São Paulo, Sábado, 20 de Novembro de 1999
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CRIME ORGANIZADO

O traficante e o líder da suposta quadrilha em Campinas estariam escondidos no Paraguai

Depoimento liga Beira-Mar a Sozza

Francio de Hollanda/Folha Imagem
O traficante Aryzolin Trindade Sobrinho (esq.) e o motorista Jorge Meres no fórum de Campinas



MAURÍCIO SIMIONATO
da Folha Campinas
RICARDO GALHARDO
enviado especial a Campinas

A CPI do Narcotráfico conseguiu o primeiro indício de ligação entre o empresário William Walder Sozza e o traficante Luís Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
O traficante Aryzolin Trindade Sobrinho disse ontem ter recebido informações há uma semana de que Beira-Mar e Sozza estariam escondidos em uma fazenda na província de Capitán Bado, no Paraguai.
Sozza é acusado pelos integrantes da CPI de chefiar uma organização criminosa especializada em roubos de cargas e lavagem de dinheiro na região de Campinas. Fernandinho Beira-Mar é um dos traficantes mais procurados pela polícia do Rio de Janeiro.
O depoimento de Sobrinho foi considerado um dos mais importantes feitos pela CPI nos quatro dias de trabalho em Campinas.
Ele contou em detalhes os esquemas de compra e transporte de drogas envolvendo sete Estados brasileiros (RO, MS, SP, RJ, PR, SC e RS), Colômbia, Bolívia e Paraguai. Suas afirmações coincidiram com as do ex-motorista de Sozza Jorge Meres Alves Almeida, uma das principais testemunhas da CPI.
Além de ligar Sozza a Beira-Mar, Sobrinho reconheceu o advogado Artur Eugênio Mathias, preso desde terça-feira a pedido da CPI, como sendo sócio da organização criminosa de Campinas.
Segundo o traficante, Mathias era apresentado por Sozza com o nome falso de "doutor Mauro". "O William falava que se alguém fosse preso o dr. Mauro tirava da cadeia em vinte e quatro horas", afirmou.
Sobrinho também disse que Mathias participava das negociações com o traficante colombiano Rico Hernandéz e chegava a reclamar do preço da droga.
Sobrinho disse ter presenciado uma reunião entre Sozza, Mathias e Hernandéz em uma fazenda em Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre (RS), onde teria sido definida a negociação de 120 kg de cocaína colombiana por R$ 3.000 o kg. Ele afirmou ter recebido R$ 4.000 de Sozza para intermediar a transação. Em outra oportunidade, Sobrinho teria se encontrado com Sozza em Santa Bárbara d'Oeste para negociar a compra de mais de 100 kg da droga.
Segundo o traficante, Campinas é um dos principais entrepostos do narcotráfico no país devido à influência de Sozza e Mathias sobre a polícia.
"Aqui (em Campinas) é o lugar mais seguro. Se ele (Sozza) tem a polícia no bolso, quem é que vai mexer com as coisas dele?", disse.
De acordo com Sobrinho, a organização conta com o apoio de policiais civis, militares e rodoviários além de um funcionário da Receita Federal identificado como "Carioca".
"Se tivesse alguma barreira da Receita, o Carioca avisava, a gente comprava tijolos na própria cidade só para tirar uma nota "quente" e passava pela barreira com a droga em um fundo falso", afirmou.
O traficante disse não ter informações sobre negócios entre Sozza e Fernandinho Beira-Mar, masque, segundo um traficante chamado "Toninho", ambos estavam escondidos em uma fortaleza em Capitán Bado há uma semana. Eles estariam sob proteção dos mesmos traficantes, que possuem outras duas fazendas no Paraguai que servem como esconderijo.
Em uma acareação com Sobrinho e Meres, Mathias negou todas as acusações.







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