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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/DEPOIS DO "MENSALINHO"
Márcio Fortes, indicado pelo presidente da Câmara, deve ser mantido no ministério
Severino se reúne com Lula para avisar que renunciará
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), reuniu-se no início da noite de ontem
com o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva para comunicar que renunciará ao mandato de deputado federal amanhã. Lula recebeu
Severino com a disposição de
manter o ministro Márcio Fortes
(Cidades), indicado pelo deputado na cota do PP.
O encontro durou cerca de uma
hora, e apenas o ministro Jaques
Wagner (Relações Institucionais)
participou da conversa -na parte final. O Planalto não permitiu
que a reunião fosse fotografada.
Segundo o relato de assessores e
políticos próximos a Severino, o
presidente da Câmara disse a Lula
que renunciará ao mandato, o
que será anunciado em discurso
amanhã à tarde no plenário da
Câmara. Lula teria dito apenas
que essa deve ser uma decisão
pessoal de Severino.
Ainda de acordo com esses relatos, não foi discutida a situação
dos indicados por Severino no governo. O Planalto, porém, já indicou ao presidente da Câmara que
ao menos Márcio Fortes está garantido no posto.
Conforme a Folha apurou, o
Planalto pretende manter Fortes
nas Cidades, alegando que ele já
era do governo antes de ser alçado
ao cargo, tem bom conceito interno e passa a ser da "cota do PT".
Considerado "técnico", o governo não deseja carimbar Fortes como apadrinhado de Severino,
apesar de o presidente da Câmara
ter sido decisivo na nomeação.
A respeito do filho de Severino,
José Maurício Cavalcanti, que tem
um cargo federal em Pernambuco, a tendência é mantê-lo, ao menos inicialmente. Seu futuro, porém, dependeria das pressões políticas para tirá-lo do posto.
O presidente da Infraero, o ex-deputado Carlos Wilson, hoje no
PT, conversou no domingo com
Wagner e foi como emissário do
Planalto, ontem, falar com Severino. Basicamente, foi estabelecer
uma espécie de "manual" para a
conversa com Lula, que não aceitou um encontro informal.
Entre as regras, a principal era
discrição. Carlos Wilson, pernambucano como Severino, explicou ao conterrâneo que Lula
não queria ser pressionado a
apoiá-lo nem admitiria que a conversa enveredasse pelos cargos
que o atual presidente da Câmara
mantém no governo.
Outros acertos prévios para a
conversa: o deputado não deveria
pedir o que Lula não poderia lhe
dar, caso de apoio público, nem
discutir nomes à sua sucessão.
Lula quer ficar distante da crise
que, neste caso, é exclusiva da Câmara. Nem quer se vincular com
Severino nem mergulhar ostensivamente nas articulações para sucedê-lo. O Planalto tem candidato
e atua, mas, quanto mais por trás
dos panos, melhor para Lula.
Desde a semana passada, interlocutores de Severino Cavalcanti
passaram a sondar o Planalto sobre a possibilidade de um encontro do presidente da Câmara com
Lula. A princípio, Lula resistiu,
pois não queria uma conversa
sem caráter institucional.
Discurso leve
O deputado João Caldas (PL-AL), que esteve ontem com o presidente da Câmara, disse que o
discurso-despedida de Severino
Cavalcanti não deverá fazer ataques contra o governo, mas servirá como prestação de contas de
sua passagem-relâmpago (de sete
meses) pela presidência da Casa.
"Ele vai lembrar os avanços que
promoveu na Câmara e dos projetos que foram aprovados sob
sua liderança", disse Caldas, quarto-secretário da Mesa Diretora e
um assíduo visitante da residência oficial de Severino. "Ele não
tem ódio nem mágoa", afirmou.
Segundo Caldas, o discurso ainda não estava concluído. "Dependendo da conversa, ele pode até
adiantar sua manifestação pública", afirmou. Em sua defesa, Severino falará que não pegou "mensalinho", como acusou Buani.
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