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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ
Há 2 anos querem barrar reeleição, diz Lula
Em viagem a Nova York, presidente questiona a quem interessaria "melar o processo eleitoral a essa altura do campeonato"
Petista diz que oposição está tentando inviabilizar seu governo há dois anos e que não aceitará insinuação contra a sua administração
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que mandará a
Polícia Federal fazer uma investigação "para saber o que
aconteceu nesse país". Sem citar nomes ou eventos específicos, afirmou que a ele, "como
presidente", só cabe fazer uma
coisa: "investigar a fundo quem
estiver envolvido, doa a quem
doer". "E as pessoas todas que
praticarem qualquer coisa ilícita têm de pagar", disse.
Lula declarou que não aceitaria que fizessem qualquer insinuação contra o governo, sem
se referir nominalmente ao ex-assessor especial da Secretaria
Particular da Presidência,
Freud Godoy, que pediu demissão anteontem nem a Jorge Lorenzetti. Os dois são acusados
de parte no escândalo da venda
de dossiê que ligaria o candidato ao governo paulista, José
Serra, à máfia sanguessuga.
"Todo o mundo conhece meu
comportamento e sabe que
acho abominável esse tipo de
comportamento na política
brasileira", disse. E reiterou:
"A-bo-mi-ná-vel". Lula pediu
que os eleitores considerem a
quem interessava "melar o processo eleitoral a essa altura do
campeonato". "Estou a dez dias
da eleição e minha situação está altamente favorável", afirmou. "Por que haveria alguém
que quer me ajudar fazer um
ato insano desses?".
Visivelmente cansado e abatido, com voz rouca, o presidente estava em NY para participar
da abertura da 61ª Assembléia
Geral da ONU. Falou a jornalistas por três minutos, em entrevista tumultuada, na saída de
evento na sede da entidade, do
qual participaram também o
ex-presidente Bill Clinton, dos
EUA, e o presidente francês,
Jacques Chirac. "Já perdi eleições e estive em situações altamente desfavoráveis e em nenhum momento utilizei qualquer tipo de denúncia contra
qualquer candidato, mesmo
quando havia gente achando
que deveria fazer. Não fiz", desabafou o presidente. "O último
caso foi o das Ilhas Cayman,
quando preferi entregar aos
acusados o chamado dossiê",
disse, referindo-se a supostas
contas de tucanos no exterior.
Indiretamente, porém, atacou o partido dos adversários:
"Faz mais ou menos dois anos
que [os que o acusam] querem
que eu não participe da reeleição, eles dizem que não vão
permitir, faz dois anos que eles
tentam criar todo tipo de confusão para evitar que o nosso
governo tenha o resultado que
está tendo." Anteontem, o
PSDB pediu que o TSE casse a
candidatura de Lula.
Por fim, Lula fez uma comparação futebolística e mencionou a partida do Brasil contra a
Chile nas eliminatórias da Copa de 1990: "De vez em quando,
fico vendo as notícias e fico
lembrando de um goleiro chileno que, na disputa final com o
Brasil, finge que está machucado para tentar melar o jogo.
Graças a Deus que as investigações descobriram que ele estava fingindo."
A guerra do Iraque foi um dos
principais temas do discurso
que Lula fez na abertura da assembléia. O presidente falou
ainda sobre o combate à fome,
Bolsa Família e o comércio
mundial. "Se não quisermos
globalizar a guerra, é preciso
globalizar a justiça", discursou.
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