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Intelectuais criticam fidelidade imposta
Cientistas políticos elogiam conteúdo de decisões do Judiciário sobre sistema político, mas criticam a forma como foram tomadas
Fábio Wanderley Reis avalia que TSE criou insegurança; Maria Victoria Benevides acha que decisão não levou em conta efeitos colaterais
DA REDAÇÃO
Cientistas políticos ouvidos
pela Folha avaliam que a imposição da fidelidade partidária a
todos os cargos eletivos pode
aperfeiçoar o sistema político,
mas criticam o fato de essa decisão ter sido tomada pelo TSE
(Tribunal Superior Eleitoral).
Segundo o cientista político
Fábio Wanderley Reis, 69, "em
princípio a decisão do TSE é
correta: tendo em vista a inconsistência do sistema partidário, é bom que exista algo
que aponte na direção dessa
consistência. Não fazia sentido
haver fidelidade para o sistema
proporcional e não haver no
sistema majoritário".
Contudo, para ele, a imposição da medida pelo Judiciário
revela que "está havendo uma
judicialização da política". "O
Legislativo abdicou de sua atividade legisladora. As decisões
do TSE são resposta à abdicação do Legislativo, mas isso é
preocupante e pode ter efeitos
negativos. Essa judicialização
da política provoca uma politização do Judiciário, colocando
em risco sua imparcialidade".
Reis observa que, no caso da
fidelidade, havia uma jurisprudência anterior firmada pelo
próprio STF (Supremo Tribunal Federal). "A jurisprudência
alterada com efeito retroativo
cria insegurança jurídica: as
pessoas que após 27 de março
trocaram de partido seguiram
uma decisão anterior do próprio STF. Isso cria insegurança
jurídica. Isso é inaceitável."
O cientista político Carlos
Ranulfo Melo, 49, também elogia o conteúdo da decisão, mas
critica a forma como foi tomada: "A medida é boa, pois as trocas desorganizam os partidos e
são um instrumento de barganha. Nesse sentido a decisão do
TSE foi um acerto, mas um
acerto ad hoc. Vai diminuir um
pouco a confusão do sistema, o
sistema vai ganhar um pouco
mais de estabilidade".
O problema "é a maneira como se vem fazendo a reforma
política", sempre aos pedaços e
via Judiciário: "Não gosto do
processo de judicialização da
política. É um processo errático, que às vezes acerta e às vezes erra, como errou no caso da
cláusula de barreira e no da
verticalização das alianças".
A judicialização decorre porém da incapacidade de o Legislativo definir sua posição:
"Hoje não existem coalizões
capazes de implementar uma
reforma política. Nenhum presidente quer colocar na pauta
uma reforma que divida a sua
coalizão. Por isso a reforma vai
surgindo dessas decisões".
A socióloga Maria Victoria
Benevides, 65, da USP, avalia
que a decisão do TSE "não foi
indevida nem excessiva, mas
inepta". "O TSE tinha o direito
de tomar essa decisão e precisava dar uma resposta a uma
representação dos partidos. Só
que, do jeito que foi tomada, foi
uma decisão inepta. O TSE precisaria ter previsto vários casos: o que acontece com políticos eleitos em coligações? O
que ocorre com as suplências?
Uma reforma política feita assim, aos picadinhos, não leva
em conta efeitos colaterais".
Para ela, a reforma política "é
o tipo de questão sobre a qual
seria necessária uma consulta
popular, já que o Congresso faz
uma legislação em seu proveito. Para a maioria do Congresso, o bom é o que estava aí. Eles
se elegeram por esse sistema,
por que eles iriam mudá-lo?"
Sobre a decisão, ela disse que
"nenhum sistema político é
bom ou mau em si. Depende da
pergunta: o que nós queremos?
A saída para a governabilidade
é uma, a saída para fortalecer
os partidos é outra. É muito difícil dizer que só esta medida
vai resolver o problema da governabilidade ou fortalecer os
partidos. Essa é uma discussão
para toda a sociedade".
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