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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DE DIRCEU
Texto, que será votado pela comissão na próxima semana, concorda com argumento de ex-ministro por anulação do processo no Conselho de Ética
Relator dá parecer favorável a Dirceu na CCJ
SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar da derrota sofrida no
Supremo Tribunal Federal, o ex-ministro José Dirceu (PT-SP)
conseguiu ontem uma vitória na
CCJ (Comissão de Constituição e
Justiça) da Câmara que poderá
anular seu processo de cassação.
O deputado Darci Coelho (PP-TO) deu parecer favorável ao argumento de Dirceu de que o seu
processo no Conselho de Ética deve ser extinto já que o PTB, autor
da denúncia contra ele, decidiu
retirar a representação que havia
proposto. O parecer de Coelho,
que deve ser votado na CCJ na
próxima terça-feira, causou reação imediata da oposição e de
membros do conselho.
Deputados falaram em tentativa
de "acordão" entre os dez deputados do PP e do PT que são acusados de envolvimento no esquema
do "mensalão" e que correm o risco de perder o mandato.
"Isso é golpe. Ser inocentado
pelo conselho ou pelo plenário da
Câmara, tudo bem. Mas isso [parecer da CCJ] é golpe, tem a mão
de Lula", acusou o líder da oposição, José Carlos Aleluia (PFL-BA).
"Foi um parecer de uma infelicidade total, com vários erros", reforçou o presidente do Conselho,
Ricardo Izar. O próprio presidente da CCJ, Antonio Carlos Biscaia
(PT-RJ), se manifestou contra o
parecer: "Vou redigir um voto em
separado [contra Coelho]", disse.
O fato é que se criou uma enorme confusão sobre qual o efeito
prático de uma possível decisão
favorável a Dirceu na CCJ, que é
composta de 61 deputados. Técnicos da Câmara dizem entender
que a decisão é terminativa, e
anularia de imediato o processo.
Com isso, caberia à Mesa ou a
algum outro partido propor novamente a acusação contra Dirceu, que ganharia mais 90 dias para defesa. O presidente da CCJ
tem entendimento contrário e diz
que há a necessidade de que o plenário da Câmara se manifeste.
A Folha apurou que Coelho havia dito a integrantes da CCJ que a
tendência era dar parecer contra
Dirceu, mas que, na segunda-feira, ligou para Biscaia para informar-lhe que havia decidido
apoiar a tese do ex-ministro.
"O conhecimento que eu tinha
do parecer que ele ia apresentar é
diferente desse que foi lido hoje",
disse Júlio Delgado (PSB-MG), relator do processo contra Dirceu
no conselho. Os divulgadores da
tese do "acordão" lembram que a
relatora do processo de cassação
do líder do PP, José Janene (PR), é
Ângela Guadagnin (PT-SP), uma
das parlamentares mais ligadas a
Dirceu. O relator do processo
contra o ex-líder do governo Professor Luizinho (PT-SP) também
é do PP -Pedro Canedo (GO).
"Parece haver uma tentativa de
encontro de entendimentos entre
PT e PP, e o gesto do Coelho mostra que essa tese confere", reforçou o líder do PSDB, Alberto
Goldman (SP). Janene rebateu:
"Goldman está sendo leviano".
Mas até aliados de Dirceu consideram difícil a aprovação do parecer. A pressão que a oposição
exercerá é considerada forte inibidora da intenção dos que pretendam defender Dirceu em público.
Durante o anúncio do parecer,
deputados do PP foram ao Ministério das Cidades pedir liberação
de verbas para emendas. O ministro Márcio Fortes, indicado pelo
ex-deputado Severino Cavalcanti
(PP-PE), ficou de pedir a Antonio
Palocci (Fazenda).
Recurso
O parecer de Coelho se deu devido a recurso de Dirceu à CCJ
contra a decisão do conselho de
não extinguir seu processo mesmo depois que o PTB pediu a retirada, em 21 de setembro, da representação em que acusara Dirceu de ser o "chefe" do esquema
do "mensalão". O partido argumentou na ocasião que preferiria
que os processos contra Dirceu se
baseassem nas apurações da CPI.
Apesar disso, o conselho recorreu a uma analogia com o Código
de Processo Penal, que diz no artigo 25 que "a representação será irretratável depois de oferecida a
denúncia". Em seu relatório, porém, Coelho diz entender que a
denúncia é a decisão final do conselho. Vários deputados pediram
"vista" ao parecer, o que jogou a
votação para a semana que vem.
A votação do parecer de Júlio
Delgado pedindo a cassação de
Dirceu está marcada para amanhã no conselho. A tendência é de
aprovação. Daí em diante, cabe à
Mesa marcar a votação no plenário. Dirceu só perde o mandato se
ao menos 257 dos 513 deputados
apoiarem o parecer de Delgado.
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