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PT X PT
Gravação de 87 exibe então deputado em campanha contra mudança na Previdência
Radicais divulgam vídeo de Lula contra reforma e Sarney
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sob a ameaça de expulsão de alguns de seus congressistas, a ala
mais radical do PT parte para o
ataque e adota uma estratégia de
impacto para demonstrar a metamorfose no discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A partir de hoje, serão divulgadas uma
fita de vídeo, um CD de áudio e
um livro.
O vídeo e o CD contêm um discurso de Lula em 6 de setembro
de 1987, em Aracaju, quando ele
defendia as propostas do PT para
a reforma da Constituição. Em 16
minutos e 8 segundos, Lula diz
que a TV Globo "não faz outra
coisa a não ser mentir" e que o então presidente da República, José
Sarney, era o "grande ladrão" do
país -esse ataque a Sarney é feito
de maneira indireta, mas muito
clara.
A íntegra da fala do hoje presidente está transcrita no livro "PT
Saudações" (edição do autor, o
ex-deputado estadual petista sergipano Marcelo Ribeiro), que será
lançado hoje em Aracaju, capital
de Sergipe.
Sobre a Previdência, as idéias de
Lula eram quase o oposto das de
hoje. Com barba mais longa que a
atual, o então deputado federal
pelo PT de São Paulo dizia que o
limite mínimo de idade proposto
para aposentadoria (48 anos para
mulheres e 53 anos para homens)
era ruim: "Eles querem criar o limite de idade para que a classe
trabalhadora morra antes de se
aposentar".
A Folha recebeu o material ontem por meio do deputado João
Fontes (PT-SE), que está sendo
ameaçado de ser retirado da Comissão de Constituição e Justiça
por ser contrário à reforma da
Previdência. "Divulgo esse material para esclarecer que defendo
hoje as mesmas posições que Lula
também defendeu", diz ele. Junto
com Fontes estava a deputada Luciana Genro (PT-RS), que apoiou
a divulgação.
Hoje, a TV Globo é elogiada pela cúpula petista. Depois de eleito,
Lula deu suas duas primeiras entrevistas exclusivas para o "Jornal
Nacional" e para o "Fantástico",
dois programas da emissora.
José Sarney (PMDB-AP) transformou-se num dos maiores aliados do petista no Congresso. Lula
ajudou Sarney a ser eleito presidente do Senado neste ano. O maranhense, que se elege pelo Amapá, é o grande avalista da entrada
do PMDB, seu partido, na base de
apoio lulista.
E a proposta de reforma da Previdência enviada por Lula ao
Congresso é mais rigorosa do que
a combatida por ele em 1987. Propõe limites mínimos de idade
muito superiores: 60 para os homens e 55 anos para as mulheres
que estão no serviço público.
Assistir ao vídeo de Lula em 87 é
impactante. A transcrição de suas
declarações dá uma idéia desse
impacto. A seguir, alguns trechos:
Sobre a TV Globo: "Nós somos
um país aonde [sic] a história é
contada pela Rede Globo de televisão porque o senhor Roberto
Marinho não faz outra coisa a não
ser mentir para o povo".
Sobre José Sarney: "A Nova República é pior do que a velha, porque antigamente na Velha República era o militar que vinha na televisão e falava, e hoje o militar
não precisa mais falar porque o
Sarney fala pelos militares ou os
militares falam pelo Sarney. Nós
sabemos que antigamente -antigamente, os mais jovens não conhecem-, mas antigamente se
dizia que o Adhemar de Barros
era ladrão, que o Maluf era ladrão.
Pois bem: Adhemar de Barros e
Maluf poderiam ser ladrão [sic],
mas eles são trombadinhas perto
do grande ladrão que é o governante da Nova República, perto
dos assaltos que se faz".
A Nova República é o período
iniciado com a posse de José Sarney como presidente da República, em 1985, depois da morte de
Tancredo Neves (que morreu antes de assumir a Presidência).
Os políticos citados por Lula são
o ex-governador de São Paulo
Adhemar de Barros (1901-1969) e
o ex-prefeito paulistano e ex-governador paulista Paulo Maluf.
Hoje, o PP, partido de Maluf, conhecido adversário de Lula e dos
petistas, ensaia a adesão oficial à
base governista no Congresso.
Ouça hoje trechos do discurso do presidente
Lula em www.folha.com.br/031392 e
www.uol.com.br/fernandorodrigues
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