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"Anfíbios" transitam entre petistas e tucanos
"Tanto converso com Lula como janto com Serra", diz Jobim, expoente máximo de grupo que se equilibra entre as duas siglas
Aproximação se deve, na maioria dos casos, a laços antigos de amizade; em outros, a necessidades recentes dos envolvidos
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
Quanto mais próxima a disputa eleitoral de 2010, mais
acirrada se torna a rivalidade
entre petistas e tucanos pela
hegemonia política do país.
No meio dessa guerra, um
grupo de políticos e economistas equilibra-se entre a fidelidade ao presidente Lula e a proximidade do governador José
Serra, virtual candidato tucano
à Presidência.
Como anfíbios, transitam de
um círculo de confiança a outro
com desenvoltura, na maioria
das vezes com o conhecimento
dos dois líderes políticos.
Fazem parte desse grupo, entre outros, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, o deputado
federal petista Antonio Palocci
e o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social),
Luciano Coutinho, além do
economista Luiz Gonzaga Belluzzo e do advogado petista
Sigmaringa Seixas.
Almoço e jantar
Na maioria dos casos, essa
habilidade resulta de relações
antigas de amizade. Em outros,
de necessidades recentes.
Jobim é o expoente máximo
desse grupo. Ele e Serra dividiram um apartamento em Brasília por seis anos, nos anos 80. O
governador de São Paulo é seu
padrinho de casamento.
As conversas entre Serra e
Jobim vão da crise aérea ao modelo de exploração das reservas
do pré-sal -a relação entre ambos foi determinante para que o
governo desistisse de incluir no
projeto sobre o tema a redistribuição geográfica dos royalties.
Consultado pela Folha, Jobim enviou a seguinte resposta:
"Eu não misturo política com
relações pessoais. Serra é um
grande amigo. É um hábito sul-americano misturar política
com relações pessoais. Pois eu
tanto converso com Lula como
janto com Serra".
Se Jobim é o anfíbio mais
tradicional, Palocci é o mais
novo integrante desse grupo.
Ele se aproximou de Serra
quando, ministro da Fazenda,
cercou-se de pessoas mais alinhadas ao viés técnico tucano
que ao instinto político petista.
Mas só ingressou mesmo no
rol de confidentes de Serra no
último ano, durante o esforço
que fez para se livrar da acusação de orquestrar a quebra do
sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.
Serra e Palocci conversam
regularmente sobre os mais variados assuntos, do cenário
eleitoral ao "excesso" de gastos
públicos, passando pelo papel
dos bancos públicos.
Dessas conversas, por exemplo, Serra tirou a impressão, relatada posteriormente a correligionários, de que Palocci não
será candidato à Presidência
nem ao governo de São Paulo.
Serra teria encorajado Palocci a voltar ao governo, talvez
para o Ministério das Relações
Institucionais, ocupado até a
semana passada por José Múcio Monteiro, indicado para o
Tribunal de Contas da União.
Seria uma maneira, segundo
o governador, de impedir um
processo de deterioração administrativa, comum a governos em final de mandato. Reticente, Palocci disse estar propenso a buscar a reeleição.
O bem maior
Ex-tucano, o petista Sigmaringa Seixas é o anfíbio mais
discreto. Lula o recebe para
consultas relacionadas a nomeações de tribunais e ao Ministério da Justiça. Muitas vezes, a pedido do presidente, Seixas testa a reação dos tucanos a
decisões que o governo pretende tomar.
Seixas disse à Folha não ver
nenhuma contradição entre
ser tão próximo de Lula como
de Serra, ao menos no campo
da amizade, mas não da fidelidade política. "Não é motivo de
preocupação. A capacidade de
relacionar-me com ambos é
usada para o bem do país."
Já a ligação entre Serra, Belluzzo e Coutinho data dos
anos 70, quando os três foram
expoentes da safra de economistas desenvolvimentistas
que prosperou na Unicamp e
consolidou uma das principais
escolas do pensamento econômico brasileiro.
Eles são críticos da política
monetária tocada pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e partilham de
opiniões semelhantes sobre o
papel do Estado na crise.
Belluzzo tornou-se um dos
mais próximos colaboradores
econômicos de Lula, mas não
perdeu a intimidade com Serra,
com quem assiste regularmente aos jogos do Palmeiras, clube
que Belluzzo hoje preside.
Em mais de uma ocasião, Belluzzo conversou com Lula ao
celular estando, no estádio do
Parque Antártica, a alguns metros do governador paulista.
Para o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor
emérito da UFMG, os anfíbios
não são apenas produto de
amizade antiga ou de alguma
tradição brasileira à conciliação permanente.
Eles refletiriam também a
convicção social-democrata
que une o PSDB à vertente do
próprio governo Lula.
"A trajetória do governo Lula
é de moderação e de realismo",
disse ele. "Não há muita diferença entre isso e o compromisso fundamental do PSDB."
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