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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA
Segundo empresários, ex-assessor de Palocci negociou doação para o caixa dois de Lula em 2002 de R$ 1 milhão em São Paulo
Buratti foi elo entre donos de bingos e PT
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é fortuita a idéia de que o
advogado Rogério Buratti fala
com conhecimento de causa
quando diz que o PT recebeu recursos para o caixa dois da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, do setor de bingos.
Buratti foi um dos elos entre o
partido e donos de bingos e fabricantes de máquinas, segundo empresários de São Paulo e do Rio
ouvidos pela Folha e petistas de
Ribeirão Preto.
A contribuição de R$ 1 milhão
que o PT recebeu de bingos de São
Paulo em 2002, revelada pelo próprio Buratti ao Ministério Público, foi negociada por ele, segundo
relato desses empresários.
Não há documentos sobre essa
atividade de Buratti por razões
óbvias: arrecadadores de recursos
ilegais de campanhas políticas
não passam recibo.
O advogado disse à Folha que
nunca manteve contatos com empresários de bingos: "Caso eu tenha feito esses contatos para arrecadar dinheiro com bingueiros
deve ser, com certeza, obra do Espírito Santo", ironiza.
No caso de Buratti, havia um
agravante para explicar os cuidados que cercavam a operação de
arrecadação de fundos. Buratti foi
colocado na geladeira pelo PT em
1994, quando era secretário de
Governo de Ribeirão Preto na primeira gestão de Antonio Palocci
na prefeitura e foi apanhado numa gravação falando sobre obras
com um empreiteiro. A decisão
do PT de colocá-lo na geladeira tinha um quê de encenação: ele
continuou trabalhando para o
partido e para Palocci mesmo
quando estava afastado.
Formalmente, o PT não tomou
nenhuma medida contra Buratti.
Um processo aberto na Comissão
de Ética concluiu que o advogado
deveria ser absolvido. Mas o partido nunca se preocupou em reabilitar o militante diante da opinião pública.
Divisão de trabalho
Buratti era encarregado de fazer
os contatos com os bingos de São
Paulo junto com Ralf Barquete, o
ex-secretário da Fazenda na segunda passagem de Palocci pela
Prefeitura de Ribeirão Preto
(2001-2002), que morreu no ano
passado de câncer. No Rio, Waldomiro Diniz foi designado pelo
PT para fazer o mesmo trabalho.
O comitê de campanha do PT
decidira em 2002 que uma das
medidas defendidas no programa
de Lula, a regulamentação dos
bingos, poderia ajudar a engordar
a arrecadação. À época, os bingos
só funcionavam por meio de liminar. O partido colocou em marcha uma operação segundo a qual
os empresários de bingo de São
Paulo e Rio deveriam contribuir
com R$ 1 milhão cada grupo.
No primeiro depoimento de
Buratti à CPI dos Bingos, ele afirmou que a meta foi cumprida nos
dois Estados. Empresários entrevistados pela Folha apresentam
uma versão diferente: Buratti foi
mais eficiente que Waldomiro Diniz. O ex-presidente da Loterj
(Loteria do Estado do Rio) não teria conseguido arrecadar a sua
parte, de acordo com essa versão.
A divisão de trabalho entre o
Rio e São Paulo obedecia a uma
lógica de divisão de poder dentro
do partido. Waldomiro Diniz era
ligado ao então deputado federal
José Dirceu, enquanto a dupla Buratti-Barquete trabalhava para
Palocci. Se é correta a versão de
que o grupo de Palocci conseguiu
a contribuição e o de José Dirceu
fracassou, esse fato teria contribuído para Palocci conquistar
pontos na cúpula petista. Afinal,
não é qualquer um que consegue
R$ 1 milhão de empresários antes
da realização do primeiro turno
de uma eleição.
Foi por causa dos contatos que
Buratti tivera com empresários de
bingo que a Gtech decidiu procurá-lo em 2003 para tentar renovar
um contrato de R$ 650 milhões
com a Caixa Econômica Federal.
O nome de Buratti foi sugerido à
Gtech, uma das maiores empresas
de jogos do mundo, por empresários de bingo. A Gtech não tem
negócios com bingos, mas mantém contatos com empresários do
setor por ter interesse no crescimento do mercado de jogos.
A empresa diz que foi Buratti
quem a procurou, com a intenção
de extorquir dinheiro no processo
de negociação com a Caixa. Em
2003, Ralf era assessor da presidência da Caixa, cargo em que pôde perceber os esforços da GTech
para manter o contrato.
Decepção
A doação de R$ 1 milhão à campanha do PT é proporcional à decepção que os empresários tiveram com a decisão que o presidente Lula tomou depois de Waldomiro Diniz ter sido flagrado em
uma gravação de vídeo pedindo
propina ao empresário Carlos Cachoeira -o fechamento dos bingos por meio da medida provisória 168, editada em janeiro do ano
passado. Na época em que gravação foi divulgada, em 2004, Waldomiro era assessor de José Dirceu, então ministro da Casa Civil.
Decepção e traição são os termos mais lisongeiros reservados a
Lula e ao PT pelos empresários de
bingo. Com o fechamento das casas, os fabricantes de máquinas
deixaram o país. Foi o que aconteceu com os angolanos José Paulo
Teixeira Cruz Figueiredo e Artur
José Valente Oliveira Caio, apontados pela revista "IstoÉ Dinheiro" como os doadores de R$ 1 milhão para o PT -versão negada
pelo advogado da dupla, Paulo José Iasz de Morais.
No início do ano passado, eles
fecharam a Fabama (Fábrica Brasileira de Máquinas Automáticas)
em São Paulo e decidiram deixar
o país. Vivem entre Miami e Lisboa e produzem equipamentos
na Europa. Não querem ouvir falar de política, muito menos do
PT, segundo interlocutores dos
empresários.
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