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BRASIL PROFUNDO
Coordenador da Funai diz que há uma campanha contra os cinta-larga e acusa os próprios garimpeiros
Juiz decreta prisão de 5 índios suspeitos de matar garimpeiro
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
A Justiça de Rondônia decretou
no último dia 10 a prisão de cinco
índios cinta-larga suspeitos de
matar cinco garimpeiros dentro
da terra indígena localizada em
Espigão do Oeste (500 km de Porto Velho). Os corpos foram encontrados no início deste mês.
Os índios teriam cometido o assassinato para intimidar os garimpeiros, que são suspeitos de
promover a exploração ilegal de
diamantes no interior da área.
Ontem, na operação que visa
coibir essa exploração ilegal de
diamantes, a Polícia Federal prendeu em Cacoal (RO) o funcionário da Funai (Fundação Nacional
do Índio) José Nazareno, acusado
de ajudar os garimpeiros.
Na quinta-feira passada, na
mesma operação, a PF havia
prendido dois empresários, um
advogado, um garimpeiro e um
policial federal envolvidos na exploração ilegal na área indígena.
Mortes
A Polícia Civil encontrou na
área indígena, no dia 1º, os corpos
dos garimpeiros mortos. Os assassinatos teriam ocorrido de dez
a 15 dias antes.
De acordo com o delegado da
Polícia Civil Raimundo Mendes
de Sousa Filho, o garimpeiro Antônio Esmério Martins, um dos
sobreviventes, disse que os índios
mataram os cinco com tiros de espingarda calibre 12.
Martins informou também à
polícia os nomes dos índios que
supostamente teriam atirado
contra os garimpeiros.
No dia 10, o juiz Leonel Pereira
da Rocha decretou a prisão temporária dos cinta-larga apontados
por Martins, que sofreu um atentado após prestar o depoimento.
O delegado afirmou que a polícia ainda não sabe como fazer as
prisões dos suspeitos, pois eles estão dentro da terra indígena.
Uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) foi criada na Assembléia Legislativa de Rondônia
para apurar o conflito na área, onde vivem 1.600 índios. O deputado estadual Haroldo Santos (PP),
presidente da CPI, disse ontem
que a extração ilegal de diamantes
é feita por contrabandistas.
Santos entregou na semana passada um relatório da CPI ao ministro Márcio Thomaz Bastos
(Justiça). O deputado sugeriu que
a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) substitua a polícia na
investigação dos garimpos ilegais
na área porque, de acordo com o
deputado, até policiais participam
do esquema de contrabando.
Segundo Santos, os membros
da CPI não puderam sobrevoar a
área indígena porque corriam risco de ter o avião atingido: "Eles
[os grupos de garimpeiros] possuem até metralhadoras".
Outro lado
O coordenador da Funai (Fundação Nacional do Índio) Walter
Blos, 40, responsável pelo grupo-tarefa que visa impedir invasão de
garimpeiros na área indígena dos
cinta-larga, declarou ontem à
Agência Folha que os cinco índios
suspeitos de matarem os garimpeiros são menores de idade e filhos de lideranças da aldeia.
Blos afirma existir uma "campanha para denegrir os cinta-larga". O motivo seria o interesse em
explorar os diamantes na terra indígena. Segundo ele, a Funai trabalha com a hipótese de que os assassinatos tenham ocorrido em
conflitos entre os garimpeiros,
sem envolvimento dos índios.
A Funai não admite que exista
um esquema de exploração de
diamantes montado por contrabandistas. Segundo Blos, ocorrem
invasões esporádicas de garimpeiros. Ele afirma que as prisões
feitas pela Polícia Federal se referem a inquéritos abertos no ano
passado, quando ainda havia extração ilegal na terra dos índios. À
reportagem, Blos não soube explicar os motivos da prisão do funcionário da Funai José Nazareno.
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