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ELIO GASPARI
O AeroLula e a Mbeki Airline
"Isto é viver como se aprova", disse Juca Chaves, referindo-se a Juscelino Kubitschek, o presidente bossa-nova.
JK atravessava o país num reles
quadrimotor turboélice levando
consigo o sorriso do progresso, a
energia de um prefeitão e o prazer de "desfrutar da maravilha
de ser o presidente do Brasil".
Lula conseguiu ser o primeiro
governante de Pindorama, desde Tomé de Souza, que não
abriu um só metro de trilha asfaltada no seu primeiro ano de
mandato. Progresso é coisa que
falta na sua prateleira. Energia
de prefeitão, nem pensar. O presidente adora aquilo que JK
mais detestava: reuniões.
Depois de perseverar no estilo
duty-free, rodando num Omega
australiano, fumando (escondido) cigarrilhas holandesas, tendo licitado roupões de algodão
egípcio, Lula decidiu comprar
um avião.
Aqui vão as opiniões de dois
leitores.
Primeiro a de Henoélio Hermenegildo Sapopemba, do Rio
de Janeiro:
"Lamento que a Presidência
da República vá comprar um
Airbus 309 para transportar o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva em suas intermináveis viagens nacionais e internacionais.
E se isso não bastasse, a nova aeronave que vai substituir a atual
custará US$ 56,7 milhões, pagos
com o dinheiro do povo brasileiro. Enquanto isso, os reis da Suécia, da Dinamarca e da Noruega
e governantes de vários países
"pobres" viajam em aviões de
carreira".
Fala Paulo Roberto Leme, de
São Paulo:
"O novo avião do presidente
vai custar cerca de R$ 160 milhões, a Petrobras torra R$ 50
milhões em publicidade na comemoração dos seus 50 anos, o
Congresso Nacional vai gastar
R$ 50 milhões com a convocação
extraordinária e a Prefeitura de
São Paulo gastou R$ 136 milhões
em publicidade em três anos. Somente nesses quatro exemplos
-e deve haver muito mais-, a
administração do PT torra R$
397 milhões. E o presidente fala
em CPMF mundial contra a fome".
Falta ao governo de Lula a frugalidade que se esperava da nação petista. Família com desempregado à mesa não troca de
carro. Um presidente que expandiu o desemprego e contraiu o
PIB não deveria comprar avião.
Se o papa e mais os reis da Suécia, Dinamarca e Noruega não
precisam de um Airbus para
suas movimentações, por que
Lula precisa? Se tivesse paciência, poderia comprar um dos últimos modelos da Embraer. Caberiam ele, suas comitivas e,
apertando um pouco, até os egos
do comissário José Dirceu e do
senador Aloizio Mercadante.
Não teria autonomia para voar
direto a Paris, mas não sendo
um potentado saudita, Lula suportaria essa exclusão.
A diferença entre um avião da
Embraer e um roupão de pano
egípcio, um Omega australiano,
cigarrilhas holandesas e um Airbus europeu é que a Embraer (financiada pelo BNDES) gera empregos no Brasil.
Alguém foi capaz de provar a
Lula que, sem um Airbus presidencial, o Brasil se torna ingovernável ou, pelo menos, ele não
poderá governá-lo como prometeu. Havendo o dinheiro (e a
vontade de gastá-lo), as necessidades aparecem. Veja-se o caso
do rei Khaled, da Arábia Saudita. Primeiro ele precisou de um
avião. Comprou um Boeing 747.
Precisava orar, voltado para
Meca. Instalou no nariz do jato
um espaço que rodava como um
giroscópio. Era cardíaco. O
avião tinha uma UTI. Conta a
lenda que Khaled temia que lhe
faltasse um doador caso precisasse de um transplante. Por isso, levava um nas viagens, vivo.
(Alô, alô, ministro Humberto
Costa, uma idéia para transplantes de medula?) Khaled
morreu em 1982, em casa. O
doador, caso tenha existido, tornou-se um feliz desempregado.
Numa patifaria da sociedade
de consumo globalizado, o mundo tem hoje dois presidentes
comprando Airbus. Um é Lula, o
retirante dos anos 50, operário
dos 60 e sindicalista dos 70. O
outro é o presidente da África do
Sul, Thabo Mbeki, filho de ativistas negros, militante comunista, líder estudantil exilado
por mais de dez anos entre Londres e Moscou (onde fez treinamento militar), protegido de
Nelson Mandela.
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