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ELIO GASPARI
A bolsa da Viúva melhorou a vida do pobre
Os programas sociais funcionam, mas o mercado
de trabalho do andar
de baixo deteriorou-se
TRÊS PESQUISADORES do Cebrap
(Argelina Cheibub Figueiredo,
Haroldo da Gama Torres e Renata Bichir) puseram na rua dois artigos
que merecem ser lidos por quem queira
acompanhar a discussão de políticas sociais durante a campanha eleitoral. Um
saiu na revista "Inteligência" e, felizmente, está na internet. Chama-se
"Renda e votos: o democrático toma lá
dá cá". O outro é "A conjuntura brasileira revisitada", publicado pela "Novos
Estudos". Ambos partem da análise de
duas pesquisas feitas em 1991 e 2004
junto ao universo dos 40% mais pobres
da cidade de São Paulo (renda mensal
domiciliar inferior a R$ 520,00).
Trazem três notícias. Primeiro as
duas boas: os programas de ajuda aos
pobres funcionam e a vida do andar de
baixo melhorou. A ruim: como o emprego deteriorou-se, esse êxito não tem
nada a ver com a construção de um país
novo e melhor. Trata-se de um serviço
de lanternagem numa sociedade onde
marretaram o trabalhador.
A eficácia dos programas sociais entusiasma: 63% dos beneficiados pelas
iniciativas municipais, estaduais e federais têm renda familiar per capita inferior a meio salário mínimo. Nessa faixa,
o socorro da Viúva equivale a 21% do orçamento da casa. A história de que o dinheiro vai para quem não precisa é conversa de demófobo com saudade do
Proer. (Ainda assim, os favelados tendem a ficar fora do alcance das Bolsas-Viúva.)
Entre 1991 e 2004 o mercado de trabalho deteriorou-se. Caiu o número de
adultos empregados, e quem conseguiu
serviço foi empurrado para a informalidade. Cerca da metade dos trabalhadores que dispunham da rede de proteção
do INSS foi jogada ao mar. A percentagem dos que recebiam vale-transporte
encolheu de 44% para 32%. Os trabalhadores beneficiados por cestas básicas ou vales-refeição caiu de 77% para
36%. Ou seja, o tunga-trabalhador mordeu metade dos assistidos de 1991.
Se de um lado houve um processo de
degradação do emprego, a informalidade e a perda de benefícios não resultaram numa ruína. Pelo contrário. A renda da faixa dos 40% mais pobres passou
de 2,7 salários mínimos em 1991 para
4,2 em 2004. Isso se deveu aos bicos,
proventos de aposentadoria e ao socorro dos governos.
A vida dos 40% mais pobres de São
Paulo melhorou. O acesso a bens duráveis expandiu-se. As geladeiras foram
de 84% para 96% dos domicílios dessa
faixa; os carros, de 11,5% para 20,3%. Os
telefones fixos saíram de 6,2% para
57,1%. Há DVDs em cerca de um terço
dos domicílios.
Nas casas do andar de baixo há água e
luz (97%), coleta de lixo (93%) e saneamento (75%). O serviço público de pior
qualidade é a ronda policial (59%). Surpresa: comparando as avaliações de
1991 e de 2004, os pobres consideram-se melhor atendidos na rede escolar e
nos postos médicos.
Nove em dez famílias valeram-se dos
serviços de saúde e em 2004 o tempo
médio de espera para uma consulta era
de 39 dias. (No andar de cima, o Consulado Americano pede 53 dias para agendar um pedido de visto, cobrando R$ 38
pelo telefonema.)
Em 2004, depois da eleição municipal, de cada dez pobres, quatro tinham
preferência partidária. Para cada eleitor tucano havia mais de três petistas
(8% contra 27%).
O trabalho mostra que a realidade é
mais complexa que o paraíso vendido
por Nosso Guia. Que conclusão se pode
tirar desses números? Nada melhor do
que transcrever os autores:
"Pensando nos próximos anos, vale
destacar que, na esfera do trabalho, a
perspectiva para os mais pobres não é
muito animadora. (...) Embora a atuação do Estado, por meio de serviços públicos e políticas sociais, tenha conseguido "amortecer" os efeitos da forte deterioração das condições de trabalho
dos mais pobres, cabe perguntar até que
ponto ele será capaz de cumprir esse
papel no futuro próximo".
Cautela
O vice-presidente José Alencar deve procurar a Receita Federal. Uma consulta ao sítio do
Leão informa que seu CPF
(003 074 836-49) não permite
a emissão de um nada consta
por meio da internet. O silêncio
não quer dizer nada. Pode ser
conseqüência de um mero erro
de digitação. Mesmo assim, como Alencar é candidato à reeleição, nada melhor do que limpar os trilhos.
Lula e seus zumbis
O PT arrisca sair da eleição
com três governos estaduais
(Acre, Piauí e Sergipe), liderando uma bancada menor que a
de hoje. Uma estimativa da provável composição do novo Congresso sugere que Nosso Guia
precisará caçar parlamentares
na bacia das almas, junto aos
pequenos partidos, muito dos
quais hibernarão, congelados
pela cláusula de desempenho.
Será a bancada dos zumbis. Poderá ter em torno de cem deputados. Não se deve dizer que todo zumbi gosta de ambulância,
mas quase todos os adoradores
de ambulâncias são zumbis.
Gatilho rápido
De um conhecedor das mumunhas de Nosso Guia:
"Quando Lula era sindicalista e ficava sem assunto, ia na
gaveta e tirava a agenda de reforma da Consolidação das Leis
do Trabalho. Vai completar
quatro anos de mandato e não
mexeu nela. Desde que fundou
o PT, supre qualquer período
de falta de assunto com a proposta de uma reforma política".
Renan na mira
O presidente do Senado, Renan Calheiros corre o risco de
ser defrontado com uma rebelião de meia dúzia de colegas
com biografias acima de suspeitas, mesadas e ambulâncias.
Meada velha
A Operação Dilúvio, na qual a
Polícia Federal capturou 102
membros de uma quadrilha de
fraudadores de exportações,
tem uma perna visível no mercado de espertalhões de Miami.
Há outra no Paraguai, com
mais de 30 anos de boas conexões na vida política e nas malandragens nacionais.
Cobras e brazões
Para quem acha que a família
de "Foguinho" (Lázaro Ramos)
exagera, o comportamento noturno do príncipe Harry de
Windsor leva a pensar que a vida real da monarquia inglesa
perde para a novela das sete. A
saber: Harry não seria filho do
príncipe Charles, mas do major
James Hewitt, titular do afeto
de Lady Di à época. (Se bobear,
concebido na Embaixada do
Brasil, onde a princesa tinha escova de dentes.) Tio Andrew, irmão mais moço de Charles, seria filho de Lord Porchester, senhor dos estábulos reais. Porchester é neto do Lord Carnarvon, que patrocinou a escavação da tumba de faraó Tutankhamon e foi a primeira vítima
da praga da múmia. Isso tudo
sem contar o núcleo "Páginas
da Vida" da casa real. A mãe da
Rainha Elizabeth ajudou a esconder num sanatório duas sobrinhas que nasceram com lesões cerebrais. Em 1963 o almanaque da nobreza deu-as por
mortas. Uma viveu até 1986 e a
outra continua internada, em
local desconhecido.
Sabedoria
A Ordem dos Economistas
do Brasil concedeu o prêmio de
Economista do Ano ao professor André Lara Resende, que se
mudou para Londres. Sócio-fundador da ekipekonômica,
deveria ter recebido o Homem
de Visão, mas infelizmente esse
adereço saiu de circulação.
SERVIÇO - O artigo da revista "Inteligência" está no
seguinte endereço: www.insightnet.com.br/inteligencia/
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