São Paulo, segunda-feira, 21 de janeiro de 2002

Texto Anterior | Índice

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL

Três candidatos à Presidência, seis ministros de Estado e o prefeito de Paris devem vir ao Brasil

Esquerda francesa comparece em massa a Porto Alegre

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

Um dos principais eventos políticos da França nos próximos dias acontece em... Porto Alegre. A cidade vai receber um número inédito de autoridades e políticos franceses para o Fórum Social Mundial. A "imigração política francesa" foi destaque nos jornais parisienses no fim de semana.
Três candidatos à eleição presidencial de 2002 prepararam suas malas para o Brasil -Jean-Pierre Chèvenement, do MDC (Movimento dos Cidadãos), terceiro lugar nas pesquisas eleitorais, Noël Mamère, do Partido dos Verdes, e Olivier Besancenot, da LCR (Liga Comunista Revolucionária).
O prefeito socialista de Paris, Bertrand Delanoë, desembarcará no país no próximo dia 28. Seis ministros de Estado também irão, bem como representantes do primeiro-ministro socialista Lionel Jospin e mesmo do presidente Jacques Chirac, de centro-direita.
Uma penca de deputados e líderes de partidos comparecerão igualmente ao Fórum, como o presidente do Partido Socialista (PS) na Assembléia Nacional, Raymond Forni. Sem falar ainda em centenas de membros de organizações de esquerda e de grupos antimundialistas franceses, sobretudo do movimento Attac, co-organizador do evento no Rio Grande do Sul, entre 31 de janeiro e 5 de fevereiro.
"Engarrafamento em Porto Alegre", anunciou o jornal "Libération": "Mesmo que não se confraternizem em torno de uma "caïpirinha", os candidatos do MDC, dos Verdes e do LCR para a eleição presidencial vão se cruzar em Porto Alegre. Não é mais um fórum, é um mercado".
"Le Monde" estampou na sua edição de domingo: "É o tumulto!... Porto Alegre, promovida a Meca dos antimundialistas no ano passado, será também, em fim de janeiro, a Meca dos homens políticos franceses...".
A evasão dos políticos rumo ao Brasil virou também editorial no "Monde", com o título "Todos em Porto Alegre!". O texto comenta: "A viagem para Porto Alegre está na moda para a esquerda. Aparentemente, a esquerda francesa escolheu seu lado, o da recusa de uma economia de mercado sem restrições e fronteiras. Ela deseja mostrar que é solidária àqueles que sofrem com a dominação do capitalismo mundializado e com as injustiças que este produz".
Os dois jornais destacam ao mesmo tempo a influência crescente, nos debates políticos franceses, da organização Attac (Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos), uma das mais sólidas e ativas do movimento antimundialista. Entre as propostas políticas do Attac está a criação da Taxa Tobin, de taxação dos movimentos mundiais do capital.
"A opinião pública francesa rejeita majoritariamente a mundialização liberal, por isso todos os dirigentes políticos, inclusive os ligados a Jacques Chirac, se crêem obrigados a viajar a Porto Alegre. Em época de eleições, todos querem mostrar interesse pelas questões do Fórum", disse à Folha o presidente do Attac, Bernard Cassen, que é também diretor do jornal "Le Monde Diplomatique".
Para Cassen, a corrida a Porto Alegre indica também o "deslocamento" dos políticos na direção das idéias antiliberais defendidas pelo Fórum e pelo Attac-França.
"O Fórum é abertamente antiliberal. Se os políticos franceses de esquerda e até de direita se interessam por ele, significa que nossas teses estão ganhando influência. Estamos surpresos com a força atual do Attac na França. Os próprios políticos reconhecem isso, já não se trata de um segredo."
No sábado, o Attac lançou seu "Manifesto 2002", uma espécie de plataforma para uma "interpelação democrática" dos candidatos à Presidência na França. O lançamento do manifesto, feito numa festa política onde eram esperadas 3.000 pessoas, foi um sucesso. Duas mil pessoas além das previstas acudiram ao teatro Zenith, em Paris, sem poder entrar no local, por falta de espaço.
Para Cassen, a crise argentina será um dos temas dominantes no Fórum. "Vai exigir muito de nossa atenção. A Argentina fez exatamente o que o FMI pediu, mas agora entrou em falência, embora seja um país rico, em recursos naturais e humanos. Esta falência, portanto, é também a falência do FMI e da receita liberal."


Texto Anterior: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.