São Paulo, sexta, 20 de novembro de 1998

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EXCLUSIVO
Fluxograma impresso em folha não autenticada mostra como funcionaria suposto esquema da CH, J & T
Papel aponta fluxo de "dinheiro político'

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília


Um papel sem autenticação com o nome da consultoria Overland Advisory Services, Inc., de Miami, faz parte do dossiê Caribe ao qual a Folha teve acesso parcial.
A Overland pertence ao brasileiro Oscar de Barros, que mora nos EUA há 18 anos.
Sua empresa é especializada em abrir contas e empresas em paraísos fiscais.
Existe uma ligação entre a Overland e o pastor evangélico Caio Fábio, que tentou colocar políticos brasileiros em contato com pessoas interessadas em vender o dossiê Caribe.
Caio Fábio solicitou os trabalhos da Overland para captar recursos internacionais para o canal de TV paga Vinde, que mantém no Rio de Janeiro.
O dossiê Caribe é um conjunto de papéis sem autenticação -como esse hoje publicado pela Folha- que sugerem uma suposta associação sigilosa no exterior entre o presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Mário Covas, o ministro da Saúde, José Serra, e Sérgio Motta, que foi ministro das Comunicações e morreu em abril.
FHC, Covas e Serra negam qualquer associação ou a existência de contas não declaradas no exterior. FHC entregou o caso para a Procuradoria Geral da República e para a Polícia Federal investigarem.
²
O fluxograma
O proprietário da Overland, Oscar de Barros, disse à Folha que o papel encontrado pelo jornal não pertence a sua empresa. "Isso é uma falsificação, uma montagem", disse.
A Folha pediu a ele uma cópia de seu papel timbrado para comparar com o encontrado junto ao dossiê Caribe. Barros se recusou a fornecer esse papel. "Vou entregar o caso para meu Departamento Jurídico", afirmou.
Barros também negou que a letra do papel fosse sua ou de algum funcionário da Overland. "Essa letra não é minha", disse.
O papel contém um fluxograma manuscrito. Aparecem ali o que seria o suposto caminho do dinheiro.
Segundo o fluxograma, a origem de tudo seria a empresa CH, J & T, com sede em Nassau, nas Bahamas. A Folha comprovou que a empresa existe e publicou documentos autenticados na edição do último dia 11.
Não existe informação oficial sobre quem seria dono da CH, J & T.
No fluxograma com o timbre da Overland há duas flechas saindo da CH, J & T.
Uma dessas flechas vai em direção ao banco inglês Coutts, nas Ilhas Cayman. Junto ao nome do Coutts aparece a inscrição "political money" (dinheiro político).
Outra flecha caindo da CH, J & T aponta para uma suposta agência do banco britânico Schroders, na Suíça. Nesse item está também a inscrição "private money" (dinheiro privado).
² Movimentação
A pessoa que fez esse fluxograma pretendia explicar o que seria a suposta movimentação do dinheiro pertencente à CH, J & T. Outra possibilidade é que esse desenho teria sido o início da montagem de uma operação forjada para montar o dossiê Caribe.
O fluxograma traz uma divisão entre as personagens citadas no dossiê. Ray Terrence, um personagem não identificado, e José Serra aparecem juntos à inscrição "Swiss Von Ernest", sem maiores informações.
FHC, Covas e Motta estão juntos no item "Legionella - Credit Suisse". Esse nome, Legionella, aparece em outro papel sem autenticidade comprovada do dossiê: seria o nome de um fundo de investimentos aberto numa filial do Credit Suisse das Ilhas Guernsey, no Canal da Mancha (entre o Reino Unido e a França).



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