São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 2002

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MÍDIA

Para preservar imagem, candidatos são mais agressivos no rádio do que na TV

Longe dos olhos perto do fígado

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Se no horário eleitoral da TV o PT ainda tentou manter um tom moderado em sua resposta a Serra, no rádio o partido fez ataques mais diretos ao tucano, afirmando que ele partiu para a "baixaria" e merece um "puxão de orelha".
O movimento faz parte uma estratégia adotada pela maioria dos políticos: deixar para o rádio as críticas mais pesadas ao adversário, tentando não ter a sua imagem atrelada à agressividade.
Duda Mendonça, marqueteiro da campanha de Lula, é adepto dessa tática e chegou a falar dela em seu livro "Casos e Coisas", sobre marketing político, de 2001. Assim, elaborou para o rádio uma resposta contundente aos ataques disparados na televisão, terça, pelo PSDB, que disse que "o PT que você vê na TV é maquiado".
Locutores petista rebateram ontem no ar: "Já começou a baixaria. Que coisa mais sem modos. O Serra, uma pessoa com estudo, cheio de diploma, diz que é preparado... Mas tá merecendo mesmo é um puxão de orelha! Não é o jeito de agir de um candidato à Presidência da República, né?!".
Na TV, a resposta foi um tom abaixo. A propaganda preferiu "vitimizar" Lula e optou por criticar a política de empregos do atual governo, dizendo que Serra já teve a chance de criá-los.
No rádio, a propaganda petista também respondeu com ataques à acusação do tucano de que "Lula renegou a promessa de gerar 10 milhões de empregos". "Nessa confusão toda de número, quantos empregos [o Lula vai gerar]? Seriam necessários 10 milhões. Só pra recuperar o tanto de desempregados do governo FHC, precisa mais de 11 milhões. Mas, se o PSDB de Serra e do Fernando Henrique sabe criar 8 milhões, por que não fez antes?"
O projeto "Segunda-Feira", de Serra, já fora satirizado pelo PT no rádio. Imitando Silvio Santos, um locutor disse: "É o "Show dos Oito Milhões de Empregos". Vamos abrir a "Porta da Lambança". Oiê! Só tem 15 empregos. É pouco!".
A campanha de Serra reserva ao rádio ataques mais irônicos. É dos tucanos a figura mais caricata do horário eleitoral: Tony Show da Paraíba, comunicador famoso em João Pessoa, que abusa da linguagem popular e grita no comando do programa "Hora da Verdade".
Tony foi escolhido para criticar Ciro Gomes (PPS), quando ele estava em segundo lugar. Foi o âncora que explorou o "caso Patrícia Pillar" (em que Ciro disse que o papel da mulher era dormir com ele). Chegou a dizer que "tomava cacete" da mulher se dissesse o mesmo. Na TV, Serra não usou o episódio e optou por homenagear às mulheres.
Já Ciro, apesar de ter concentrado a participação de Patrícia Pillar no rádio, não tem usado estrategicamente o veículo. Respondeu abertamente na TV às críticas feitas por Serra na "Hora da Verdade". E muitas vezes usa o mesmo programa da TV no rádio, o que torno alguns trechos incompreensíveis aos ouvintes e cria situações esdrúxulas. Para se defender dos ataques de Serra, por exemplo, disse no rádio: "Mulher, olhe fundo nos meus olhos".
Para o rádio também fica reservado o tom mais debochado contra os adversários. Sério na televisão, o candidato do PT ao governo de São Paulo, José Genoino, criou um quadro para o rádio: "O governador deve tá subindo a serra. Ih! Mas, se depender de Serra pra subir, tá lascado!".



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