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ELIO GASPARI
Na mágica de Palocci, ele come o coelho
A assessoria do senador
Tasso Jereissati produziu
um documento de seis páginas
no qual pode-se encontrar um
sério desafio às empulhações da
ekipekonômica: o superávit primário de 4,37% do PIB (R$ 39
bilhões) obtido no ano passado
foi produto de dois truques contábeis. O propalado aumento da
meta de 3,75% do PIB para
4,25%, coisa de R$ 8 bilhões,
simplesmente não aconteceu.
Quando muito, em termos de
abatimento da dívida pública,
ele chegou a R$ 1 bilhão.
A primeira mágica é velha.
Trata-se de não pagar as contas
de um ano, jogando-as para o
exercício seguinte. Uma espécie
de pré-datado com PhD de Princeton. Em 2002, último ano da
ruína tucana, os restos a pagar
(inexoráveis, adjetivados como
"processados") ficaram em R$
3,6 bilhões. Em 2003, a ekipe
companheira subiu esse valor
para R$ 8 bilhões. A diferença de
R$ 4,4 bilhões equivale a 0,3%
do PIB.
Quando o doutor Antonio Palocci anunciou, em setembro,
que aumentaria o esforço do superávit fiscal de 2003 em 0,5%,
levando-o para 4,25% do PIB,
esqueceu-se de contar que mais
da metade desse esforço seria
gasta na compra de um coelho
novo para suas mágicas. O bicho
deverá se chamar "aumento da
dívida líquida do setor público".
Pode-se dizer que a ekipekonômica fazia essa mágica ao tempo de FFHH, mas, enquanto os
tucanos usaram uma só lebre
(0,11% do PIB em 2001), os companheiros tiraram três gatos da
cartola (0,3% em 2003).
O segundo truque consistiu em
não gastar receitas constitucionalmente vinculadas, quase
sempre a atividades sociais. Por
exemplo: tungam-se R$ 200 milhões da saúde. Como o ervanário não pode ser gasto em outra
coisa, ele vai para uma conta
onde rende uns R$ 30 milhões de
juros ao ano. O dinheiro fica
congelado, até que o usem para
a finalidade constitucional a
que se destinava. Ou seja, não
serve para o abatimento da dívida, objetivo essencial de toda a
lenda do superávit primário. Em
2003, a ekipekonômica congelou
17% das receitas vinculadas.
Neste ano, congelará 24%.
O enxugamento de R$ 8 bilhões adicionais conseguido pelos çábios foi lorota. R$ 2,6 bilhões vieram da estocagem de
receitas vinculadas. Outros R$
4,4 bilhões vieram do inchaço
dos restos a pagar. Ou seja, descontados os coelhos, gatos e lebres, o superávit adicional foi de
R$ 1 bilhão.
Se a moçada do doutor Palocci
fez o FMI de bobo e a banca de
trouxa, tudo bem. (Ou o FMI e a
banca, fingindo-se de bobos, fazem de trouxas os nativos, como
aconteceu com a patuléia argentina em 2001.) São truques que
servirão, quando muito, para estarrecer as visitações do Fundo.
Todos os números do estudo
dos assessores de Jereissati foram obtidos nas páginas do Tesouro Nacional na internet. A
nota ficou pronta no final de setembro e circulou com relativa
timidez. Há uns dez dias, o comissário Joaquim Levy, da Secretaria do Tesouro, soube do
papel. No seu mais absoluto direito, encomendou uma réplica.
Por enquanto, ela está na rubrica "contestações a pagar". Outra
cópia teria chegado ao ministro
do Planejamento, Guido Mantega.
O mundo das estatísticas oficiais é tão maledicente que corre
um boato em Brasília: um çábio
teria determinado a abertura de
sindicância para apurar como
esse papel foi produzido.
É o modo petista de acertar
contas.
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