anos e meio é o fato de que a maior parte do aumento nos lucros veio do setor não-financeiro, já excluída a Petrobras. Esse segmento contribuiu com 64% da expansão de R$ 168,1 bilhões no lucro líquido. A Petrobras entrou com 21% e os bancos, com 15%.
Isso não significa que as instituições financeiras e a Petrobras ganharam pouco dinheiro sob a gestão petista. Pelo contrário. O lucro dos bancos aumentou nos últimos três anos 80,5%, para R$ 57,6 bilhões. O valor só foi inferior aos R$ 77,4 bilhões da Petrobras, maior empresa do país, que viu seu resultado líquido crescer 83% no período graças à alta do petróleo no mercado externo.
O que ocorreu foi o aumento ainda maior dos ganhos de outros setores. O de siderurgia e metalurgia registrou lucro 441% superior ao obtido entre 1999 e 2002. As empresas de papel e celulose expandiram seus ganhos em 180%, e as do setor químico, em 242%.
Com a alta da demanda chinesa por minério de ferro, as mineradoras também tiveram um bom período e lucraram 133% a mais na gestão do PT.
Segundo Exel, a diferença no comportamento do dólar nos dois períodos é outro fator que explica o aumento dos resultados. Nos quatro anos do último mandato de FHC, o real se desvalorizou em relação à moeda norte-americana, o que dificultou a vida das empresas que tinham dívidas em dólares.
No governo Lula, ocorre exatamente o contrário. A valorização do real em relação ao dólar reduz o peso da dívida das empresas e "turbina" o lucro líquido. As exportadoras se queixam do dólar barato, mas esse cenário melhora os números estampados pelas companhias em seus balanços.
No caso dos bancos, Exel sustenta que o aumento de 80,5% no lucro não tem origem nos juros altos. O economista lembra que a taxa de juro real dos quatro anos de FHC foi ligeiramente superior à praticada por Lula. Para ele, o maior volume de empréstimos elevou o lucro dos bancos.


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