São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

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FOLCLORE POLÍTICO/FERNANDO MORAIS

As seis mezinhas do Dr. Ulysses

Não foram apenas candidatos a cargos executivos, como Paulo Maluf, que se consideraram varridos pela ventania que saiu das urnas de 6 de outubro. No Estado do Acre, por exemplo, recordista na renovação parlamentar, só 13% da bancada federal conseguirão voltar a Brasília. Aqui em São Paulo as urnas também não deixaram dúvidas. Tanto na Assembléia Legislativa quanto na bancada federal, 42% dos eleitos são novatos.
Como todo calouro, eles deverão pagar o preço do noviciado mas para tudo parece haver remédio. Vinte anos atrás, após vencer minha primeira eleição, fiz uma entrevista com o Dr. Ulysses Guimarães para a revista "Playboy". Ao final da gravação o velho cacique decidiu fazer uma deferência ao aprendiz e ditou-me o que ele chamava de "as minhas seis mezinhas para um noviço em política". As quais compartilho agora com os estreantes, tal como ele as prescreveu:
"Primeiro: não seja impaciente. A impaciência é uma das faces da estupidez. Entendo que quem está na vida política não pode entrar na história do dia para a noite. O caminho é longo, perseverante, difícil. A impaciência não acaba só com carreiras futebolísticas.
Segundo: na política, em geral, e especialmente no poder, se você não pode fazer um amigo, não faça um inimigo. O inimigo guarda o ódio na geladeira. O inimigo, numa eleição, amanhece na boca da urna dizendo que a mãe do candidato não é honesta.
Terceiro: em política nunca se deve proferir palavras irreparáveis, irretratáveis. E aqui eu recordo um conselho do Perón a Isabelita, prevendo que ela assumiria a presidência da Argentina: "Minha filha, em política fale muito sobre coisas, pouco sobre pessoas e nunca sobre você".
Quarto: em política você nunca deve estar tão próximo que amanhã não possa ser adversário ou inimigo. E nem tão distante que amanhã fique em dificuldade por ter que virar amigo.
Quinto: a grande arma de qualquer bom político é o trabalho. Eu próprio costumo dizer que eu tenho estrela. Está certo que fui muito ajudado pelos amigos e pelos acontecimentos, mas eu vivo passando Kaol na minha estrela.
Sexto: é preciso saber a arte de escutar. Escutar dá até infarto, dá úlcera. O rei Faiçal, da Arábia Saudita, dizia que Deus deu ao homem dois ouvidos e uma só boca para ouvir o dobro e falar a metade."


FERNANDO MORAIS, 56, jornalista e escritor, escreve aos domingos nesta seção



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