São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOMBRA NO PLANALTO

Presidente da GTech relata encontros com ex-assessor, mas diz que companhia não cedeu à pressão

Empresa diz que foi vítima de Waldomiro

FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente da GTech, Fernando Antônio de Castro Cardoso, disse ontem à CPI da Assembléia Legislativa do Rio que a empresa foi duas vezes "vítima" de Waldomiro Diniz, ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil: na renovação do contrato com a Caixa Econômica Federal, em 2003, e no edital da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro).
O edital teria sido modificado para favorecer a Combralog, consórcio representado pelo empresário do jogo Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que venceu a licitação, em 2002.
A CPI investiga a suposta participação de Waldomiro Diniz em fraudes na Loterj no período em que ele ocupou a presidência da autarquia, de fevereiro de 2001 a dezembro de 2002.
No depoimento, Cardoso afirmou que, na renovação do contrato com a CEF, "pessoas, ligadas ou não ao governo, tentaram vender facilidades num processo que estávamos conduzindo na maior idoneidade". Essas pessoas, citadas por ele, foram Waldomiro e o consultor Rogério Buratti, ex-secretário da Prefeitura de Ribeirão Preto na gestão do hoje ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Cardoso, que preside a multinacional desde outubro de 2003, relatou três encontros que teriam ocorrido entre Waldomiro e a direção da GTech nos primeiros meses de 2003.
Segundo ele, a renovação do contrato da GTech com a CEF para a exploração de loterias on-line foi assinada em 8 de abril, após dois anos de negociações.
O presidente disse que, no início de 2003, Waldomiro ligou insistentemente para diretores da GTech, porque queria uma reunião para tratar da relação da empresa com a CEF. Não foi atendido, disse Cardoso, porque a GTech não sabia que ele havia sido nomeado para a Casa Civil.

Cachoeira
Cachoeira, que mantinha parceria com a GTech desde 1997, teria então entrado em contato com executivos da empresa para informar que Waldomiro tinha um cargo influente no governo.
O encontro foi marcado, segundo o depoente. Cachoeira teria participado. Segundo Cardoso, na reunião, "Waldomiro sugeriu que Carlos Ramos era do meio e incentivou parcerias futuras".
A uma semana da assinatura do contrato, houve um segundo encontro, no qual, de acordo com Cardoso, Waldomiro informou que a empresa seria procurada "por alguém que teria ajudado nessas negociações".
Dias depois, Buratti teria procurado diretores da GTech e afirmado ter facilitado a renovação do contrato. Logo após desse episódio, Waldomiro marcou novo encontro com a diretoria, em que teria dito que Buratti deveria ser contratado pela empresa.
Cardoso disse que a GTech não cedeu às pressões de Waldomiro Diniz. Segundo ele, a documentação enviada pelo consultor à GTech não foi aprovada e, por isso, sua contratação foi vetada.

Outro lado
A Folha procurou ontem o advogado de Waldomiro Diniz, Luiz Guilherme Vieira, para comentar as declarações do presidente da GTech à CPI da Assembléia do Rio, mas ele não foi localizado até a conclusão desta edição.


Texto Anterior: Corrêa critica "falta de ação" de Lula
Próximo Texto: Elio Gaspari: A paixão da ruína pela catástrofe
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.