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CHOQUE ENTRE PODERES
Nicolau dos Santos Neto presidia o TRT-SP quando foi aprovado contrato de construção de Fórum
CPI quebra sigilos de juiz aposentado
da Sucursal de Brasília
A CPI que investiga irregularidades no Judiciário decretou
ontem a quebra
dos sigilos bancário e telefônico e a indisponibilidade dos bens do juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto, ex-presidente do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) de São Paulo.
A comissão também decidiu
proibir o juiz de sair do Brasil, mas
não sabe se ele está no país ou não.
Até ontem, ele não havia sido encontrado para receber a intimação
da CPI, que aprovou anteontem
sua convocação.
Ele presidia o TRT-SP quando foi
assinado o contrato para construção do Fórum Trabalhista, um prédio inacabado que já gastou R$ 230
milhões de recursos públicos.
Além de Santos Neto, a comissão
quer ter acesso também às contas
bancárias e telefônicas da Incal
Alumínio e de sua subsidiária, Incal Incorporações, criada para
construir o Fórum Trabalhista.
Serão atingidos por essa investigação os sócios da empresa, Fábio
Monteiro de Barros Filho e José
Eduardo Corrêa Teixeira Ferraz,
presidente e diretor financeiro.
A CPI acelerou a investigação sobre Santos Neto depois de receber
da Procuradoria Geral da República em São Paulo cópia do depoimento de Marco Aurélio Gil de
Oliveira, ex-genro do juiz.
Ele declarou que Santos Neto
mantinha padrão de vida muito
superior ao que o salário de magistrado permitiria: viagens regulares
aos EUA em primeira classe, hospedagem em hotéis cinco estrelas
para toda a família, compra de carros importados e de um apartamento em Miami.
A CPI recebeu, de fonte não
identificada, uma série de documentos em inglês que, se verdadeiros, comprovariam que Santos Neto comprou o apartamento 3.201
do condomínio Bristol Tower, em
Miami, por US$ 800 mil.
A documentação mostra que o
apartamento está em nome da empresa Hillside Trading, que, por
sua vez, pertenceria a Santos Neto.
O primeiro passo da CPI será periciar as assinaturas, pois um dos papéis pode provar que o juiz é o dono da empresa.
Segundo esses documentos, a
venda do apartamento teria sido
intermediada por Fábio Monteiro
de Barros Filho, presidente da Incal Incorporações -a empresa
que ganhou o contrato para construção do Fórum Trabalhista sem
ter participado da concorrência.
O "dossiê Nicolau" inclui cópias
de duas faturas de compra de carros -um Porsche e uma Mercedes-Benz- que, segundo informações recebidas pela comissão,
estariam guardados na garagem
do apartamento de Miami.
A CPI também ouviu ontem a
presidente do Basa (Banco da
Amazônia S/A), Flora Valadares
Coelho, sobre a sentença que obriga o banco a pagar R$ 81 bilhões de
indenização a uma madeireira.
Em seu depoimento, ela deu informações técnicas sobre os procedimentos tomados pelo Basa para
defender-se do pagamento e recusou-se a fazer avaliação pessoal sobre o Judiciário local.
Outro lado
A reportagem telefonou para a
casa de Nicolau dos Santos Neto,
mas não conseguiu falar ele.
Paulo Guilherme de Mendonça
Lopes, seu advogado, enviou nota
à imprensa afirmando que a licitação para construção do prédio do
TRT-SP fora aprovada pelo Tribunal de Contas da União. O texto assinado pelo advogado diz ainda
que o Santos Neto aguarda a decisão da Justiça sobre o caso. Os responsáveis pela Incal não foram localizados.
(FLÁVIA DE LEON)
Colaborou a Reportagem Local
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