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análise
Senadores têm desprezo pela opinião pública
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A farra do aumento de
vagas de vereadores passou no Senado na madrugada de quarta para quinta-feira por uma razão
simples: historicamente,
aquela Casa se sente imune à opinião pública. Com
mandatos de oito anos, os
senadores votam projetos
impopulares com mais desenvoltura que os deputados, cujos mandatos são de
apenas quatro anos.
Na Câmara, o cenário é
mais complexo. Os deputados já haviam aprovado
a medida, mas o presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), decidiu não
assinar a promulgação da
emenda constitucional.
Alegou em público que os
senadores deturparam o
projeto ao não terem votado um limite nos gastos.
A última preocupação
de Chinaglia foi com as
contas públicas nas cidades brasileiras. O petista
estava mais interessado
em tentar salvar um pouco
sua imagem e ganhar alguma notoriedade política
após uma gestão sem brilho na terceira cadeira
mais importante na hierarquia da República.
Não foi à toa Chinaglia
ter escolhido o dia de ontem, ainda sob os holofotes por causa da recusa em
promulgar a farra dos vereadores, para falar em
público o que há meses
sussurrava em conversas
reservadas: seu desejo de
ser candidato ao governo
paulista em 2010.
Ele já havia tateado o
terreno ao tentar, sem sucesso, ser indicado candidato do PT à Prefeitura de
São Paulo. Apesar de ocupar cargo de presidente da
Câmara, seu desempenho
nas pesquisas nunca passou de inexpressivo 1%.
Chinaglia não fez grandes amizades nem construiu relações políticas para alavancar sua carreira.
Tampouco optou por
avançar com assuntos polêmicos aos deputados,
mas que o deixariam bem
com a opinião pública.
Quando assumiu sua cadeira, em fevereiro de
2007, a emenda constitucional que acabava com o
voto secreto de deputados
(inclusive na cassação de
mandatos) estava pronta
para ser votada, depois de
ter sido aprovada em primeiro turno. Chinaglia
nunca conseguiu levar o
assunto adiante.
Uma de suas maiores
obras foi a chamada Lei
Seca, mas o assunto só começou a tramitar na Câmara porque o Planalto
baixou medida provisória.
Como ato final de seu
mandato, a decisão de Chinaglia de não promulgar a
farra dos vereadores foi
inócua. O TSE já havia indicado que a medida não
valeria a vereadores que
tomam posse agora no início do ano. Ou seja, haverá
tempo para o Congresso
levar o assunto adiante para a eleição de 2012.
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