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SOMBRA NO PLANALTO
Decisão de fechar as casas contraria os planos do próprio governo, que planejava legalizar esse jogo, que seria operado pela CEF
Pressionado, Lula proíbe bingo no país
Juca Varella/Folha Imagem
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado de sua mulher, Marisa Letícia, aparenta preocupação durante sua visita à fábrica de carrocerias de ônibus Marcopolo, localizada em Caxias do Sul |
GABRIELA ATHIAS
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Contrariando o que defendia
até hoje, o governo resolveu ontem editar medida provisória
proibindo a exploração de bingos
e de máquinas caça-níquel no
país. A medida é uma reação à crise gerada pela divulgação de vídeo no qual o ex-subchefe da Presidência Waldomiro Diniz pede
propina e dinheiro para campanhas a um empresário do bingo.
A fita foi gravada em 2002,
quando Waldomiro presidia a
Loterj (Loteria do Estado do Rio
de Janeiro) no governo Benedita
da Silva (PT). Com a posse de Lula
em 2003, Waldomiro passou a assessor de José Dirceu na Casa Civil, com quem já havia trabalhado
na Câmara dos Deputados e dividido apartamento em Brasília.
A Polícia Federal também fechou 16 bingos na madrugada de
ontem no Distrito Federal,
apreendendo cerca de 560 máquinas caça-níqueis na operação chamada "Cartão Vermelho". A PF
alega que a ação não tem relação
com o caso Waldomiro.
A MP seria assinada pelo presidente assim que chegasse de Caxias do Sul (RS), às 21h, na Base
Aérea de Brasília, para ser publicada na edição de hoje do "Diário
Oficial". Até a conclusão desta
edição, o texto não havia sido divulgado. A edição da MP torna inválidas as atuais licenças de funcionamento dos 1.100 bingos que
operam no Brasil, segundo a Associação Brasileira dos Bingos.
A maioria desses estabelecimentos funciona por meio de liminar. "O presidente determinou
a edição de uma medida provisória até que se faça uma discussão a
esse respeito no Congresso", disse
o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça).
A idéia de baixar a MP foi discutida em Brasília numa reunião da
qual participaram os ministros
Dirceu, Luiz Dulci (Secretaria Geral), Antonio Palocci Filho (Fazenda), Thomaz Bastos e o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). Por telefone, Lula
deu seu aval e mandou publicá-la.
Em discurso para 2.000 pessoas
na sede da indústria de carrocerias de ônibus Marcopolo, em Caxias do Sul (RS), Lula disse que
"não haverá nenhum problema
político que atrapalhe os passos
que o Brasil precisa dar".
"Quero dar uma informação
importante para vocês: não haverá nenhum indício que envolva
práticas ilícitas ou corrupção neste governo que não seja investigado até o fim", afirmou o presidente Lula ontem.
A respeito da eventual criação
de uma CPI, Lula afirmou:
"O Congresso tem toda a serenidade para decidir ou não por uma
CPI. Sou filho de uma mulher que
morreu aos 64 anos e que me dizia: "A única coisa que você não
pode perder nunca é o direito de
andar com a cabeça erguida e
olhar nos olhos dos outros". É esse
o grande patrimônio que tenho
na vida. Mas tenho muito cuidado
com isso, porque no Brasil se instituiu a cultura de que todo mundo é culpado até que provem contrário. Tenho outra cultura. Para
mim, todo mundo é inocente até
que se prove o contrário".
Thomaz Bastos informou que
se reuniu ontem com o superintendente da PF, Paulo Lacerda,
para que a polícia possa planejar a
operação nacional de fechamento
dos bingos, que deverá ocorrer
imediatamente após a publicação
da lei -ou seja, hoje.
A decisão de fechar os bingos
contraria os planos do próprio
governo, que planejava legalizar
esse tipo de jogo, analisando inclusive a hipótese de estatizá-lo.
Na mensagem que Lula enviou
na segunda-feira passada para a
abertura dos trabalhos legislativos deste ano, o governo diz: "A
legalização prevê a obtenção e a
disciplinação de fontes de recursos, como é o caso dos bingos, que
permitam ao governo financiar
projetos de inclusão social".
Um grupo de técnicos ligados à
Casa Civil estudou em 2003 uma
proposta para a regulamentação
dos bingos no Brasil, com a seguinte conclusão: bingos deveriam ser controlados pela União e
operados pela Caixa Econômica.
Em 2001, época em que era pré-candidato à Presidência, Lula disse ser a favor da legalização do jogo do bicho. A declaração foi dada
em um jantar com jornalistas.
Colaborou LÉO GERCHMANN, da
Agência Folha, em Caxias do Sul
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