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ELEIÇÕES 2006 / FINANCIAMENTO
Setor não-financeiro supera bancos e lucra 162% sob gestão Lula
Cenário externo favorável e dólar baixo impulsionam ganhos de siderúrgicas, mineradoras e empresas de papel e celulose
Estudo feito a pedido da Folha compara lucros de 193 empresas abertas no 2º mandato de FHC com seus ganhos no governo do PT
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O lucro líquido das grandes
empresas com ações em Bolsa
quase triplicou nos três anos e
meio de governo de Luiz Inácio
Lula da Silva em relação ao período da segunda gestão de Fernando Henrique Cardoso, de
1999 a 2002. Sob influência de
um cenário externo favorável, a
composição dos resultados
também sofreu uma transformação radical: diminuiu a fatia
dos bancos e da Petrobras e aumentou a participação de empresas não-financeiras, como
siderúrgicas, mineradoras e de
papel e celulose, que viram a
demanda por seus produtos
crescer no mercado internacional a partir de 2003.
As conclusões estão em levantamento realizado pela
consultoria Economática a pedido da Folha, com base nos
balanços de 193 empresas
abertas. Fernando Exel, presidente da Economática, afirma
que o universo analisado representa cerca de 80% dos lucros das companhias cotadas
em Bolsa. Estão fora do estudo
dois setores importantes, o
agronegócio e a indústria automobilística, que estão virtualmente fora do mercado de
ações. Os valores anuais foram
atualizados pela inflação até 30
de junho deste ano, o que permite sua comparação.
A soma do lucro líquido das
193 empresas analisadas deu
um salto de R$ 103,5 bilhões
para R$ 271,6 bilhões entre o
último mandato de FHC e a administração Lula. A diferença,
de R$ 168,1 bilhões, representa
aumento de 162,4%. "Pouco
disso é resultado de medidas
do governo. Muito vem do cenário internacional extremamente favorável", afirma Exel.
A grande novidade dos últimos três anos e meio é o fato de
que a maior parte do aumento
nos lucros veio do setor não-financeiro, já excluída a Petrobras. Esse segmento contribuiu com 64% da expansão de
R$ 168,1 bilhões no lucro líquido. A Petrobras entrou com
21% e os bancos, com 15%.
Isso não significa que as instituições financeiras e a Petrobras ganharam pouco dinheiro
sob a gestão petista. Pelo contrário. O lucro dos bancos aumentou nos últimos três anos
80,5%, para R$ 57,6 bilhões. O
valor só foi inferior aos R$ 77,4
bilhões da Petrobras, maior
empresa do país, que viu seu
resultado líquido crescer 83%
no período graças à alta do petróleo no mercado externo.
O que ocorreu foi o aumento
ainda maior dos ganhos de outros setores. O de siderurgia e
metalurgia registrou lucro
441% superior ao obtido entre
1999 e 2002. As empresas de
papel e celulose expandiram
seus ganhos em 180%, e as do
setor químico, em 242%.
Com a alta da demanda chinesa por minério de ferro, as
mineradoras também tiveram
um bom período e lucraram
133% a mais na gestão do PT.
Segundo Exel, a diferença no
comportamento do dólar nos
dois períodos é outro fator que
explica o aumento dos resultados. Nos quatro anos do último
mandato de FHC, o real se desvalorizou em relação à moeda
norte-americana, o que dificultou a vida das empresas que tinham dívidas em dólares.
No governo Lula, ocorre exatamente o contrário. A valorização do real em relação ao dólar reduz o peso da dívida das
empresas e "turbina" o lucro líquido. As exportadoras se queixam do dólar barato, mas esse
cenário melhora os números
estampados pelas companhias
em seus balanços.
No caso dos bancos, Exel
sustenta que o aumento de
80,5% no lucro não tem origem
nos juros altos. O economista
lembra que a taxa de juro real
dos quatro anos de FHC foi ligeiramente superior à praticada por Lula. Para ele, o maior
volume de empréstimos elevou
o lucro dos bancos.
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