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CASO SANTO ANDRÉ
Em discurso na Câmara, petista diz que Ministério Público faz investigação "sigilosa, clandestina e particular"
Promotores são parciais, acusa Greenhalgh
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Discursando na Câmara dos
Deputados em memória dos dois
anos da morte do prefeito de Santo André Celso Daniel, o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) atacou o Ministério Público, a imprensa e fez uma
referência à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, gerida
pelo PSDB, que estaria impedindo delegados de darem declarações sobre o tema.
O deputado foi o advogado indicado pelo PT para acompanhar
a primeira fase das investigações,
conduzida pela polícia. Ele descarta a possibilidade de o assassinato ter sido um crime político.
O Ministério Público trabalha
com a hipótese de que o assassinato tenha relação com um suposto esquema de propina na
Prefeitura de Santo André.
Para Greenhalgh, o Ministério
Público não está sendo imparcial.
"Começou a me intrigar o comportamento dos promotores de
Santo André. Quando o caso tinha possibilidade de ser político,
eles chegavam antes dos depoimentos e só saíam depois que acabavam. Quando o caso voltou a se
direcionar para o crime comum,
os promotores foram se afastando. Nem todos iam aos interrogatórios. Eles abandonaram a investigação e partiram para outra, sigilosa, clandestina e particular",
disse ele, na tribuna da Câmara.
O deputado afirmou que recebe
telefonemas de apoio dos delegados que conduziram a primeira
fase das investigações e concluíram que o crime foi comum. "Eles
dizem que o caso agora foi avocado ao secretário de Segurança de
São Paulo, à assessoria de imprensa, e que estão proibidos de falar
sobre a investigação", afirmou
Greenhalgh, segundo o qual a hipótese de ele estar errado é "zero".
Reportagem publicada pela Folha domingo revelou que pelo
menos seis pessoas que tiveram
algum tipo de vínculo com os
acontecimentos que cercaram a
morte do prefeito Celso Daniel foram assassinadas desde então.
Entre elas, está o garçom que
serviu ao prefeito na noite em que
foi seqüestrado. O garçom portava documentos falsos e um novo
nome quando foi morto -enquanto dirigia uma moto, ele foi
agredido por dois homens e colidiu com um poste. Na época, ele,
que ganhava cerca de R$ 400, recebeu R$ 60 mil num depósito em
conta corrente.
Para o deputado Greenhalgh, os
promotores estão direcionando
as investigações. "Ninguém é
contra o Ministério Público, mas
somos contra o inquérito feito pelo Ministério Público ou pela polícia ser clandestino, sigiloso, particular. Nessa investigação feita pelo Ministério Público, a mulher do
Celso Daniel, que viveu com ele
seis anos, não foi ouvida. Só se ouve quem se quer ouvir", disse.
A relação de Greenhalgh com o
Ministério Público piorou depois
da divulgação pela Folha, em 23
de dezembro, do depoimento de
Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira, o Bozinho, acusado da morte do prefeito. O preso disse que
confessou participação no crime
depois de ter apanhado do deputado federal.
"Chegou-se ao cúmulo de um
desses presos visitados pelos promotores dizer que sua confissão
tinha sido feita mediante tortura e
que na sala havia uma pessoa com
bigode grande, magro, alto, tratado ali como deputado. E alguém
pergunta: "Greenhalgh?". E o preso diz: "Sim, um nome estrangeiro'", disse o deputado petista.
"Nenhum preso faria isso se não
tivesse sido instruído. E não se faria isso para entregar à imprensa
se não se tivesse o objetivo claro
de desmoralizar as pessoas, de
atacá-las na sua integridade."
Ele criticou o vazamento da informação. "Esse depoimento é
passado para um jornalista, e o
jornalista publica na Folha de
S.Paulo a notícia: "Preso acusa
Greenhalgh de tê-lo torturado".
Passei 17 dias querendo a cópia do
depoimento e não pude ter acesso
porque o processo é sigiloso. Há
segredo de Justiça para vítima de
uma calúnia, mas não há segredo
de Justiça para quem publicou.
Nem há segredo de Justiça para
quem deu para publicar."
Lula
Greenhalgh disse, um dia depois de o corpo de Celso Daniel
ter sido encontrado, em 2002, que
foi convocado para uma reunião
no apartamento de Luiz Inácio
Lula da Silva, em São Bernardo do
Campo (SP).
"O Lula me pediu que parasse
tudo que estava fazendo para
acompanhar integralmente esse
caso e ajudar nas investigações.
Disse a ele coisa que nunca falei:
"É para investigar tudo?". Ele me
respondeu: "É para investigar tudo". "É para buscar a verdade real
nesse caso?". Ele: "É para buscá-la'", afirmou o deputado.
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