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FÓRUM SOCIAL MUNDIAL
Três candidatos à Presidência, seis ministros de Estado e o prefeito de Paris devem vir ao Brasil
Esquerda francesa comparece em massa a Porto Alegre
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Um dos principais eventos políticos da França nos próximos dias
acontece em... Porto Alegre. A cidade vai receber um número inédito de autoridades e políticos
franceses para o Fórum Social
Mundial. A "imigração política
francesa" foi destaque nos jornais
parisienses no fim de semana.
Três candidatos à eleição presidencial de 2002 prepararam suas
malas para o Brasil -Jean-Pierre
Chèvenement, do MDC (Movimento dos Cidadãos), terceiro lugar nas pesquisas eleitorais, Noël
Mamère, do Partido dos Verdes, e
Olivier Besancenot, da LCR (Liga
Comunista Revolucionária).
O prefeito socialista de Paris,
Bertrand Delanoë, desembarcará
no país no próximo dia 28. Seis
ministros de Estado também irão,
bem como representantes do primeiro-ministro socialista Lionel
Jospin e mesmo do presidente
Jacques Chirac, de centro-direita.
Uma penca de deputados e líderes de partidos comparecerão
igualmente ao Fórum, como o
presidente do Partido Socialista
(PS) na Assembléia Nacional,
Raymond Forni. Sem falar ainda
em centenas de membros de organizações de esquerda e de grupos antimundialistas franceses,
sobretudo do movimento Attac,
co-organizador do evento no Rio
Grande do Sul, entre 31 de janeiro
e 5 de fevereiro.
"Engarrafamento em Porto Alegre", anunciou o jornal "Libération": "Mesmo que não se confraternizem em torno de uma "caïpirinha", os candidatos do MDC,
dos Verdes e do LCR para a eleição presidencial vão se cruzar em
Porto Alegre. Não é mais um fórum, é um mercado".
"Le Monde" estampou na sua
edição de domingo: "É o tumulto!... Porto Alegre, promovida a
Meca dos antimundialistas no
ano passado, será também, em
fim de janeiro, a Meca dos homens políticos franceses...".
A evasão dos políticos rumo ao
Brasil virou também editorial no
"Monde", com o título "Todos em
Porto Alegre!". O texto comenta:
"A viagem para Porto Alegre está
na moda para a esquerda. Aparentemente, a esquerda francesa
escolheu seu lado, o da recusa de
uma economia de mercado sem
restrições e fronteiras. Ela deseja
mostrar que é solidária àqueles
que sofrem com a dominação do
capitalismo mundializado e com
as injustiças que este produz".
Os dois jornais destacam ao
mesmo tempo a influência crescente, nos debates políticos franceses, da organização Attac (Ação
pela Tributação das Transações
Financeiras em Apoio aos Cidadãos), uma das mais sólidas e ativas do movimento antimundialista. Entre as propostas políticas
do Attac está a criação da Taxa
Tobin, de taxação dos movimentos mundiais do capital.
"A opinião pública francesa rejeita majoritariamente a mundialização liberal, por isso todos os
dirigentes políticos, inclusive os
ligados a Jacques Chirac, se crêem
obrigados a viajar a Porto Alegre.
Em época de eleições, todos querem mostrar interesse pelas questões do Fórum", disse à Folha o
presidente do Attac, Bernard Cassen, que é também diretor do jornal "Le Monde Diplomatique".
Para Cassen, a corrida a Porto
Alegre indica também o "deslocamento" dos políticos na direção
das idéias antiliberais defendidas
pelo Fórum e pelo Attac-França.
"O Fórum é abertamente antiliberal. Se os políticos franceses de
esquerda e até de direita se interessam por ele, significa que nossas teses estão ganhando influência. Estamos surpresos com a força atual do Attac na França. Os
próprios políticos reconhecem isso, já não se trata de um segredo."
No sábado, o Attac lançou seu
"Manifesto 2002", uma espécie de
plataforma para uma "interpelação democrática" dos candidatos
à Presidência na França. O lançamento do manifesto, feito numa
festa política onde eram esperadas 3.000 pessoas, foi um sucesso.
Duas mil pessoas além das previstas acudiram ao teatro Zenith, em
Paris, sem poder entrar no local,
por falta de espaço.
Para Cassen, a crise argentina
será um dos temas dominantes
no Fórum. "Vai exigir muito de
nossa atenção. A Argentina fez
exatamente o que o FMI pediu,
mas agora entrou em falência,
embora seja um país rico, em recursos naturais e humanos. Esta
falência, portanto, é também a falência do FMI e da receita liberal."
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