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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA
Documentos indicam que esse seria valor mensal de superfaturamento de contrato com Leão Leão nas gestões de ministro e sucessor em Ribeirão
Promotoria vê desvio de R$ 400 mil sob Palocci
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
Documentos em poder do Ministério Público Estadual e da Polícia Civil revelam que o suposto
esquema de corrupção que teria
sido montado na segunda gestão
de Antonio Palocci na Prefeitura
de Ribeirão Preto pode ter desviado dos cofres públicos até R$ 400
mil por mês.
Os papéis, considerados as
principais provas de irregularidades no serviço de limpeza pública
de Ribeirão, trazem ordens de
serviço, boletins de medição, planilhas -todos supostamente
adulterados- e depoimentos de
dois funcionários que confirmam
a falsificação dos números em benefício da Leão Leão. A empreiteira foi acusada por Rogério Buratti, ex-assessor de Palocci, de pagar
propina de R$ 50 mil mensais ao
então prefeito entre 2001 e 2002.
Os R$ 400 mil são a diferença
média dos valores pagos mensalmente pelo Daerp (Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão
Preto) pela varrição de ruas entre
2004 (R$ 1.073.353,87) e 2005 (R$
671.407,66), já na atual administração. Em 2002, o valor médio
mensal pago à Leão era de R$
842.307,16. No valor deste ano já
estão inclusos os 7,12% do reajuste previsto em contrato. Os números de 2004 são da administração
Gilberto Maggioni (PT) que herdou o cargo de Palocci e também,
segundo Buratti, o "mensalinho"
de R$ 50 mil da Leão.
Segundo a polícia, não houve
redução dos serviços prestados de
um ano para outro. A diferença,
segundo funcionária do departamento responsável pelo controle
de medições, representa o montante da fraude. "No ano de 2005,
os valores são efetivamente do
trabalho desenvolvido, não havendo nenhum acréscimo, portanto, pode-se verificar com certeza a diferença entre quando
existia a expedição da ordem de
serviço e a realização correta do
trabalho", diz a funcionária responsável pelos registros do
Daerp, em depoimento à polícia e
à Promotoria (o nome é mantido
em sigilo por razão de segurança).
As irregularidades, segundo
dois funcionários do Daerp, começaram em 2001, no primeiro
ano de governo de Palocci, e ocorreram a mando da então superintendente Isabel Bordini, que obrigava os engenheiros do Daerp a
alterar seus números para se enquadrar aos enviados pela Leão
-sempre maiores. A Leão recebia por serviços não realizados.
Determinação
"Após umas duas horas, vinha a
determinação da Isabel [Bordini]
para que fosse aceita a planilha
apresentada pela Leão Leão, mesmo em prejuízo da prefeitura.
Que, mesmo contrariado, o funcionário era obrigado a acertar os
dados e, para isso, precisava fazer
uma ordem de serviço para complementar e justificar aquela diferença", disse a funcionária.
Bordini é casada com Donizeti
Rosa, secretário de Palocci nas
duas gestões em Ribeirão, que hoje ocupa cargo de diretor da Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), em Brasília.
Um exemplo de fraude ocorreu
nas medições do bosque municipal. As ruas utilizadas para visitação dos bichos e jardins medem
cerca de quatro quilômetros e
meio, mas na documentação apareciam 46 quilômetros de varrição por dia. "Nós éramos forçados a assiná-la [ordem de serviço
falsa], cuja coação era procedente
da diretoria", diz depoimento de
outro funcionário.
No total, nos dois contratos que
mantêm com a prefeitura, a Leão
recebeu R$ 86.335.629 nos quatro
anos da gestão petista.
Na visão da Promotoria, os números reforçam a suspeita de que
a suposta propina aos agentes públicos de Ribeirão era de R$ 300
mil mensais e não os R$ 50 mil informados por Buratti. Além de
uma interceptação telefônica de
Bordini em que ela fala de um
acordo com a Leão para o repasse
mensal de R$ 300 (os promotores
acreditam ser um código para R$
300 mil), documentos apreendidos no computador do ex-presidente da Leão Ambiental, Wilney
Barquete, trazem um suposto caixa dois apontando valores próximos a R$ 300 mil.
Bordini foi procurada para comentar o assunto, mas não respondeu aos questionamentos enviados a ela pela reportagem. Em
entrevistas anteriores, ela negou
irregularidades na gestão.
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