São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

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Para organizadores, aconteceram dois fóruns simultâneos

DA ENVIADA ESPECIAL A MUMBAI

A avaliação feita ontem por organizadores do 4º Fórum Social Mundial, que termina hoje, é que ocorreram simultaneamente dois eventos: o das passeatas e o dos seminários. Há ainda um consenso em relação ao fórum: é preciso torná-lo mais propositivo.
Ainda não se sabe como mudar o fórum. Alguns defendem que ele promova referendos sobre questões internacionais. Outros, que faça uma declaração. Hoje, ONGs e movimentos que participam do encontro redigem suas próprias propostas, mas isso não representa o pensamento do fórum como um todo.
O professor Boaventura Souza Santos, da Universidade de Coimbra (Portugal), sugere que o evento apresente mais propostas: "É preciso construir consenso e passar para a ação". O professor, uma das vozes mais respeitadas pelos militantes -ele participa do evento desde o primeiro fórum- , defende "uma grande consulta às organizações de todos os continentes para saber que temas que elas vêm discutindo. Escolhemos uns dois ou três temas e fazemos um referendo. Falamos em democracia, mas não a exercitamos nesse espaço. Podemos fazer o exercício da democracia participativa transnacional".
Boaventura acredita que o fórum pode se esvaziar caso não se torne mais propositivo.
A indiana Nandita Shah, contudo, discorda da tese de que neste ano houve dois fóruns: "Em Mumbai houve um único fórum, onde conseguimos fazer com que os excluídos participassem". Para ela, as passeatas e manifestações são a forma de manifestação de uma parte da sociedade. Ela avalia que o diferencial do fórum foi a inclusão de temas como o fundamentalismo e as castas.
O Fórum Social foi criado para se contrapor ao Fórum Econômico de Davos. Mas não havia o objetivo de aprovar propostas ou linhas de ação. Em suas quatro edições, o Fórum Social se caracterizou pelo debate e pela apresentação de idéias por parte de especialistas, militantes de movimentos sociais e de ONGs.
O fórum passado, por exemplo, aconteceu antes da Guerra do Iraque. Os militantes, reunidos em Porto Alegre, protestaram contra a invasão americana que, já se sabia, ocorreria em breve. Ainda assim, o fórum não aprovou uma declaração oficial contra a guerra.
Disso resultou uma certa "mágoa" entre os militantes. Ontem, Marco Aurélio Garcia, assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que a sociedade civil teve uma participação importante no caso da Guerra do Iraque.
Segundo ele, os países que fazem parte do Conselho de Segurança da ONU não apoiaram a invasão em grande parte por causa da pressão da sociedade contra a intervenção militar em todos esses países.
O fato é que há um sentimento crescente de que a sociedade civil precisa fazer mais do que apenas protestar. No fórum deste ano, as ONGs chegaram a alguns consensos: é preciso reformar as Nações Unidas para aumentar o poder de decisão dos países mais pobres. A mesma proposta vale para a Organização Mundial do Comércio. Os movimentos também são contrários à ocupação do Iraque pelos Estados Unidos e seus aliados.
Pelo menos uma ação já está definida. No dia 20 de março haverá protestos em todo o mundo para marcar os 12 meses da invasão ao Iraque. A idéia é fazer uma campanha para que, nesse dia, as pessoas não consumam produtos norte-americanos. O fórum termina hoje com uma passeata pelo centro de Mumbai e com shows. O ministro da Cultura, Gilberto Gil, é um dos artistas que irá se apresentar. (GABRIELA ATHIAS)


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