São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2008

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análise

Senadores têm desprezo pela opinião pública

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A farra do aumento de vagas de vereadores passou no Senado na madrugada de quarta para quinta-feira por uma razão simples: historicamente, aquela Casa se sente imune à opinião pública. Com mandatos de oito anos, os senadores votam projetos impopulares com mais desenvoltura que os deputados, cujos mandatos são de apenas quatro anos.
Na Câmara, o cenário é mais complexo. Os deputados já haviam aprovado a medida, mas o presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), decidiu não assinar a promulgação da emenda constitucional. Alegou em público que os senadores deturparam o projeto ao não terem votado um limite nos gastos.
A última preocupação de Chinaglia foi com as contas públicas nas cidades brasileiras. O petista estava mais interessado em tentar salvar um pouco sua imagem e ganhar alguma notoriedade política após uma gestão sem brilho na terceira cadeira mais importante na hierarquia da República.
Não foi à toa Chinaglia ter escolhido o dia de ontem, ainda sob os holofotes por causa da recusa em promulgar a farra dos vereadores, para falar em público o que há meses sussurrava em conversas reservadas: seu desejo de ser candidato ao governo paulista em 2010.
Ele já havia tateado o terreno ao tentar, sem sucesso, ser indicado candidato do PT à Prefeitura de São Paulo. Apesar de ocupar cargo de presidente da Câmara, seu desempenho nas pesquisas nunca passou de inexpressivo 1%.
Chinaglia não fez grandes amizades nem construiu relações políticas para alavancar sua carreira. Tampouco optou por avançar com assuntos polêmicos aos deputados, mas que o deixariam bem com a opinião pública.
Quando assumiu sua cadeira, em fevereiro de 2007, a emenda constitucional que acabava com o voto secreto de deputados (inclusive na cassação de mandatos) estava pronta para ser votada, depois de ter sido aprovada em primeiro turno. Chinaglia nunca conseguiu levar o assunto adiante.
Uma de suas maiores obras foi a chamada Lei Seca, mas o assunto só começou a tramitar na Câmara porque o Planalto baixou medida provisória.
Como ato final de seu mandato, a decisão de Chinaglia de não promulgar a farra dos vereadores foi inócua. O TSE já havia indicado que a medida não valeria a vereadores que tomam posse agora no início do ano. Ou seja, haverá tempo para o Congresso levar o assunto adiante para a eleição de 2012.


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