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ENERGIA POLÍTICA
AIEA visitou instalações, mas não teve acesso às centrífugas
Governo diz que vistoria em fábrica nuclear foi aprovada
GABRIELA WOLTHERS
ENVIADA ESPECIAL A RESENDE (RJ)
A equipe da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica),
que esteve ontem por seis horas e
meia na fábrica brasileira de enriquecimento de urânio em Resende (RJ), considerou "satisfatória"
a visita, disse ontem o Ministério
da Ciência e Tecnologia, por meio
de sua assessoria de imprensa.
Segundo o ministério, a parte
técnica da vistoria foi concluída.
A equipe da AIEA, órgão ligado à
ONU (Organização das Nações
Unidas), enviará um relatório a
seus diretores, a quem caberá a
decisão final. Na visão do ministério, não há mais razões de conflitos entre o Brasil e a agência, que
temia que o país usasse a técnica
de enriquecimento de urânio para
a produção de armas nucleares, o
que contrariaria tratados internacionais assinados pelo Brasil.
A missão da AIEA foi comandada por um norte-americano. Ela
era composta ainda por um francês e por uma sul-africana. Por
uma questão de sigilo, seus nomes e cargos não foram divulgados nem eles concederam entrevistas. Os três técnicos chegaram
às 11h de ontem à fábrica da INB
(Indústrias Nucleares do Brasil),
em Resende (a 161 km do Rio). Estavam acompanhados por três
técnicos da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear) e três
da Abacc (Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares).
Fábrica
A fábrica brasileira foi construída numa área de 600 hectares de
uma antiga fazenda. Entre árvores, gramados bem aparados e casas em estilo colonial, onde fica a
parte administrativa, erguem-se
dois imensos prédios de concreto
em forma de caixotes.
A unidade onde o urânio será
enriquecido, com 25 mil metros
quadrados, é a que interessa à
AIEA. Hoje o urânio extraído do
Brasil é enviado ao Canadá para
ser transformado em gás. Viaja à
Europa (Alemanha, Holanda ou
Inglaterra) para ser enriquecido,
voltando, então, ao Brasil.
Nos dois módulos já em operação dessa unidade em Resende, o
gás é transformado em pó e, posteriormente, em pastilhas. Quando o terceiro módulo, onde estão
as centrífugas de enriquecimento
de urânio, estiver funcionando, a
etapa européia será aos poucos
abandonada. Para operar, o Brasil
espera a aprovação da AIEA.
O objetivo da vistoria da agência foi verificar a possibilidade de
fazer uma inspeção formal à fábrica sem ter acesso total às centrífugas. Os técnicos mantiveram-se a 22 centímetros das centrífugas, das quais estavam separados
por um painel. O Brasil não aceita
mostrá-las sob a alegação de que o
modelo desenvolvido encerra
avanços tecnológicos que precisam ser mantidos em sigilo.
Negociações
Desde o início de abril, quando
tiveram início as negociações, a
AIEA insistia em ter acesso irrestrito às centrífugas de Resende.
Com o impasse, os dois lados resolveram ceder um pouco. O Brasil permitiu uma visão maior das
tubulações, válvulas e conexões ligadas às centrífugas. Já a agência
aceitou ir a Resende para verificar
a possibilidade de fazer o trabalho
sem ver as centrífugas.
Sempre acompanhada por brasileiros, a equipe da AIEA percorreu a unidade de enriquecimento
de urânio por toda o dia, encerrando seus trabalhados por volta
das 17h30. Pararam para almoçar
peixe com pirão no restaurante da
fábrica. Na saída, tiveram que pedir guarda-chuvas para enfrentar
uma forte chuva que caiu repentinamente sobre a região.
Em reunião hoje, os técnicos da
agência formalizarão seu veredicto aos membros da Comissão Nacional de Energia Nuclear. Caso
confirmem que a inspeção é possível, uma nova equipe deve chegar ao Brasil em cerca de 15 dias
para análise mais detalhada.
Protesto
O Sindicato dos Trabalhadores
nas Indústrias Químicas, Farmacêuticas do Sul Fluminense, ligado à CUT (Central Única dos Trabalhadores), aproveitou a vistoria
para estender cinco faixas de protesto na entrada da fábrica. Uma
delas dizia: "Se a alta tecnologia
que temos desperta tanto interesse internacional, devemos ter salários compatíveis".
O sindicato, que está em negociação salarial, reivindica 65,47%
de aumento. A INB não fez ainda
uma contraproposta. A fábrica
tem 411 funcionários, sem contar
os terceirizados. Segundo a INB, a
média salarial é R$ 1.400. Um engenheiro tem um salário inicial de
R$ 2.730, com os adicionais. No
ápice da carreira, os engenheiros
mais qualificados chegam a ganhar cerca de R$ 11 mil.
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