São Paulo, quarta, 21 de maio de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Gravações analisadas somam 17min43

dos enviados especiais

A perícia feita pela Unicamp analisou ao total 17 minutos e 43 segundos de falas de Ronivon Santiago e João Maia.
As falas estavam nas fitas que a Folha entregou à comissão de sindicância da Câmara dos Deputados que cuida do caso.
Elas chegaram nas mãos do chefe do Laboratório de Fonética Forense, Ricardo Molina, à 1h30 de sexta-feira passada.
Na manhã, o perito transcreveu a fita para um computador, passando por aparelhos de filtragem do som -que eliminam os ruídos.
"De forma geral, era uma fita muito boa, com qualidade acima da média das perícias. Em apenas um trecho havia baixa qualidade, mas isso foi resolvido com os filtros de som", disse Molina.
Clareadas de ruído, as fitas foram então passadas em um aparelho que as transcreve para a memória do computador.
Antes disso, porém, foram feitas as análises do tipo de fala levando em conta características regionais.
"No caso do João Maia, por exemplo, havia uma mistura de sotaques. Ele é de Santa Branca (interior de SP), trabalhou no Nordeste e se fixou no Acre. Isso dá trabalho em termos de análise", disse Molina.
Todas as comparações de voz foram feitas com três horas de material gravado com os dois deputados, enviados por meios de comunicação e pela Câmara. Havia entrevistas dos dois em várias ocasiões e discursos no plenário.
Aí entrou o computador. Escolheram-se palavras repetidas nas fitas e nas falas enviadas.
Impressionou os peritos a quantidade de vezes em que João Maia disse "dinheiro". Ronivon citou "Amazonino" várias vezes.
Depois, o computador faz uma série de análises. A mais importante chama-se análise espectrográfica, que tece o espectrograma -uma espécie de raio X da formação da voz.
A comparação dos espectrogramas de uma palavra em duas ou mais ocasiões é uma das principais provas de similaridade.
"Mas não é só, uma vez que os ruídos atrapalham e nunca um espectrograma é igual ao outro, mesmo sendo da mesma palavra", disse Molina.
Foram analisados também o ritmo da fala, na chamada curva de energia da expressão de uma palavra. Gráficos com a frequência fundamental da voz, algo como a definição do timbre de uma pessoa, foram essenciais.
No caso de João Maia, o fato de ele cometer falsetes ao falar, aliado a um fenômeno nas cordas vocais no qual o fim das frases sai trêmulo, foram definitivos para comprovar que era sua a voz das fitas.
Idiossincrasias como o uso do "é" continuamente durante a fala foram notadas e usadas como base de comparação.
As fitas que a Folha enviou a Molina continham 120 interrupções -referentes às vezes em que o "Senhor X" falava. Segundo o perito, isso não afetou a perícia. Foi constatado que houve gravação em vários locais.
Não houve gravação por telefone. Quando isso ocorre, o espectrograma indica que a frequência da conversa não ultrapassou os 3.500 hertz -no papel, o gráfico simplesmente ganha um "teto". Nas fitas da Folha, esse "teto" não existe.
Trabalharam também na perícia, que acabou após a madrugada de ontem inteira, os peritos Edson Nagle e Donato Pascoal Júnior.
(IG e EN)





Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1997 Empresa Folha da Manhã