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RUMO A 98
Empresas de pesquisa e publicidade usaram endereço e tiveram irmão e cunhado de Ciro como procuradores
Ciro favorece parentes e amigos no Ceará
XICO SÁ
da Reportagem Local
Um grupo de
familiares e amigos foi beneficiado com recursos públicos
durante a gestão
do ex-governador cearense Ciro Gomes (1991-94), apontado como um dos possíveis adversários
do presidente Fernando Henrique
Cardoso na eleição do próximo
ano.
Para ajudar pessoas que haviam
trabalhado na campanha eleitoral,
foram registradas duas empresas,
a agência de publicidade Criação
Ilimitada, nascida depois da vitória de Ciro, e a CMK, uma consultoria de marketing, que surgiu dez
dias antes da posse, em 5 de março
de 91.
As duas funcionavam no mesmo
endereço do escritório de Ivo Ferreira Gomes, irmão de Ciro, localizado na rua Santos Dumont, 1343,
salas 1101 e 1102, em Fortaleza.
Segundo levantamento da empresa Nielsen Associados, o governo do Ceará alcançou a quinta colocação no ranking dos maiores
gastos de publicidade em 1992,
com uma verba de R$ 2 milhões.
A Criação Ilimitada fazia parte
do grupo de empresas que teve direito a esses recursos, segundo documentos obtidos pela Folha. Um
dos seus sócios, Fernando Augusto da Silva Costa, afirma que a
agência mantinha vários contratos
com o Estado.
O valor destinado à agência de
publicidade, a mais próxima do
governo cearense, no entanto, não
é divulgado pelos órgãos que possuem a informação.
O TCE (Tribunal de Contas do
Estado), cujo presidente, Julio Rego, é ligado politicamente a Ciro
Gomes, também não informou sobre o assunto.
A CMK teve como sócio-fundador, em 91, o sociólogo Antonio
Lavareda, que hoje presta serviços
de assessoria e pesquisa ao governo federal. Ele deixou a firma no
final do ano seguinte.
No comando do Ipespe, Lavareda ganhou, sem licitação, um contrato equivalente a US$ 1 milhão,
em 1994, para realizar pesquisas da
administração estadual.
Procuradores
As firmas CMK e Criação Ilimitada existiram apenas durante o governo tucano e tiveram como procuradores, com poderes para realizar negócios com o Estado, o
próprio Ivo e Einhart Jacome da
Paz, cunhado de Ciro (veja cópia
dos documentos).
A rede de amizade e laços familiares teve um personagem-chave,
segundo apuração feita pela Folha
em documentos de cartórios enviados ao TCE (Tribunal de Contas
do Estado) do Ceará por deputados estaduais.
Trata-se do contador Francisco
José de Mesquita, apontado pelo
deputado estadual Carlomano
Marques (PMDB) como "laranja"
(aquele que apenas cede nome e
documentos para negócio de outra
pessoa) de Einhart Jacome da Paz e
de Ivo Ferreira Gomes.
A suspeita foi levantada por um
motivo: Mesquita, que trabalhava
com Jacome da Paz no grupo Diana, em São Paulo, passou a ser dono, formalmente, tanto da CMK
como da Criação Ilimitada (veja
quadro nesta página).
A direção da Diana confirmou à
Folha que Mesquita havia sido
funcionário da empresa, de quem
já se desligou. No endereço que ele
forneceu para os documentos de
composição das firmas também
não foi localizado em São Paulo.
Público X privado
"O que é mais grave nessa história é o fato de um irmão e um cunhado do governador agirem como procuradores de empresas
com negócios contratados pelo Estado", diz Carlomano Marques.
"A suspeita é de que eles fossem os
verdadeiros donos."
O caso das empresas de pesquisa
e publicidade têm sido lembrados
também, segundo apurou a Folha,
por novos adversários de Ciro Gomes, os tucanos ligados ao governador Tasso Jereissati.
Eles lembram, com o pedido de
que os seus nomes não sejam divulgados, que Ciro deixou dívidas
para Jereissati pagar a empresas ligadas a Einhart, o cunhado do
ex-governador.
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