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HISTÓRIA
Embarcações têm nomes desconhecidos para a população
Nomes de navios brasileiros não refletem história do país
RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha
Quem quisesse entender o Brasil,
ou a história do país, através dos
nomes dos navios da Marinha, ficaria espantado com o resultado.
No Brasil, assim como em todo o
mundo, os nomes dos navios militares homenageiam personagens
históricos, cidades e Estados, ou
vultos da história naval.
Mas, dos 26 Estados da federação, há alguns que já foram nome
de navio várias vezes -como o recordista Amazonas, que já batizou
oito embarcações-, enquanto outros nunca foram, como Tocantins
e Mato Grosso do Sul (veja quadro
ao lado).
O Amazonas deve sua sorte a ter
sido esse o nome do navio-capitânia na batalha do Riachuelo (Guerra do Paraguai). Já os outros dois
Estados são ainda criação recente.
Mas, mesmo personagens importantes da história naval do país,
foram esquecidos -incluindo o
primeiro comandante da Marinha
e consolidador da própria independência do país, o escocês Lord
Cochrane-, enquanto obscuros
ministros do regime militar de 64
emprestam hoje seu nome a alguns
dos mais importantes navios da esquadra.
Um bom exemplo são as quatro
fragatas classe "Greenhalgh", adquiridas faz poucos anos ao Reino
Unido.
Não há problema com o nome da
classe, que homenageia o guarda-marinha João Guilherme Greenhalgh, morto aos 20 anos de idade
na batalha naval de Riachuelo, em
1865, impedindo a bandeira do
país de ser tomada pelos paraguaios que tinham abordado seu
navio.
Já as outras três fragatas têm nomes discutíveis, e mesmo dentro
da Marinha há críticas a eles: Bosísio, Dodsworth e Rademaker.
Quem foi Bosísio? "É uma pergunta legítima, pois ele era pouco
conhecido fora da Marinha", responde um dos principais historiadores navais do país, o almirante
Helio Leoncio Martins, um dos autores da história oficial da Marinha
e veterano da Segunda Guerra
Mundial. "Tratava-se de um oficial
distinto, brilhante", acrescenta
Leoncio.
Mas, se para a Marinha ele pode
ter sido um bom ministro, para o
resto do país Paulo Bosísio é conhecido por ter sido ministro durante alguns meses em 1965, quando colocou sua assinatura no Ato
Institucional número 2.
Já o almirante Augusto Hamann
Rademaker Gruenewald é mais conhecido. Depois de ser ministro da
Marinha no governo Arthur da
Costa e Silva, foi, em 1969, um dos
três membros da junta militar que
governou o país por alguns meses.
E o almirante Jorge Dodsworth
Martins foi ministro em 1946 no
governo de Eurico Dutra.
"O problema com esses nomes é
que eles são muito recentes. Nós,
que convivemos com eles, conhecemos seus defeitos", diz o almirante Leoncio.
Para o historiador, teria sido melhor batizar esses navios ex-britânicos com nomes de ilustres marinheiros desse país que ajudaram a
fundar a marinha brasileira após a
independência, vários deles se radicando no país. Além de Cochrane, são homens como John Pascoe
Grenfell, John Taylor e James Norton.
Segundo o Serviço de Relações
Públicas da Marinha, a escolha final do nome é prerrogativa do ministro da Marinha". Quem pode
auxiliar no processo é o Serviço de
Documentação, que cuida dos
subsídios históricos.
Desse modo, na década de 70,
uma classe de fragatas foi batizada
com nomes de navios famosos da
marinha imperial -"Niterói", "Defensora", "Constituição", "Liberal",
"Independência" e "União".
Leoncio foi o primeiro comandante do porta-aviões Minas Gerais, no final da década de 50. O nome foi uma homenagem oficiosa
ao presidente de então, o mineiro
Juscelino Kubitscheck. Com isso, o
Estado brasileiro sem litoral marítimo tornou-se o melhor homenageado da história, pois já tinha dado nome ao mais importante navio
da primeira metade do século, o
couraçado Minas Gerais.
Por obra da "política do café com
leite" da República Velha, que alternava mineiros e paulistas na
presidência, os dois couraçados
comprados em 1910 foram chamados Minas Gerais e São Paulo. Um
terceiro, que foi vendido à Turquia
ainda incompleto, se chamaria Rio
de Janeiro.
O primeiro Rio de Janeiro foi um
couraçado de 1866, afundado na
Guerra do Paraguai, e ainda lá esperando um resgate arqueológico.
Só um século depois, com um submarino incorporado em 1972, que
se voltou a ter uma embarcação
com esse nome na Marinha. O Rio
de Janeiro atual é um navio de desembarque-doca adquirido em
1991.
O nome São Paulo teve menos
sorte. O último com esse nome
continua sendo o couraçado de
1910, desativado na década de 50.
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