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ELDORADO DO CARAJÁS
José Gregori, secretário de Direitos Humanos, pede a anulação da decisão da Justiça do Pará
FHC critica resultado do julgamento
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique
Cardoso afirmou
que a impunidade
prejudica a democracia, ao comentar
o julgamento dos oficiais da Polícia Militar do Pará acusados pelo
Ministério Público de serem responsáveis pelo massacre de 19
sem-terra em Eldorado do Carajás, em abril de 1996.
"Como cidadão, eu lamento
que o Brasil não tenha ainda, o
conjunto da sociedade, tomado
consciência de que a impunidade,
a sensação de impunidade é o que
impede a consolidação da democracia", disse ele.
No julgamento, foram inocentados o comandante da operação,
o coronel Mário Colares Pantoja,
o major José Maria Oliveira e o capitão Raimundo José Almendra.
De acordo com os jurados, as provas contra eles eram insuficientes.
FHC disse que "esperava algum
grau de condenação, em vários
níveis, uma reprimenda moral
que seja". "Se há algo que revoltou o país e a mim, foi o massacre
de Eldorado do Carajás."
"Isso (o massacre) é inaceitável.
O Brasil não pode mais conviver
com esses fatos", afirmou FHC. O
presidente disse esperar que "nas
próximas decisões o país se sinta
mais seguro de que não haverá
impunidade".
Questionado sobre a repercussão internacional da decisão, FHC
declarou que "o Brasil, e lá fora a
mesma coisa, espera que haja
apuração de responsabilidades".
"Eu não posso dizer "fulano foi
responsável, beltrano não foi".
Mas não pode ser que ninguém
foi. Alguém foi (responsável)".
O secretário de Estado de Direitos Humanos, José Gregori, defendeu ontem a anulação do julgamento que absolveu os oficiais.
"Decisão judicial que não faz
justiça não é para ser lamentada, é
para ser anulada por um novo julgamento", afirmou ele, segundo
nota oficial distribuída por sua assessoria de imprensa.
"É difícil entender que os chefes
de uma expedição policial que resulte em 19 mortes, com seis execuções a frio, não mereçam determinado tipo de punição", diz a
nota do secretário.
O ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) disse estar envergonhado com o resultado do julgamento do massacre de Eldorado do Carajás.
"Respeito a Justiça de meu país
e confio que esse resultado adiante possa ser revertido. Lamento
profundamente a decisão e hoje
me sinto envergonhado", afirmou Jungmann. Emocionado,
chegou a interromper diversas
vezes seu discurso.
"O Brasil não pode carregar na
consciência os 19 mortos de Eldorado do Carajás sem a punição
exemplar de quem cometeu isso.
Senão, todos nós, brasileiros, somos culpados", disse o ministro.
"A decisão do júri foi um fracasso, uma decepção, um escândalo
e reforça a impunidade", declarou d. Tomás Balduíno, presidente da CPT (Comissão Pastoral da
Terra), entidade ligada à Igreja
Católica que monitora a violência
no campo e assessora movimentos de sem-terra.
O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil), d. Jayme Chemello, disse
que não conhece o processo sobre
a chacina, mas achou estranho
que os policiais militares acusados tenham alegado que agiram
em legítima defesa.
"É muito estranho o uso de metralhadoras em ações de legítima
defesa", afirmou Chemello. "É
um caso muito complicado porque não houve mortes entre os
militares para sustentar a alegação de legítima defesa", afirmou
ele.
O ministro José Carlos Dias
(Justiça) evitou comentar a absolvição dos oficiais da Polícia Militar do Pará. Disse que adotou essa
posição para não cometer "uma
ingerência absurda" nas atividades do Poder Judiciário.
"Como ministro que representa
o Poder Executivo, eu não posso
dizer se foi justo ou injusto o resultado do julgamento", afirmou
ele. "Não há reparos a fazer quanto aos aspectos formais do julgamento", acrescentou.
(WILSON SILVEIRA, ABNOR GONDIM e RAQUEL SÁ)
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