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Para organizadores, aconteceram dois fóruns simultâneos
DA ENVIADA ESPECIAL A MUMBAI
A avaliação feita ontem por organizadores do 4º Fórum Social
Mundial, que termina hoje, é que
ocorreram simultaneamente dois
eventos: o das passeatas e o dos
seminários. Há ainda um consenso em relação ao fórum: é preciso
torná-lo mais propositivo.
Ainda não se sabe como mudar
o fórum. Alguns defendem que
ele promova referendos sobre
questões internacionais. Outros,
que faça uma declaração. Hoje,
ONGs e movimentos que participam do encontro redigem suas
próprias propostas, mas isso não
representa o pensamento do fórum como um todo.
O professor Boaventura Souza
Santos, da Universidade de Coimbra (Portugal), sugere que o evento apresente mais propostas: "É
preciso construir consenso e passar para a ação". O professor, uma
das vozes mais respeitadas pelos
militantes -ele participa do
evento desde o primeiro fórum-
, defende "uma grande consulta
às organizações de todos os continentes para saber que temas que
elas vêm discutindo. Escolhemos
uns dois ou três temas e fazemos
um referendo. Falamos em democracia, mas não a exercitamos
nesse espaço. Podemos fazer o
exercício da democracia participativa transnacional".
Boaventura acredita que o fórum pode se esvaziar caso não se
torne mais propositivo.
A indiana Nandita Shah, contudo, discorda da tese de que neste
ano houve dois fóruns: "Em
Mumbai houve um único fórum,
onde conseguimos fazer com que
os excluídos participassem". Para
ela, as passeatas e manifestações
são a forma de manifestação de
uma parte da sociedade. Ela avalia
que o diferencial do fórum foi a
inclusão de temas como o fundamentalismo e as castas.
O Fórum Social foi criado para
se contrapor ao Fórum Econômico de Davos. Mas não havia o objetivo de aprovar propostas ou linhas de ação. Em suas quatro edições, o Fórum Social se caracterizou pelo debate e pela apresentação de idéias por parte de especialistas, militantes de movimentos
sociais e de ONGs.
O fórum passado, por exemplo,
aconteceu antes da Guerra do Iraque. Os militantes, reunidos em
Porto Alegre, protestaram contra
a invasão americana que, já se sabia, ocorreria em breve. Ainda assim, o fórum não aprovou uma
declaração oficial contra a guerra.
Disso resultou uma certa "mágoa" entre os militantes. Ontem,
Marco Aurélio Garcia, assessor do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que a sociedade civil
teve uma participação importante
no caso da Guerra do Iraque.
Segundo ele, os países que fazem parte do Conselho de Segurança da ONU não apoiaram a invasão em grande parte por causa
da pressão da sociedade contra a
intervenção militar em todos esses países.
O fato é que há um sentimento
crescente de que a sociedade civil
precisa fazer mais do que apenas
protestar. No fórum deste ano, as
ONGs chegaram a alguns consensos: é preciso reformar as Nações
Unidas para aumentar o poder de
decisão dos países mais pobres. A
mesma proposta vale para a Organização Mundial do Comércio.
Os movimentos também são contrários à ocupação do Iraque pelos Estados Unidos e seus aliados.
Pelo menos uma ação já está definida. No dia 20 de março haverá
protestos em todo o mundo para
marcar os 12 meses da invasão ao
Iraque. A idéia é fazer uma campanha para que, nesse dia, as pessoas não consumam produtos
norte-americanos. O fórum termina hoje com uma passeata pelo
centro de Mumbai e com shows.
O ministro da Cultura, Gilberto
Gil, é um dos artistas que irá se
apresentar.
(GABRIELA ATHIAS)
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