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INVESTIGAÇÃO
De acordo com Ministério Público, documentos suíços comprovam que ex-prefeito teve uma conta em Zurique
Promotoria faz apreensão na casa do ex-prefeito Pitta
ROBERTO COSSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Promotoria de Justiça da Cidadania apreendeu ontem um
lap-top (computador portátil) na
casa do ex-prefeito paulistano
Celso Pitta. Segundo o Ministério
Público, a operação ocorreu porque a Suíça confirmou que Pitta
teve uma conta em Zurique.
Um grupo de 40 pessoas (formado por promotores, policiais,
oficiais de justiça e funcionários
do Ministério Público), coordenado pelo promotor Augusto
Rossini, também esteve ontem na
casa da doleira Rachelle Abade, e
nas empreiteiras OAS e Mendes
Júnior (dois endereços distintos).
Foram copiados arquivos de
computador e apreendidos papéis que poderiam comprovar a
realização de movimentações financeiras internacionais. Pitta e a
doleira não estavam em casa.
Segundo o promotor Silvio Antonio Marques, da Promotoria de
Justiça da Cidadania, houve busca
e apreensão nas empresas porque
elas "são acusadas de corromperem o ex-prefeito Celso Pitta".
Marques afirma que a construção da avenida Água Espraiada
(hoje chamada avenida Roberto
Marinho) custou R$ 800 milhões
e não poderia ter custado mais do
que R$ 250 milhões, na época.
A doleira Abade é apontada por
testemunhas como tendo sido
responsável pela remessa do dinheiro de Pitta para o exterior.
Conta
O promotor Marques diz que os
documentos enviados pela Suíça
"demonstram a existência da
conta [de Pitta], sem sombra de
dúvida", mas se recusa a exibi-los
porque, segundo as leis suíças, os
papéis só podem ser utilizados
para instruir processos judiciais.
Os extratos bancários da conta
de Pitta foram recebidos em 12 de
fevereiro pela 14ª Vara da Fazenda Pública e estão anexados ao
processo nº 053.02.025187-7, que
corre em segredo de Justiça.
A Folha apurou que os documentos demonstram a existência
de uma conta no Multi Commercial Bank de Zurique, aberta
quando Pitta era secretário de Finanças na gestão Paulo Maluf
(1993-1996) e fechada em 1999,
com saldo de US$ 1 milhão.
Segundo a reportagem apurou,
a conta está em nome da empresa
Cutty International Ltd., uma
"offshore" criada nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal
no Caribe. Os nome dos donos de
empresas "offshore" não ficam
registrados em nenhum lugar.
Mas, segundo a Folha apurou, o
banco indicou Pitta como beneficiário da conta e enviou ao Brasil
cópia de documentos pessoais do
ex-prefeito que compunham o cadastro da conta. A legislação suíça
exige que os bancos identifiquem
o beneficiário das contas abertas
em nome de empresas "offshore".
Investigação
Em 1996, antes de Pitta ter sido
eleito, a "Folha da Tarde" revelou
que ele havia sonegado imposto
de renda, porque gastou mais do
que declarou ter ganho. A Receita
Federal multou o então prefeito e
desde então a Promotoria de Justiça da Cidadania investiga a causa de seu enriquecimento.
Em 2002, a ex-mulher de Pitta,
Nicéa Camargo, declarou à Promotoria que o ex-prefeito foi titular de uma conta no Multi Commercial Bank de Zurique. Simeão
Damasceno de Oliveira, ex-funcionário da empreiteira Mendes
Júnior, também declarou que ele
recebeu 15% do custo das obras
da Água Espraiada.
Em setembro de 2002, a Promotoria abriu um processo contra
Pitta e obteve a expedição de uma
carta rogatória para a Suíça em junho do ano passado. Em dezembro, a Justiça suíça conseguiu as
informações no banco de Zurique
e remeteu os extratos ao Brasil.
Os documentos chegaram na
semana passada, mas, em virtude
do sigilo, a Promotoria se recusa a
dizer o saldo da conta, quando ela
foi aberta e fechada e o nome da
"offshore" -informações que foram apuradas pela reportagem.
A Promotoria também não diz
para onde foi transferido o dinheiro quando a conta foi encerrada. "Se descumprirmos as determinações do governo suíço,
não teremos acesso a outros extratos bancários que já foram pedidos, como os do ex-prefeito
Paulo Maluf", disse Marques. Maluf nega ter conta no exterior.
Processo
Com as informações da Suíça, a
Promotoria pretende ajuizar uma
ação de responsabilidade por ato
de improbidade administrativa
por enriquecimento ilícito contra
Pitta. As empreiteiras também
podem ser acusadas.
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