São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POLÍTICA NO ESCURO

Oposição quer evitar que governo abafe denúncias de venda de informação contra ex-presidente do BC

Caso Marka ressuscita idéia de CPI mista

DA REPORTAGEM LOCAL

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os líderes dos partidos de oposição ao presidente Fernando Henrique Cardoso consideram inevitável a abertura de uma CPI para investigar a denúncia de que o ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes vendia informações privilegiadas para executivos de bancos de investimento. As negociações seriam de conhecimento do governo federal, que nada fez para punir Lopes.
O presidente em exercício do PT, deputado José Genoino (SP), e os líderes do partido na Câmara, Walter Pinheiro (BA), e no Senado, José Eduardo Dutra (SE), reúnem-se hoje, em Brasília, para decidir qual estratégia defenderão a fim de apurar as denúncias e evitar qualquer tentativa governista de abafar o caso. A bancada do PPS reúne-se amanhã.
O senador Eduardo Suplicy (SP) apresenta hoje um requerimento para que o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e a diretora de fiscalização do BC, Tereza Grossi, compereçam a sessão conjunta das comissões de Assuntos Econômicos e de Fiscalização e Controle do Senado para se explicar. Lopes era subordinado a Malan. Tereza participou da operação do governo de acobertar o empréstimo ao Banco Marka, de Salvatore Cacciola.
"Os fatos denunciadosm
são gravíssimos porque atingem o coração do governo, que é a equipe econômica", afirma Genoino. Os petistas avaliam que o ideal seria conseguir assinaturas para a instalação de uma CPI mista. Assim, não precisariam enfrentar a fila de comissões parlamentares de inquérito que existe na Câmara e driblariam a maior capacidade de controle do governo numa investigação conduzida somente por senadores. Pinheiro acredita que as novas denúncias podem levar à reedição da CPI da Corrupção, enterrada há dez dias pelo governo com a liberação para os deputados de R$ 80 milhões em emendas ao orçamento.
"Reduziríamos a lista de 19 itens a apurar, retirando aqueles penduricalhos colocados justamente para ter o apoio de Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e de Jader Barbalho (PMDB-PA)", diz Pinheiro. O encontro do PT será na casa de Pinheiro, às 20 horas. Por causa do racionamento de energia, as atividades no Congresso Nacional serão encerradas às 19 horas.
O PT vai propor uma reunião dos partidos de oposição ainda nesta terça-feira, às 11h, para definir uma ação conjunta. Além de PSB, PPS, PC do B e PDT, Genoino espera contar com parte do PMDB e PL. "Espero que haja sensatez na base aliada", diz. Os petistas esperam ainda aumentar a pressão sobre o governo com uma série de movimentos contra a corrupção, culminando com a reedição da marcha dos 100 mil, em Brasília, no dia 27 de junho.
Os três senadores e os 13 deputados do PPS discutirão as novas denúncias amanhã, no gabinete da liderança do partido no Senado. "Há fatos novos e gravíssimos", diz o líder do partido no Senado, Paulo Hartung (ES). Segundo o senador, nem nos bastidores da CPI dos Bancos se sabia da existência de fitas que incriminariam Francisco Lopes.
"A suposta chantagem ao ex-presidente do BC e a operação montada para abafar o caso também são novidade", afirma. Cauteloso, Hartung ressalta apenas que se as fitas tiverem sido produzidas por Cacciola, "é bom ficar com o pé atrás".
O ex-banqueiro Salvatore Cacciola, um dos beneficiários do esquema de venda de informações, teria grampeado Lopes, segundo a revista "Veja". Surpreendido pela desvalorização do real, em janeiro de 1999, teria ameaçado entregar as fitas que provariam o envolvimento do ex-presidente do BC caso não lhe fossem vendidos dólares por valor inferior ao de mercado para pagar os clientes de seu banco, o Marka. O socorro custou R$ 1 bilhão aos cofres públicos. Cacciola fugiu para a Itália.


Texto Anterior: Perfil: Saiba quem é o economista Francisco Lopes
Próximo Texto: Jader descarta reabertura de investigação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.