São Paulo, quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

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"É incompetência demais", critica Rainha

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No comando de uma onda de invasões em São Paulo, o líder do MST José Rainha Júnior, 46, disse ontem que as ações dos sem-terra tendem a aumentar caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não mude o comando do Ministério do Desenvolvimento Agrário, hoje nas mãos da tendência petista DS (Democracia Socialista).
"Se não houver uma mudança no ministério na qual chame os movimentos sociais e as forças do campo para apontar um caminho, eu não tenho dúvida de que haverá grandes mobilizações", afirmou Rainha, afastado das coordenações estadual e nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). "Estou na senzala, atuando apenas na base do movimento", disse.
O líder dos sem-terra falou à Folha, por telefone, do Pontal do Paranapanema (extremo oeste de São Paulo), onde organiza famílias de sem-terra em acampamentos e invasões. "Quem está produzindo fique dormindo sossegado, tanto no Brasil como em São Paulo."
Sobre o fato de responder em liberdade a condenações por porte ilegal de arma e formação de quadrilha, ele declara não temer uma nova ordem de prisão.
"Eu tenho medo de meus filhos serem arrastados na rua por um carro, no Rio de Janeiro ou aqui em Presidente Prudente. De resto, não tenho nenhum medo. O meu lugar não é na penitenciária, e sim no espaço de discussão", afirmou Rainha.
Segundo ele, as atuais ações no interior paulista também têm como foco a pressão ao governo do Estado. Ele afirma que uma eventual criminalização dos sem-terra apenas traria força ao movimento. "Espero que eles [o governador, José Serra, e o secretário da Justiça, Luiz Antonio Marrey] não tratem isso como uma questão policial, e sim como uma questão política e social. Porque, daqui a pouco, eles vão querer reprimir e criminalizar o movimento social e não vai adiantar. [Os problemas] só vão aumentar."
Quando o assunto é reforma agrária e política de assentamento, Rainha não poupa críticas ao Desenvolvimento Agrário e aos ministros Miguel Rossetto (que chefiou de janeiro de 2003 a março de 2006) e Guilherme Cassel (atual), ambos da DS do Rio Grande do Sul.
"Não tenho nada contra a DS, mas a verdade é que estamos sem ministro. Nos quatro anos, pouca coisa avançou. É preciso de ação política na reforma agrária. Precisa de competência. Coloque eu no ministério para ver se não resolvo isso rápido", afirma o líder do MST, que cobra de Lula uma solução.
"É preciso fazer mudanças, com gente que tenha perfil para o cargo. Cabe ao presidente Lula agilizar esse processo. Lá nada funciona, está tudo paralisado. O ministério não pode continuar como está, é incompetência demais", afirma. A Folha não conseguiu localizar integrantes do ministério ontem.


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