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FOME SOCIAL
Para Christopher Patten, proposta de Lula pode reduzir investimentos
Comissário europeu vê risco de CPMF mundial lesar pobres
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O comissário de Relações Exteriores da União Européia, Christopher Patten, disse que está
"apreensivo" diante da proposta
do governo brasileiro de uma
"CPMF internacional" para financiar programas sociais em
países pobres.
"Eu fico apreensivo com a possibilidade de se obter um efeito
oposto ao desejado. O que queremos é ver mais investimentos em
países mais pobres e em desenvolvimento, não menos. Qualquer coisa que possa restringir os
fluxos financeiros significa o risco
de obtermos o efeito reverso ao
que pretendíamos", disse Patten à
Folha, na segunda-feira à noite.
Ele se encontrara horas antes
com o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, que pretende apresentar
a idéia da "CPMF internacional"
em um encontro com o presidente da França, Jacques Chirac, e
com o secretário-geral da ONU
(Organização das Nações Unidas), Kofi Annan, no fim do mês,
em Genebra.
Ao ressalvar que sua objeção era
"pessoal", Patten acrescentou: "O
governo brasileiro pode ter respostas para essas perguntas [sobre os riscos da proposta] e, certamente, há líderes europeus, como
o presidente Chirac, que acreditam nela [na idéia]".
A idéia original de taxação de
fluxos de capitais internacionais
-agora chamada de "CPMF internacional" pelo governo Lula-
foi do americano James Tobin,
professor da Universidade de Yale e Prêmio Nobel de Economia.
Em 1999, ela foi encampada pelo então presidente Fernando
Henrique Cardoso para tentar
impedir os efeitos das crises financeiras sobre os países mais
pobres. Lula defende sua aplicação diretamente em programas
sociais.
Se depender do britânico Patten, que completa 60 anos neste
ano e desde o início da carreira
tem laços com o Partido Conservador, a idéia não vai muito longe.
Ele, porém, ressalvou que é cedo
para conclusões: "Não há uma
posição da União Européia, pois
há diferentes pontos de vista apresentados por diferentes países
membros".
Para ele, "de todos os modelos
que foram experimentados para
lidar com movimentos financeiros gigantescos, o que mais obteve sucesso não foi o que taxa o dinheiro quando ele sai de países,
mas quando ele entra".
Programa espacial
Patten passou dois dias no Brasil, segunda-feira e ontem. Em
Brasília, foi recebido também pelo chanceler Celso Amorim e pelo
ministro José Viegas (Defesa).
Com Amorim, assinou um
acordo de cooperação científica e
tecnológica e outro de cooperação
entre UE e Brasil. Também falaram sobre a possibilidade de fechar o acordo UE-Mercosul até o
final do ano.
Com Viegas, o comissário europeu conversou sobre o sistema
Galileo de navegação e posicionamento global, que se coloca como
opção ao sistema americano para
o programa espacial brasileiro,
suspenso depois do acidente com
a base aérea de Alcântara (MA),
no ano passado.
América Latina
A uma pergunta sobre as recentes preocupações de Washington
com um eventual processo de "esquerdização" da América Latina,
Patten foi irônico:
"Eu não tenho nenhuma evidência para despertar no meio da
noite tremendo de medo".
Ele criticou tanto Cuba como a
política americana para a ilha: "Os
direitos humanos em Cuba são
deploráveis. As pessoas devem se
perguntar como [Fidel] Castro se
mantém no poder por tanto tempo. Se o objetivo das sanções e de
isolá-lo foi o de se livrar dele, não
funcionou muito bem".
Fichamento nos EUA
Patten discorda dos novos procedimentos impostos pelos EUA
aos estrangeiros que chegam ao
país: "Eu tenho dúvidas se colher
impressões digitais vai aumentar
nossa segurança. É uma questão
mais ampla. O ideal seria que medidas de segurança fossem discutidas em fóruns internacionais e
não impostas pelos americanos
sem debates".
Em seguida, foi irônico: "O
principal problema que enfrentamos foi que um vôo da British
Airways foi cancelado e atrasado
por vários dias. Depois, uma pessoa entrou num avião em Washington e foi pego em Londres,
carregando cinco balas".
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