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São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 2003

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BRASIL PROFUNDO

Coordenador da Funai diz que há uma campanha contra os cinta-larga e acusa os próprios garimpeiros

Juiz decreta prisão de 5 índios suspeitos de matar garimpeiro

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

A Justiça de Rondônia decretou no último dia 10 a prisão de cinco índios cinta-larga suspeitos de matar cinco garimpeiros dentro da terra indígena localizada em Espigão do Oeste (500 km de Porto Velho). Os corpos foram encontrados no início deste mês.
Os índios teriam cometido o assassinato para intimidar os garimpeiros, que são suspeitos de promover a exploração ilegal de diamantes no interior da área.
Ontem, na operação que visa coibir essa exploração ilegal de diamantes, a Polícia Federal prendeu em Cacoal (RO) o funcionário da Funai (Fundação Nacional do Índio) José Nazareno, acusado de ajudar os garimpeiros.
Na quinta-feira passada, na mesma operação, a PF havia prendido dois empresários, um advogado, um garimpeiro e um policial federal envolvidos na exploração ilegal na área indígena.

Mortes
A Polícia Civil encontrou na área indígena, no dia 1º, os corpos dos garimpeiros mortos. Os assassinatos teriam ocorrido de dez a 15 dias antes.
De acordo com o delegado da Polícia Civil Raimundo Mendes de Sousa Filho, o garimpeiro Antônio Esmério Martins, um dos sobreviventes, disse que os índios mataram os cinco com tiros de espingarda calibre 12.
Martins informou também à polícia os nomes dos índios que supostamente teriam atirado contra os garimpeiros.
No dia 10, o juiz Leonel Pereira da Rocha decretou a prisão temporária dos cinta-larga apontados por Martins, que sofreu um atentado após prestar o depoimento.
O delegado afirmou que a polícia ainda não sabe como fazer as prisões dos suspeitos, pois eles estão dentro da terra indígena.
Uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) foi criada na Assembléia Legislativa de Rondônia para apurar o conflito na área, onde vivem 1.600 índios. O deputado estadual Haroldo Santos (PP), presidente da CPI, disse ontem que a extração ilegal de diamantes é feita por contrabandistas.
Santos entregou na semana passada um relatório da CPI ao ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça). O deputado sugeriu que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) substitua a polícia na investigação dos garimpos ilegais na área porque, de acordo com o deputado, até policiais participam do esquema de contrabando.
Segundo Santos, os membros da CPI não puderam sobrevoar a área indígena porque corriam risco de ter o avião atingido: "Eles [os grupos de garimpeiros] possuem até metralhadoras".

Outro lado
O coordenador da Funai (Fundação Nacional do Índio) Walter Blos, 40, responsável pelo grupo-tarefa que visa impedir invasão de garimpeiros na área indígena dos cinta-larga, declarou ontem à Agência Folha que os cinco índios suspeitos de matarem os garimpeiros são menores de idade e filhos de lideranças da aldeia.
Blos afirma existir uma "campanha para denegrir os cinta-larga". O motivo seria o interesse em explorar os diamantes na terra indígena. Segundo ele, a Funai trabalha com a hipótese de que os assassinatos tenham ocorrido em conflitos entre os garimpeiros, sem envolvimento dos índios.
A Funai não admite que exista um esquema de exploração de diamantes montado por contrabandistas. Segundo Blos, ocorrem invasões esporádicas de garimpeiros. Ele afirma que as prisões feitas pela Polícia Federal se referem a inquéritos abertos no ano passado, quando ainda havia extração ilegal na terra dos índios. À reportagem, Blos não soube explicar os motivos da prisão do funcionário da Funai José Nazareno.


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