São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2000

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PLANO COLÔMBIA
A 4ª Conferência Ministerial de Defesa das Américas não previa discussão do assunto, mas dominou encontro
EUA não foram lógicos, afirma ministro

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS

O ministro da Defesa do Brasil, Geraldo Quintão, disse ontem que o representante dos EUA na 4ª Conferência Ministerial de Defesa das Américas, James Bodner, "não foi lógico" ao ter dito no dia anterior que "o Plano Colômbia será executado com ou sem a solidariedade internacional".
Em entrevista coletiva pouco antes do encerramento oficial do encontro de Manaus, Quintão confirmou a frase do norte-americano e declarou o seguinte:
"Cada um fala de acordo com uma série de contingências que formam a sua personalidade. Algumas pessoas são mais brandas ao falar, outras são mais suaves, outras são mais duras, outras são mais ásperas, outras são mais lógicas. Eu procuro ser mais lógico e racional".
Indagado se o norte-americano não fora lógico, Quintão foi direto: "Ele, eu acho, não foi lógico. Porque não estava em jogo a execução ou não do Plano Colômbia, independentemente ou não da vontade ou não de outrem. Isso não estava em discussão. Dentro do racional, teria de dizer o seguinte: "Nós tivemos uma solicitação da Colômbia, estamos aqui para apoiar, gostaríamos que os vizinhos da Colômbia colaborassem conosco". Seria uma outra forma de dizer".
Foi a declaração mais dura de Quintão desde que assumiu o cargo em janeiro passado. Acabou sintetizando o sentimento de desconforto da maioria dos vizinhos da Colômbia a respeito do chamado Plano Colômbia.
Esse plano tem por objetivo pacificar o país -que convive com guerrilhas de orientação marxista há mais de 40 anos-, combater o narcotráfico e promover o desenvolvimento econômico e social. Custará cerca de US$ 7,5 bilhões, sendo que os EUA colaborarão com US$ 1,3 bilhão desse total.
A 4ª Conferência Ministerial de Defesa das Américas não previa em sua agenda a discussão do Plano Colômbia. Mas o assunto dominou todas as principais reuniões do encontro.
De um lado estiveram EUA e Colômbia argumentando que o plano era uma iniciativa colombiana que requeria o apoio dos outros países, uma vez que o narcotráfico não se restringe apenas ao país que produz as drogas.
No lado oposto estiveram os outros países participantes do encontro, sempre declarando que dão apoio à iniciativa de paz na Colômbia, mas nunca expressando apoio explícito ao Plano Colômbia com um todo.
Os vizinhos da Colômbia, inclusive o Brasil, temem que a forte presença dos EUA na operação possa gerar uma reação forte entre os narcotraficantes e guerrilheiros colombianos. E que isso acabe resultando na migração do problema para outros territórios.
A Folha procurou os representantes dos EUA para que comentassem a crítica de Quintão. Um porta-voz da delegação norte-americana disse que não teria ninguém disponível para fazer um comentário até o início da noite. O vice-ministro da Defesa dos EUA, James Bodner, cuja frase causou a reação do Brasil, já havia viajado de volta para seu país na noite de anteontem.
Depois, Quintão quis atenuar o desentendimento. Declarou que "não houve nenhuma rusga".


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