São Paulo, terça-feira, 20 de novembro de 2007

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Lula e Cristina eliminam dólar do comércio

Medida reduzirá custos das relações comerciais e, ao menos em um primeiro momento, será mais benéfica para a Argentina

Presidentes criam comissão bilateral que se reunirá duas vezes por ano; o primeiro encontro deve ocorrer em fevereiro em Buenos Aires

Fernando Bizerra Jr./Efe
"BARBA E CABELO" O presidente Lula recebe em Brasília a presidente eleita da Argentina, Cristina Kirchner, e fecha acordo que elimina o dólar do comércio bilateral em 2008


IURI DANTAS
LETÍCIA SANDER

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em sua primeira visita ao Brasil após ser eleita presidente da Argentina, Cristina Kirchner tratou com Luiz Inácio Lula da Silva de acordos na área de energia e de comércio, principalmente. Ficou acertado que o comércio entre os países será feito em moeda local a partir do início do ano que vem, eliminando o dólar das importações e exportações. A medida reduzirá os custos das relações comerciais e, ao menos em um primeiro momento, será mais benéfica para a Argentina.
"Pelo que o ministro Guido Mantega [Fazenda] explicou dos avanços e a resolução de alguns problemas técnicos, creio que no início de 2008 isso já estará em curso, seguramente vai dar uma nova qualidade à relação comercial", afirmou o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
Pela primeira vez, a corrente de comércio entre Argentina e Brasil atingirá US$ 20 bilhões, com superávit para o Brasil.
De janeiro a outubro deste ano, o Brasil vendeu US$ 11,82 bilhões e comprou US$ 8,28 bilhões da Argentina, um superávit de US$ 3,58 bilhões. É justamente esse superávit que o Brasil acumula hoje em dólares e que será feito em moeda local.
Durante cerca de uma hora, Cristina teve uma conversa reservada com Lula. Os dois países decidiram criar uma comissão bilateral para discutir projetos nas áreas de energia, economia, defesa e ciência e tecnologia. Essa aproximação ocorre num momento em que o venezuelano Hugo Chávez amplia sua influência no continente.
"[A democracia e] o reconhecimento recíproco de que Argentina e Brasil formam um par essencial para a estabilidade da região são os grandes componentes desse acerto cada vez maior", disse Marco Aurélio. Indagado se a aproximação dos dois países serviria para minar a força política de Chávez, classificou a avaliação como "tacanha" e "mesquinha".
A comissão criada ontem se reunirá duas vezes por ano, uma em Brasília e outra em Buenos Aires, e será coordenada pelos presidentes Lula e Cristina. A primeira reunião será na Argentina em fevereiro.
Após o encontro, Cristina fez um breve pronunciamento, no qual elogiou a parceria com o Brasil. Segundo ela, a comissão deverá ter "metas, objetivos e prazos". "De tal modo que a integração ou as discussões não sejam somente um exercício de "reunionismo", como dizemos os argentinos, mas precisamente de resultados concretos", disse Cristina, que não respondeu a perguntas. Lula não se pronunciou.
Na área de energia, os dois países demonstraram interesse em parceria no campo nuclear. Os ministros da área ficaram de inventariar suas iniciativas nucleares e conversar sobre o que pode ser feito em conjunto.
Segundo Marco Aurélio, foi tratada na reunião a possibilidade de a Petrobras aumentar os investimentos na Argentina. Ele disse crer que, até a reunião prevista para fevereiro, os dois países possam ter uma definição sobre o projeto da Usina de Garabi, em Garruchos (RS).
Os dois países também querem atuar conjuntamente em relação à Bolívia, fornecedora de gás. No dia 12, Lula estará com Evo Morales em La Paz.


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