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PF usa helicópteros armados em ação
WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL A BURITIS (MG)
A Polícia Federal usou ontem
três helicópteros ocupados por
homens fortemente armados, inclusive com metralhadoras, numa
ação que foi interpretada pelos
sem-terra como uma nova tentativa de intimidação por parte do
governo. Foram quase cinco minutos de sobrevôos com as portas
abertas, em rasantes que simulavam ataques a um inimigo, com
armas apontadas em direção às
barracas de lonas.
A ação assustou os sem-terra,
que completaram ontem oito dias
nas proximidades da fazenda dos
filhos do presidente Fernando
Henrique Cardoso.
Os helicópteros da PF -com
cerca de 15 homens- permaneceram na área interna da fazenda
Córrego da Ponte até o final da
tarde de ontem. A Folha apurou
que a ação foi coordenada pelo
delegado Daniel Sampaio, chefe
do COT (Comando de Operações
Táticas), o grupo de elite da PF.
Ontem, a guarda da fazenda era
feita por cerca de 25 policiais federais e 300 militares do Exército.
Os acampados do MST, em assembléia realizada pouco depois
dos sobrevôos, decidiram redobrar os cuidados com a própria
segurança. Temem que sejam
criadas situações para que, por
descuido, eles entrem em atrito
com os policiais federais ou com a
tropa do Exército, que continuam
na fazenda. Foi decidido que cada
sem-terra deve portar uma arma
branca (facão, porrete ou foice) e
evitar andar desacompanhado.
Segundo os líderes do MST, a
ordem é enfrentar qualquer tentativa de prisão e, se for o caso, "baixar o cacete". Os acampados passaram a tarde de ontem recolhendo galhos e fabricando porretes.
Segundo Lucídio Ravanello,
coordenador do acampamento,
os sem-terra estão com "disposição psicológica" para enfrentar
mais vários dias diante da fazenda. Os acampados são cerca de
500. Eles montaram suas barracas
ao longo de 200 metros, embaixo
das árvores que cercam a fazenda
em frente à dos filhos de FHC.
Jejum e leitão
Os sem-terra decidiram integrar
a partir de amanhã o jejum deflagrado pela direção nacional do
MST. "Queremos forçar negociações com o governo. Se elas não
acontecerem, o jejum pode evoluir para uma greve de fome",
afirmou Ravanello. Segundo ele,
basta o governo marcar hora e local do encontro para que os manifestantes recuem, pela segunda
vez, do acampamento em frente à
fazenda.
Enquanto isso, o Exército fez a
reposição da tropa que mantém
desde o dia 10 na fazenda. Durante a noite de anteontem, chegaram sete caminhões com soldados, equipamentos e mantimentos. Ainda durante a madrugada,
alguns soldados fizeram exercícios de instrução próximos à porteira principal da fazenda -que
continua isolada com um toldo
negro, colocado pelos sem-terra.
"Temos o direito de manter a
nossa privacidade e de não sermos filmados, ilegalmente, pela
Polícia Federal e pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência)",
afirmou Ravanello, ao justificar a
colocação do toldo em frente à
porteira principal.
A diversão de alguns dos acampados ontem foi passear com o
"Fernando Henrique", um leitão
branco de dois meses de idade
que foi doado aos manifestantes
há três dias e passa o dia sendo
conduzido por uma corda amarrada na pata traseira. "A gente
não quer matar ele agora não,
mas se daqui a duas semanas ele
ganhar mais peso, arrisca a gente
comer ele", afirmou Euzébio Oliveira, do projeto de acampamento Vida Nova, de Buritis, responsável pela guarda do leitão -que
tem as orelhas e as costas tingidas
com as iniciais "FHC".
Crédito
O MST concorda em sair da
frente da fazenda dos filhos do
presidente Fernando Henrique
Cardoso e das proximidades de
Buritis (MG) se o governo sinalizar com a possibilidade de atender suas reivindicações. O principal pleito dos sem-terra é a liberação de R$ 2.000 para cada uma
das 110 mil famílias mais carentes
dos assentamentos para custear a
safra deste ano. O governo tem se
negado a acatar o pedido.
Gilberto Portes, da direção nacional do MST, garantiu ainda
que os manifestantes que fazem
vigília na frente de prédios públicos que haviam sido invadidos
por sem-terra também sairiam.
O MST não exige mais que um
membro do Ministério da Fazenda ou FHC participe da reunião.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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