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Ministro favorece seu Estado com obras de portos fluviais
Dos 60 projetos previstos, 49 são no Amazonas, Estado de Alfredo Nascimento
Em nota, o Ministério dos
Transportes afirma que
não há relação entre as
obras nos rios e os projetos
políticos do titular da pasta
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Senador licenciado, ex-prefeito de Manaus e nome forte
para concorrer ao governo do
Amazonas em 2010, o ministro
dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR), incluiu entre os
projetos de sua pasta para este
ano a construção de novos 49
portos fluviais em seu Estado,
quase um para cada município.
O projeto de Orçamento de
2008 em tramitação no Congresso prevê 60 "terminais fluviais" (portos) para o país, o que
significa que o Amazonas terá
81,6% destas obras. Estima-se
que o Estado responda por cerca de um terço da extensão dos
rios navegáveis do Brasil, que é
de 28 mil quilômetros no total
-não há números precisos.
Os portos fluviais beneficiarão 47 municípios de um total
de 62 do Estado (duas cidades
terão dois portos cada). Todos
devem estar prontos e inaugurados até o final do ano que
vem. Antes, portanto, da campanha eleitoral.
Num distante segundo lugar,
o Pará tem 10 portos fluviais incluídos no Orçamento. Há ainda um solitário porto para Rondônia, em Porto Velho.
Os outros Estados amazônicos (Amapá, Roraima e Acre),
igualmente dependentes dos
rios para transporte, ficarão este ano sem investimento na
construção de portos fluviais.
Também não há obras previstas para as outras bacias navegáveis do país: Paraguai (MT,
MS e PR), Nordeste (MA e PI),
São Francisco (MG, BA, PE e
SE), Tietê/Paraná (SP, PR e
SC), e Sul/Uruguai (SC e RS).
O Ministério dos Transportes afirmou, em nota, que não
há relação entre o privilégio dado ao Amazonas e os projetos
políticos de Nascimento.
Segundo a assessoria do ministro, "a decisão de aproveitar
o singular potencial hidroviário
do Estado é estratégica, concatenada com a diretriz de fortalecer este modal dentro do conjunto da matriz logística".
Numa região como a amazônica, em que estradas são escassas, os portos fluviais equivalem a rodoviárias. Toda cidade tem o seu terminal, por mais
velho e precário que seja.
Os terminais em projeto
substituirão estruturas já existentes. A previsão orçamentária de gastos com portos no
Amazonas em 2008 é de
R$ 97,66 milhões, bem à frente
da reservada para o Pará, de
R$ 11,36 milhões.
Pressão
"Há grande pressão, (...), pela
criação de condições de infra-estrutura fluvial na região amazônica. Disso depende o movimento de passageiros e a possibilidade de transporte de cargas", disse Mario Diniz de
Araújo Neto, do Departamento
de Geografia da Universidade
de Brasília, especialista em recursos hídricos.
Há um ano, o controle sobre
os portos fluviais foi objeto de
intensa disputa política entre o
PR e o PSB, dois partidos da base do governo.
O PSB, após muito pressionar Lula pela ampliação de seu
espaço no governo, conseguiu a
criação da Secretaria dos Portos, ocupando-a com Pedro
Britto, um afilhado do ex-ministro Ciro Gomes, de quem foi
secretário-executivo na pasta
da Integração Nacional.
Mas o PR, que tem em Nascimento um de seus principais
caciques, reagiu ao esvaziamento de seu ministério e conseguiu pelo menos manter os
portos fluviais. Em outras palavras, de acordo com o organograma do governo, se o porto fica no mar, é do PSB. Se fica em
rio, é do PR.
Segundo a Antaq (Agência
Nacional de Transportes Aquaviários), a bacia Amazônica,
que reúne os Estados da região
Norte (menos Tocantins), é a
de maior extensão de rios navegáveis, com 65% da malha
aquaviária brasileira.
Proporcionalmente ao tamanho, o Amazonas tem uma
"densidade hidrográfica" -divisão da extensão dos rios do
Estado pela área- pouco maior
que a do Pará, mas menor que a
de Acre, Roraima e Rondônia,
segundo ranking elaborado a
pedido da Folha pela ANA
(Agência Nacional de Águas).
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