São Paulo, sábado, 21 de abril de 2007

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PF apura ligação de mais 3 juízes com máfia

Juíza de São Gonçalo, segundo a investigação, deu conta do pai para receber depósitos do policial civil Marcos Bretas

Relatório da PF também não descarta a possibilidade de a quadrilha ter utilizado o nome de magistrado como exploração de prestígio


LEONARDO SOUZA
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Três novos magistrados que não estão entre os 25 presos na Operação Hurricane são apontados pela Polícia Federal como suspeitos de terem colaborado com a quadrilha que negociava a venda de sentenças em favor de bingueiros e bicheiros.
Um deles chega a informar ao policial civil Marcos Bretas, identificado pela PF como a pessoa que fazia pagamentos indevidos a autoridades públicas em nome da cúpula das organização criminosa, a conta corrente de seu pai, para receber depósitos.
Trata-se de Sônia Maria Garcia, juíza da 4ª Vara de Família de São Gonçalo (RJ).
"Sônia diz que trabalhou no final de semana inteiro e que o carro dela está lotado de processo. Marcão [Bretas] diz: "É... você tem que apanhar "um" comigo". Sônia: "Ah, é... Ponha no do meu pai" [...]. Vou botar na do teu pai que eu acho que a Fátima tem, é do Unibanco. Sônia diz: [...] Você já fez lá, mas se você não conseguir, você me liga, então", informa o relatório da Polícia Federal.
Assim que desligaram, Bretas liga para a pessoa chamada Fátima e pede para que ela deposite "um" na conta "do pai da doutora Sônia".
A PF relata também o possível envolvimento do juiz federal da primeira instância de São Paulo Djalma Moreira Gomes com a máfia dos bingos.

"Vantagem indevida"
De acordo com a PF, não é possível descartar a possibilidade de a quadrilha ter usado o nome do juiz como exploração de prestígio, "apesar de as circunstâncias, os valores e os próprios diálogos travados entre os integrantes do grupo apontarem para a probabilidade de oferecimento de vantagem indevida diretamente ao magistrado".
O relatório reproduz a seguinte conversa entre duas pessoas ligadas à organização criminosa: "Oscar fala para ele [Sérgio] trazer suas seis casas que receberá 50.000.00 por casa. Explica que os outros 100 (provavelmente 150.000 por casa) tem que dividir com o juiz, que ficará com 70".
Preso juntamente com outras 24 pessoas na semana passada, o desembargador Ernesto Dória teria negociado com a quadrilha decisão que seria proferida pelo desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Celso Guedes.
A liminar concedida por Guedes saiu no sentido contrário do que havia sido negociado.
Percebe-se, no entanto, pela leitura da transcrição de um diálogo ocorrido entre os dois desembargadores, que Celso Guedes tinha pleno conhecimento da intenção de Dória, demonstrando surpresa ao não ter atendido aos interesses de seu colega.
"Guedes atende o telefone e Dória diz que houve uma confusão [...]. Guedes pergunta: "não tem valia, como assim?", diz que decisão de 1ª instância não pode dar isso porque aquilo não tem efeito suspensivo. Dória pergunta qual a forma deles darem uma saída nisso, diz que na forma que saiu o despacho não vai atender o cara [...]. Dória pergunta se pode pedir ao Algranti [advogado da quadrilha] para dar um pulo lá na segunda-feira no final da tarde. Guedes diz que explica pra ele".


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