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Heloísa Helena ameaça votar contra orientação do PT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA ENVIADA A BRASÍLIA
A senadora Heloísa Helena (PT-AL) ameaçou ontem votar contra
a indicação de José Sarney
(PMDB-AP) ou de Renan Calheiros (PMDB-AL) para presidir o
Senado, o que pode gerar uma crise no PT similar à ocorrida quando de Henrique Meirelles para
presidente do Banco Central.
"Como nordestina, tenho dificuldade em conviver com as oligarquias ou com pessoas que serviram às oligarquias", declarou a
senadora, em referência a Sarney
e Calheiros, respectivamente. Sarney, que apoiou Luiz Inácio Lula
da Silva desde o primeiro turno, é
o provável candidato do PMDB
ao posto, com apoio do Planalto.
"Não tenho nenhum problema
pessoal com Sarney ou com Renan. É uma questão de coerência
metodológica." Segundo ela, se tivesse de optar por um peemedebista, "ficaria com Pedro Simon".
Heloísa Helena, integrante da
ala esquerda do PT, utilizou uma
metáfora para indicar que poderá
votar contrariamente à orientação do partido: "Quando há uma
onda muito grande, dizem que se
deve mergulhar nela. Mas há
quem desista de mergulhar por
saber que dentro da onda encontrará um tubarão branco chamado consciência. Preferem deixar a
onda quebrar em suas costas".
A senadora afirmou que ainda é
cedo para prever as consequências de um eventual desrespeito à
diretriz partidária. "Não vamos
antecipar a discussão", disse.
Capital especulativo
Heloísa Helena fez ainda críticas
duras sobre a condução das reformas pelo novo governo. Segundo
ela, o governo, eleito com o apoio
popular, propôs metas que favorecem o capital especulativo e
prejudicam o trabalhador. A
questão tributária deveria vir antes da previdenciária. "Nós não
podemos aceitar que um governo, conduzido majoritariamente
pelo PT, fortaleça o capital especulativo com a discussão sobre a
autonomia do BC e enfraqueça as
relações de trabalho".
Segundo ela, a reforma previdenciária antes da tributária é
"inaceitável". "O PT sempre defendeu os trabalhadores. Se, por
algum motivo, eles precisam discutir essa reforma, que venham a
público e se expliquem." Heloísa
ainda criticou a ida de Lula ao Fórum Econômico Mundial, que representaria "a atual ordem econômica global injusta".
No ano passado, a senadora entrou em confronto com a direção
nacional do PT em duas ocasiões.
No dia 4 de julho, renunciou à sua
candidatura ao governo de Alagoas depois que a direção nacional determinou que o PL fosse incluído na coligação estadual. Chorando, a senadora declarou: "Vou
entender que minha candidatura
é insignificante para o partido. O
colégio eleitoral de Alagoas é realmente pequeno, e a Heloísa é um
problema para um grande projeto
nacional. Mas à minha honra eu
não irei renunciar".
No dia 12 de dezembro, a senadora criticou a escolha de Henrique Meirelles para a presidência
do Banco Central: "É uma personalidade que, ao longo de sua história, serviu aos interesses financeiros internacionais". No dia 16
de dezembro, o PT fechou questão pelo voto favorável a Meirelles. No dia 17, chegou-se a um
acordo: Heloísa aceitou se ausentar da sabatina de Meirelles. Em
entrevista após a decisão, ela voltou a chorar: "Foi encontrada
uma fórmula entre os limites éticos de consciência intransponíveis e a unidade partidária".
(LILIAN CHRISTOFOLETTI E FÁBIO ZANINI)
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