São Paulo, quarta-feira, 20 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ

Há 2 anos querem barrar reeleição, diz Lula

Em viagem a Nova York, presidente questiona a quem interessaria "melar o processo eleitoral a essa altura do campeonato"

Petista diz que oposição está tentando inviabilizar seu governo há dois anos e que não aceitará insinuação contra a sua administração


SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que mandará a Polícia Federal fazer uma investigação "para saber o que aconteceu nesse país". Sem citar nomes ou eventos específicos, afirmou que a ele, "como presidente", só cabe fazer uma coisa: "investigar a fundo quem estiver envolvido, doa a quem doer". "E as pessoas todas que praticarem qualquer coisa ilícita têm de pagar", disse.
Lula declarou que não aceitaria que fizessem qualquer insinuação contra o governo, sem se referir nominalmente ao ex-assessor especial da Secretaria Particular da Presidência, Freud Godoy, que pediu demissão anteontem nem a Jorge Lorenzetti. Os dois são acusados de parte no escândalo da venda de dossiê que ligaria o candidato ao governo paulista, José Serra, à máfia sanguessuga.
"Todo o mundo conhece meu comportamento e sabe que acho abominável esse tipo de comportamento na política brasileira", disse. E reiterou: "A-bo-mi-ná-vel". Lula pediu que os eleitores considerem a quem interessava "melar o processo eleitoral a essa altura do campeonato". "Estou a dez dias da eleição e minha situação está altamente favorável", afirmou. "Por que haveria alguém que quer me ajudar fazer um ato insano desses?".
Visivelmente cansado e abatido, com voz rouca, o presidente estava em NY para participar da abertura da 61ª Assembléia Geral da ONU. Falou a jornalistas por três minutos, em entrevista tumultuada, na saída de evento na sede da entidade, do qual participaram também o ex-presidente Bill Clinton, dos EUA, e o presidente francês, Jacques Chirac. "Já perdi eleições e estive em situações altamente desfavoráveis e em nenhum momento utilizei qualquer tipo de denúncia contra qualquer candidato, mesmo quando havia gente achando que deveria fazer. Não fiz", desabafou o presidente. "O último caso foi o das Ilhas Cayman, quando preferi entregar aos acusados o chamado dossiê", disse, referindo-se a supostas contas de tucanos no exterior.
Indiretamente, porém, atacou o partido dos adversários: "Faz mais ou menos dois anos que [os que o acusam] querem que eu não participe da reeleição, eles dizem que não vão permitir, faz dois anos que eles tentam criar todo tipo de confusão para evitar que o nosso governo tenha o resultado que está tendo." Anteontem, o PSDB pediu que o TSE casse a candidatura de Lula.
Por fim, Lula fez uma comparação futebolística e mencionou a partida do Brasil contra a Chile nas eliminatórias da Copa de 1990: "De vez em quando, fico vendo as notícias e fico lembrando de um goleiro chileno que, na disputa final com o Brasil, finge que está machucado para tentar melar o jogo. Graças a Deus que as investigações descobriram que ele estava fingindo."
A guerra do Iraque foi um dos principais temas do discurso que Lula fez na abertura da assembléia. O presidente falou ainda sobre o combate à fome, Bolsa Família e o comércio mundial. "Se não quisermos globalizar a guerra, é preciso globalizar a justiça", discursou.


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