São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

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CASO SANTO ANDRÉ

Em discurso na Câmara, petista diz que Ministério Público faz investigação "sigilosa, clandestina e particular"

Promotores são parciais, acusa Greenhalgh

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Discursando na Câmara dos Deputados em memória dos dois anos da morte do prefeito de Santo André Celso Daniel, o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) atacou o Ministério Público, a imprensa e fez uma referência à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, gerida pelo PSDB, que estaria impedindo delegados de darem declarações sobre o tema.
O deputado foi o advogado indicado pelo PT para acompanhar a primeira fase das investigações, conduzida pela polícia. Ele descarta a possibilidade de o assassinato ter sido um crime político.
O Ministério Público trabalha com a hipótese de que o assassinato tenha relação com um suposto esquema de propina na Prefeitura de Santo André.
Para Greenhalgh, o Ministério Público não está sendo imparcial. "Começou a me intrigar o comportamento dos promotores de Santo André. Quando o caso tinha possibilidade de ser político, eles chegavam antes dos depoimentos e só saíam depois que acabavam. Quando o caso voltou a se direcionar para o crime comum, os promotores foram se afastando. Nem todos iam aos interrogatórios. Eles abandonaram a investigação e partiram para outra, sigilosa, clandestina e particular", disse ele, na tribuna da Câmara.
O deputado afirmou que recebe telefonemas de apoio dos delegados que conduziram a primeira fase das investigações e concluíram que o crime foi comum. "Eles dizem que o caso agora foi avocado ao secretário de Segurança de São Paulo, à assessoria de imprensa, e que estão proibidos de falar sobre a investigação", afirmou Greenhalgh, segundo o qual a hipótese de ele estar errado é "zero".
Reportagem publicada pela Folha domingo revelou que pelo menos seis pessoas que tiveram algum tipo de vínculo com os acontecimentos que cercaram a morte do prefeito Celso Daniel foram assassinadas desde então.
Entre elas, está o garçom que serviu ao prefeito na noite em que foi seqüestrado. O garçom portava documentos falsos e um novo nome quando foi morto -enquanto dirigia uma moto, ele foi agredido por dois homens e colidiu com um poste. Na época, ele, que ganhava cerca de R$ 400, recebeu R$ 60 mil num depósito em conta corrente.
Para o deputado Greenhalgh, os promotores estão direcionando as investigações. "Ninguém é contra o Ministério Público, mas somos contra o inquérito feito pelo Ministério Público ou pela polícia ser clandestino, sigiloso, particular. Nessa investigação feita pelo Ministério Público, a mulher do Celso Daniel, que viveu com ele seis anos, não foi ouvida. Só se ouve quem se quer ouvir", disse.
A relação de Greenhalgh com o Ministério Público piorou depois da divulgação pela Folha, em 23 de dezembro, do depoimento de Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira, o Bozinho, acusado da morte do prefeito. O preso disse que confessou participação no crime depois de ter apanhado do deputado federal.
"Chegou-se ao cúmulo de um desses presos visitados pelos promotores dizer que sua confissão tinha sido feita mediante tortura e que na sala havia uma pessoa com bigode grande, magro, alto, tratado ali como deputado. E alguém pergunta: "Greenhalgh?". E o preso diz: "Sim, um nome estrangeiro'", disse o deputado petista. "Nenhum preso faria isso se não tivesse sido instruído. E não se faria isso para entregar à imprensa se não se tivesse o objetivo claro de desmoralizar as pessoas, de atacá-las na sua integridade."
Ele criticou o vazamento da informação. "Esse depoimento é passado para um jornalista, e o jornalista publica na Folha de S.Paulo a notícia: "Preso acusa Greenhalgh de tê-lo torturado". Passei 17 dias querendo a cópia do depoimento e não pude ter acesso porque o processo é sigiloso. Há segredo de Justiça para vítima de uma calúnia, mas não há segredo de Justiça para quem publicou. Nem há segredo de Justiça para quem deu para publicar."

Lula
Greenhalgh disse, um dia depois de o corpo de Celso Daniel ter sido encontrado, em 2002, que foi convocado para uma reunião no apartamento de Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo do Campo (SP).
"O Lula me pediu que parasse tudo que estava fazendo para acompanhar integralmente esse caso e ajudar nas investigações. Disse a ele coisa que nunca falei: "É para investigar tudo?". Ele me respondeu: "É para investigar tudo". "É para buscar a verdade real nesse caso?". Ele: "É para buscá-la'", afirmou o deputado.


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